quarta-feira, novembro 28, 2012

Entrevista de Passos Coelho na TVI: Judite de Sousa (de ponto em fino) e José Alberto Carvalho ambos muito bem mas com algum défice de conhecimentos matemáticos que teriam dado jeito. Mas esses conhecimentos davam mesmo jeito era ao Primeiro Ministro. Para além disso, ficámos a saber que este Governo não é um corpo cheio de feridas e com marcas. Irrelevante ele ter dito isso pois, com a votação relativa ao OE 2013, comprovámos que o CDS é mesmo um partido de betinhos, alguns com boas ideias mas incapazes de ser coerentes, uns betinhos birrentos e pouco mais. Por isso, tem razão o PPC quando dá a entender que não farão mossa na coligação.


Apanhei a entrevista a meio. Judite de Sousa com um penteado espectacular, sorriso inalterável, não deixou o agastado Pedro pôr o pé em ramo verde. José Alberto Carvalho muito directo, conseguiu manter também inalterável o seu ar afável mesmo quando perguntou a Passos Coelho se chegaríamos vivos ao fim disto, e esteve também bem.

Passos Coelho tentou afivelar o sorriso que o ajudou a ganhar as eleições e disfarçou razoavelmente a irritação que o comia por dentro. Mas isso é o menos.

O pior é que todo o raciocínio de Passos Coelho enferma de um grave vício de raciocínio - e aqui é que lamentei que a competente dupla de entrevistadores não tivesse tido a agilidade para o confrontar com uma evidência aritmética elementar.

Quando ele refere que o peso do estado social tem vindo a aumentar face ao PIB, nomeadamente quando disse que o peso das pensões sociais tinha subido de 8 para 13% (salvo erro) e, a seguir, desenvolveu o raciocínio como se isso tivesse ficado a dever-se a um deboche total, os velhinhos tivessem ficado a receber dinheiro à brava, os desempregados tivessem desatado a receber fortunas, etc. E concluíu que, por isso, tinha que se avançar para cortes, os tais 4.000.000 (quatro mil milhões) de euros.

Ora o Pedro pode ter jeito para fazer queijadas mas é um desastre a pensar, especialmente quando o pensamento requer alguma análise dos factos.

Passo a explicar: um rácio, como o própria palavra indica, resulta da divisão de um número por outro. Por facilidade de exemplificação, suponhamos que antes gastava 8 em pensões sociais e que o PIB era 100. Ou seja, tínhamos um peso de 8%. Suponhamos agora que a economia vem por aí abaixo e que o PIB cai para 90. Só por isso, sem que ninguém recebesse mais um cêntimo, já o rácio subiria para 8,9% (=8/90). Mas pensemos bem: se a economia cai, haverá mais desemprego. Havendo mais desemprego, haverá mais gente a receber subsídio de desemprego. Ou seja, provavelmente em vez de 8, gastaria 9. E, portanto, o rácio dispararia para 10% (=9/90). E assim sucessivamente.

Ou seja, quanto mais a economia cai, mais tudo fica insustentável. Por mais que corte, nunca vai ser suficiente - e isto porque o motor passa a ser a queda da economia pois estamos a ter um denominador cada vez menor, o que faz com que o resultado da divisão seja cada vez maior, sempre vais desfavorável.

Com estas políticas, o inteligente Passos Coelho e o seu séquito de incompetentes vão fazer com que descontemos fortunas para os impostos para depois termos também que pagar o ensino público e a saúde, para que os desempregados tenham cada vez menos protecção, para que os reformados se vejam escandalosamente roubados, para que os doentes fiquem em casa sem dinheiro para se tratar.

Enquanto estes estúpidos não perceberem que estão a ver o filme ao contrário, iremos de mal a pior.

Enquanto os deputados não perceberem que devem lealdade a quem os elegeu e não às máquinas partidárias que são uma fábrica e um armazém de incompetência, iremos de mal a pior.

Tomara que mandem a porcaria que é o OE 2013 para o Tribunal Constitucional para ver se isto se resolve de alguma maneira.  

O que é urgente é impedir que a economia pare de cair, o que é urgente é estimular o crescimento. Tem que reduzir o peso dos custos sociais sim, mas aumentando a economia, aumentando o denominador!

Claro que se deve também reduzir o peso dos juros, aliviar o ritmo de amortizações, deve mil outras coisas. Claro! Deve fazer isso e não o tem feito. Mas, sobretudo, urgente mesmo é pôr a economia a crescer. E, para isso, tem que haver dinheiro a circular e confiança nos agentes económicos. Não pode secar a economia, extraindo o dinheiro às famílias e às empresas para lhe dar sumiço.

