Já disse em alguns comentários: dormi muito pouco esta noite, nem quatro horas. E já é, outra vez, muito tarde, já passa da uma da manhã. Estou acordada há muitas horas, tive um dia cheio de reuniões, um dia mesmo muito intenso. Por isso, não sei de nada do que se passa no mundo. De manhã ouvi na rádio que os burocratas do eurogrupo chegaram a acordo quanto à Grécia. Patético. Esmifram as pessoas até à exaustão, austeridade e mais austeridade, pobres gregos, sem autonomia, sem soberania, impedidos de criar riqueza. Depois, como não conseguem pagar a dívida, deixam-nos meses em suspenso, damos-lhes o dinheiro já ou fazêmo-los sofrer mais um bocadinho...? E fazem sofrer sempre mais um bocadinho. Acho isto mórbido. Irrita-me. Que cinismo, que abuso. São os mesmos, os que dão e os que negoceiam que esse dinheiro é para que os gregos lhes paguem a eles que o dão. Toma lá, dá cá. É esta a história grotesca destas sessões patéticas dos burocratas europeus, gente sem visão, sem dimensão, gente mesquinha, convencida que é dona do mundo, gente que não se lembra que é mortal. Anunciam isto como uma grande coisa, como uma benesse. Parece uma esmola. Mas claro que não é. É o que devia ter sido desde que a crise estalou, uma dívida a amortizar em prazos razoáveis e com juros justos.
No entanto, claro que isto são boas notícias para Portugal. Peca por tardio, quando vier, mas antes agora que nunca. Mas, meus caros, o que se tem que ver é em que condições virá essa 'esmola'. Que condições irão impor? Porque irão impor condições, não tenhamos dúvidas.
Mas, enfim, pouco mais sei do que isto.
Hoje, no trabalho, tive um dia tramado, já vos disse.
Depois, por volta das sete da tarde (da noite, melhor dizendo), cheguei a casa da minha filha. Estava sozinha com os miúdos pois os reforços só chegavam por volta das onze. Por isso, até essa hora, lá estivemos.
Para começar, cortei os cabelos aos rapazes. Tenho ideia de que já aqui vos contei que gosto imenso de cortar cabelo. Corto o meu, o do meu marido, o da minha filha, o dos meninos pequeninos (... meninos e menina, aos três; ao bebé ainda não comecei, ainda só tem uma penugem). Ou seja, por enquanto, o meu mercado cinge-se a este pequeno grupo, reconheço que ainda é restrito. Mas tenho uma particularidade: faço domicílios.
Por isso, pouco depois de ter chegado, ali estavam eles, sentadinhos na cadeira, e eu de pente e tesoura, corta, corta.
Ao mais crescidinho, antes, cortava com máquina mas a que eu usava habitualmente avariou e a nova não é de fiar. Na última vez que lhe cortei o cabelo, a coisa não saíu perfeita. Por isso, hoje foi todo à tesoura e que cabelo forte e denso que ele tem. Mas ficou bem.
O ex-bebé ainda tem pouco cabelo e é um cabelo mais fino mas haviam de ver, sempre irrequieto até mais não poder, fica em transe quando lhe mexem na cabeça e, portanto, enquanto lhe corto o cabelo fica ali sentado, muito quieto, deliciado.
O ex-bebé ainda tem pouco cabelo e é um cabelo mais fino mas haviam de ver, sempre irrequieto até mais não poder, fica em transe quando lhe mexem na cabeça e, portanto, enquanto lhe corto o cabelo fica ali sentado, muito quieto, deliciado.
Isto de gostar de cortar cabelo e de pentear deve ser uma coisa genética. Desde pequena que tenho este gosto, queria ser cabeleireira. Uma das minhas primas é a mesma coisa, também corta o cabelo à família. O meu tio tem o cabelo liso e, apesar disso, anda sempre com o cabelinho aparado que é uma beleza. É médica esta minha prima, trabalha num hospital e numa clínica que é dela, trabalha que se farta, e, no entanto, arranja tempo para cortar o cabelo à família.