Apre!

Falar disto chateia-me mesmo. Como é possível que aquela tropa fandanga não perceba isto?!

E o Paulo Portas não tem brio, orgulho? Admite ser desvalorizado e ultrapassado desta maneira? Depois de tudo isto e depois da forma como Passos Coelho secundariza (e com razão) a sua posição no Governo, achará que alguém ainda acredita nele e o respeita? Não se sentirá humilhado? Não consigo perceber. Há coisas que me transcendem e esta é uma delas.

Bom, vou parar por aqui e vou responder aos comentários e vou até ao meu Ginjal a ver se me alieno um bocado. A vida de verdade, neste momento, em Portugal, é uma chatice muito grande.

6 comentários:

JOAQUIM CASTILHO disse...

PPC no seu melhor, que é o pior para o País. Claro que o jovem estarola tem poucas ideias e limita-se a repetir o que o Gasparlento lhe consegui incutir numa subserviência à Senhora Merkel e às ideias vigentes no conservadorismo Europeu.
Sobre o Gasparlento eu tenho uma ideia pouco mansa: o distinto economista é um psicopata ou um génio, embora eu me incline mais para a primeira hipotese. A inexpressividade constante do seu olhar , as afirmações desgarradas e tontas que faz na Assembleia da Reública: " o povo português é o melhor do Mundo" por ex., a forma infantil e superlenta com que se expressa podem ser sintomas de um certo desarranjo mental que não sendo, muito possivelmente, grave sob o ponto de vista clínico está a dar cabo do país!

Não há nenhum psiquiatra que pronuncie???

Muito a propósito desta entrevista a Carta Aberta hoje publicada:

http://www.publico.pt/politica/noticia/carta-aberta-a-passos-coelho-1575450

Um abraço


jrd disse...

Esta gente cultiva a mentira e o embuste e creio mesmo que atingiu um estádio em que é a sua e da pandilha sobrevivências que quer preservar, tudo o resto, como a dignidade ou o respeito pelos eleitores , não passa de um acessório.

Um Jeito Manso disse...

Olá Caro Joaquim Castilho,

Já me fartei de rir com o seu comentário e estive aqui a ler em voz alta para não ser só eu a rir.

Também me parece que o Gasparlento-não-acerta-uma (essa do gasparlento é boa!) deve ser um psicopata. Construíu uma realidade virtual e não vê paar além disso. Volta e meia parece que fica com os olhos revirados e pensar não se sabe bem ou quê.

E a população a pagar e a desgraçar-se para ir alimentando a doidice deste sujeito.

E o Passos Coelho é um tonto, um leviano, diz coisas à toa, depois recua, depois outros desmentem-no, é uma vergonha, um amadorismo, uma prova de incompetência.

Já li a carta mas tudo isto está um tal pântano, que tudo é ineficaz. Não sei como é que saímos disto. A minha esperança ainda é a mesma: que entre eles desatem à estalada e que desistam, que vão para Angola ou para a Colômbia ou para a China.

Um abraço, Joaquim Castilho!

Um Jeito Manso disse...

jrd, é isso mesmo.

Eles não sabem o que se passa de facto à volta deles, vivem fugidos, isolados do mundo. Um só vê folhas de cálculo, outro anda sempre agarrado ao telefone, o negócio dele são os contactos, e o PPC anda aos bonés, a atirar ideias peregrinas para o ar.

Uma tristeza, uma vergonha. Acho que é impossível que isto dure muito tempo mas o facto é que o tempo passa e eles aqui continuam, a dar cabo do país.

Um abraço, jrd.

Bartolomeu disse...

Exactamente!
Mais urgente e producente, é fazer parar a queda da economia e, a par sesse exercício, reduzir as despesas dos orgãos governamentais, julgar e condenar todos aqueles que se aproveitaram das posições que ocupavam para desfalcar o estado e fazelos restituir o dinheiro. Talvez assim, os poucos que ainda têm fôlego para investir na economia do país, encontrassem motivos para o fazer.

Um Jeito Manso disse...

Olá Bartolomeu,

Não entendo como é que esta gente persiste na burrice que está em curso. subtrair dinheiro às pessoas, é subtrair dinheiro da economia e, sem este dinheiro a economia paralisa. E com a economia paralisada não há receitas fiscais que aguentem o peso dos encargos. Como é que, perante este desastre, estes fulanos continuam a insistir na mesma receita e cada vez em dose mais reforçada?

Como é que vamos ver-nos livres desta praga que nos caíu em cima, não me diz...?

Eu sei que não podemos desesperar mas onde está a luz, agora que nos atiraram para dentro de um poço?