Bom, retomando. Depois do corte de cabelos, fiz o jantar, massa com carne à bolonhesa (coisa simples e de agrado garantido junto de miúdos), enquanto a minha filha e o meu marido se ocupavam dos banhos dos pimentinhas, agora de cabelinho curto, à escovinha.
Depois de jantar estivemos na brincadeira com os miúdos, uns pândegos, uma risota pegada. Como estava com sono, estive meia refastelada num grande puff e a minha filha veio pôr-se deitada ao meu lado e eu estive a fazer-lhe tranças. Como tem farta cabeleira, fiz-lhe bem uma dúzia de tranças, quase uma rasta. No fim, já com o joão pestana, os miúdos vieram também deitar-se em cima de mim ou ao meu lado. Ainda estive a ler um livro de histórias que metia astronautas; até que apareceu um que flutuava no espaço e aí apareceram as perguntas, o que é flutuar no espaço? porque é que ele flutuava no espaço?, etc. Lá lhe expliquei o conceito de força da gravidade e acabei por me comprometer a desencantar um vídeo sobre isso para pôr no meu blogue infantil, Historinhas da Tá. Já não o actualizo há séculos, as crianças andam a ver as mesmas coisas há meses.
E pronto, mal chegou o reforço, lá viemos para casa. E aqui estou, perdida de sono.
Por isso, meus amigos, hoje não dá para mais do que isso. Podia oferecer-me para vos ir cortar o cabelo mas, por enquanto, tenho pouco tempo livre, não quero ainda expandir essa actividade.
PS: Disse-me a minha filha que gostou de ler o meu texto sobre o meu 25 de Novembro, disse que se reviu um bocado nas minhas palavras. Eu não vos disse que os meus filhos saem à mãe? (Quanto ao pai, neste particular, continua a ser uma incógnita. Ainda hoje, quando a conversa veio à baila, chutou para canto com a agilidade do costume: 'Lá vem outra vez a mesma conversa, tem sempre que acabar aí' e pronto, ponto final. Também não insisto, quero lá eu saber.)
*
E, assim sendo, só me resta despedir-me. Tenham um belo dia, está bem?
14 comentários:
Gosto tanto dos seus textos. Do seu amor por tudo. Vida, família, lugares, viagens, autores, livros, filmes, actores, até dos tapetes, como os lava(li esse texto e também faço assim) e conserva e de tudo em geral que vai fazendo. Como é que consegue? Eu também fazia "arraiolos", fiquei farta e cheia de tapetes. Pintei coisas lindas para a minha loja, que vendi, imensos quadros, que no dia a seguir trocava por uma jóia, comprada em segunda mão,em lojas que já nem vendem assim, porque o ouro, se tornou "exportação", porque o ganho a declarar tinha, quanto a mim,de se transformar numa coisa que eu gostasse muito e não podia, de modo algum, ser considerado lucro para a loja ou impostos a pagar ao Estado. Eram coisas minhas.Sei quando olho para cada uma dessas coisas,o quadro que vendi. Até tenho fotografias com uma nota ao lado. Que o Gaspar não me oiça, mas se ouvir, quero que se lixe. Aliás, quero que se lixem todos. Já não dá para pensar com nenhum respeito pelo que se passa no país. Deixei de respeitar qualquer autoridade. E acho bem que todos façam o mesmo. Depois do que aconteceu hoje, estou numa de desobediência, civil, fiscal,tudo. Porque já fui feliz, e não permito que me retirem a capacidade de o continuar a ser, com o que consiga realizar. Por pouco que seja. Já me bastam a enormidade dos IMIs martelados e todos errados, em metros quadrados, datas de construção, Licença de habitação. Rendas. Pronto, já desabafei, apesar de amanhã nada ter mudado no país, a não ser para pior.
Um abraço, grande, pelo que escreve e partilha.
TBM
Olá Amiga,
Hoje ri-me bastante com o seu post,realmente depois de um dia cansativo de trabalho, ainda faz domicílios na vertente cabeleireira!!
Muito divertido mesmo!
Eu em tempos, quando o meu filho era um "pimentinha" como os nossos, são agora, tive uma experiência dessas, mas correu muito mal. No dia seguinte a educadora até se assustou com o cabelo da criança...teve de passar algum tempo para aquilo se recompôr!
Com este, não me atrevo, nem eu, nem a mãe, só fica sossegado na cadeira da cabeleireira. Foi lá há pouco tempo, parece um homenzinho, já não tem os caracóis da foto.
Deixe que lhe diga, a sua energia é realmente extraordinária.
Um abraço grande por todas as boas energias que nos transmite.
P.S. No 25 de Novembro de 1975, eu estava na R. de S.José, no edifício mesmo ao lado do elevador do Lavra.
MCP
... e já é tanto
A canalha anda à solta
Bj
Os gregos e as suas desgraças - sim, porque é disso que se trata! - e o desrespeito com que são tratados por uns senhores, os tais que se julgam donos do mundo.
E nós? Nós, na calha, nós os próximos a ser beneficiados(?) com muitas umas esmolinhas, qual balão de oxigénio dos moribundos.
Mas, e se me permite, o que me enterneceu foi o serão.
Que delícia de serão! Que maravilha estar rodeada por todos os que ama.
Só uma questão. Aceita mais clientes para corte de cabelo, ou tem a agenda preenchida?
A sua escrita prende, do principio ao fim, por uma razão aparentemente simples: não se trata de escrita, mas de um filme que passa diante dos nossos olhos.
Que poder descritivo, cara UJM!
Beijinho, e por favor, veja se descansa.
Olá,
Mais um belo texto, um relato de uma tarde bem passada na companhia da família, em que meteu corte de cabelo, ao domicílio...Que Esposa, Mãe e Avó tão multifacetada! Feliz a família que tem um membro no seu seio com tantas potencialidades!
Tem alegria de viver, é muito positiva e gosta de patilhar com os outros os seus conhecimentos, cultura, etc.etc. e com uma simplicidade sem preconceitos de qualquer natureza, é naturalmente natural...
Gostei imenso.
Um beijinho grande e vá-nos alegrando com a sua energia e alegria de viver!
ME
Olá TBM,
Que bom vê-la por cá. Espero que esteja tudo bem consigo e com os seus.
Compreendo a sua revolta. Eu também estou furiosa com a incompetência e burrice que tomou conta disto tudo. Fico perplexa como é que perante coisas tão estúpidas não há quem não se erga para impedir uma coisa destas.
Adiante.
Carpetes e carpetes, tapetes e tapetes. O que vale é que arranjei onde os pôr. Com os quadros, tenho um armário cheio, cheio de telas. E outras estão nas paredes, outras dei.
Às vezes na brincadeira digo que quem sabe se um dia, quando for muito velha ou já cá não estiver, os meus herdeiros não vão ganhar bom dinheiro com o que forem desencantando feito por mim.
Como é que consigo? Também não sei bem. Acho que não perco tempo a pensar antes de fazer. É como aqui a escrever. Não penso antes de escrever. Sento-me e desato a escrever. Não penso se está bem, se vão gostar, etc. Faço, simplesmente. A pintar também é assim, não preparo, não perco tempo, ponho-me à frente da tela e desato a pintar.
Provavelmente se fosse mais ponderada, mais perfeccionista, as coisas ficariam melhor. Assim é meia bola e força.
Percebo bem o que diz quando transformava o produto do seu trabalho num objecto para si. Eu nunca vendi nada feito por mim mas acho que se vendesse faria exactamente a mesma coisa.
E continue a pintar e a escrever aqui ou noutro sítio porque escreve muito bem e, por favor, não deixe de ser feliz. Tem direito a isso.
Um grande abraço e muita saúde e felicidade!
Olá MCP,
ficam tão lindos os rapazinhos quando se lhes corta o cabelinho. Eu aos meus corto porque escusam de ir à cabeleireira, porque lhes sai mais barato e porque eu gosto. e à minha filha que tem uma cabeleira grande, forte...? Que gosto tenho de lhe meter a tesoura e cortar, escadear, desbastar... No fim fica um monte que dá para encher uma almofada...
No verão, com a máquina nova, o meu mais crescidinho ficou com umas zonas mais rapadas que outras, a máquina é incerta, não gosto. O que valeu é que foi no verão e o cabelo estava curtinho, disfarçou...
O seu, com aquele ar maroto, deve ter ficado giríssimo.
No 25 de Novembro estava, então, mesmo cá na Baixa. Isso era uma sorte, não havia melhor sítio.
Um beijinho, MCP e muito obrigada pelas suas palavras.
Olá Caro Eufrázio Filipe,
Agradeço as suas palavras.
Não sei se já reparou que renomeei o seu Mar Arável, sendo aqui na minha galeria de ilustres o 'Por este rio acima'. Espero que goste.
Gosto muito do Seixal, é uma terra especial. Quando os meus filhos eram pequenos gostava de ir com eles passear para lá, a beira do rio é linda.
Desejo-lhe um bom dia!
Caro Puma,
Apicultor? Li bem? É de verdade isso? Um apicultor no Seixal que dá pelo nome de Puma... Acho isso fantástico. Com o meu gosto por ficcionar, já me dá vontade de inventar uma história com um apicultor nas margens do Tejo ou na beira do oceano.
De resto, percebo e concordo com o seu comentário.
Obrigada, Puma!
Olá GL,
Fico muito contente que o que escrevo seja fácil de ler e de visualizar. Escrevo de corrida, sem pensar, como se estivesse a conversar convosco. Ainda bem que consigo transmitir de forma clara o que penso.
Ontem foi mesmo muito agradável. Mas é sempre. Hoje foi a mesma coisa mas, desta vez, na casa do meu filho. A minha nora a amamentar o bebé, a minha princezinha toda decidida e muito feminina, o meu filho tão bom pai e bom marido, um ambiente muito caloroso, muito agradável.
O único senão disto é que acabo por chegar a casa muito tarde. Depois, dois dias por semana tenho fisioterapia depois do trabalho, sessões de mais de 2 horas. Ou seja, por uma razão ou por outra nunca consigo estar em casa a horas decentes.
Mas, enfim, não me queixo de nada. Sou uma sortuda e muito agradecida por isso.
Um beijinho, GL!
Olá Maria Eduardo,
Sabe o que é? Não me acho nada de especial. Mas é que não me acho mesmo. E tenho a sorte de o meu marido e filhos (e nora e genro também) ser tudo gente do mesmo género, gente simples, nada de vaidades. E isso é um descanso porque não queremos parecer o que não somos, nem fingir, nem 'armar', nem nada. E isso facilita tudo, somos como somos e mais nada.
E, por sorte, é gente com bom humor, descomplicada. Juntamo-nos e desatamos a conversar, na boa, bom ambiente.
Por isso, quando aqui estou, sou também assim, igual a mim mesma. Estou aqui como se estivesse a conversar convosco, entre amigos.
Agradeço muito as suas palavras.
Um beijinho!
Eu aceito o corte de cabelo!
Cortei-o há umas duas semanas. Tinha demasiado comprido e feio, porque está fraquíssimo - stress, diz o médico. Cortei-o num corte novo e não gosto. É uma coisa que gostava de saber: cortar o meu cabelo. Odeio, mas odeio mesmo, ir à cabeleireira. Trato mal o meu cabelo.
Adorei a sua história!
Não sei como consegue arranjar energia para tanta coisa. Invejo-a! A sério!
Um beijinho
Olá Isabel,
Se morasse aqui perto, pode crer que ia dar um jeito. Gosto imenso de olhar para o rosto e para o estilo e imaginar o penteado que melhor favorece. Tapar ou disfarçar os brancos, fazer umas nuances, fazer um corte à frente que funcione como uma franja solta, talvez escadear ligeiramente nos lados para dar algum movimento. Eu fazia isso.
Ajudar com os cabelos, ajudar a escolher roupas. A minha filha, volta e meia, quer que eu vá com ela escolher roupa e eu gosto muito. Escolho-lhe toilettes que lhe ficam mesmo bem, ainda no outro dia, veio das compras com coisas modernas, giras.
Agora à distância, tenho pena mas pouca ajuda posso dar. Mas tenho pena.
Um beijinho, Isabel.
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