quinta-feira, novembro 15, 2012

Passos Coelho diz que Portugal é um caso de sucesso, que estamos no bom caminho, que alcançámos em ano e meio o que se esperaria alcançar apenas em seis anos (a sério que ele disse isto!). Mas Cavaco Silva, que agora voltou a aparecer, diz que a situação é insustentável, pior do que ele esperava e que a Europa vai ter que nos ajudar. Gaspar, por seu lado, diz que as previsões são para falhar e que não anda aqui para ver se acerta ou se não acerta, tem mais que fazer. Ou seja, para o Gaspar, o que for soará (e que se lixem as pessoas, coisa que não faz parte dos modelos dele). Mas, se me permitem, deixem que vos conte um sonho que tive. E, a seguir, desenvolvo uma teoria da conspiração de que se ouve falar por aí. Rui Rio e Rui Moreira constituiriam a dupla de Ruis com a qual Cavaco Silva estaria a contar.



A noite passada tive um sonho do além. Não me lembro já de como era ele fisicamente pelo que não sei se sonhei com alguém muito conhecido ou com algum desconhecido. Por isso, vou referir-me a ele como 'sujeito'.

Sonhei que um certo sujeito ouviu dizer que é de bom tom ter dentes brancos e resistentes. Com espírito de bom aluno, perguntou numa arredondada e pouco precisa forma de expressão: para pôr uma coisa branca como poderei eu, em tempo, conseguir? Alguém, não sabendo bem a que se referia ele, disse-lhe como é. Uma pinguinha de lixívia mas coisa muito pouca, dissolvida em água. A outros perguntou: para no corpo humano tornar uma coisa mais dura como poderemos nós, em tempo, conseguir? Quem ouviu, espantou-se com a desabrida pergunta e, entredentes, referiu umas pílulas azuis. Mas um assessor de imagem atalhou que não era nada disso, ora essa, senão ainda falavam que o sujeito estava com cabelo fraco e que a fraqueza já tinha alastrado a outras partes do corpo.  Responderam-lhe então que, se a zona corporal era outra, talvez o assunto se resolvesse com cálcio. Mas, desgraça das desgraças, a pessoa em causa tinha alguns défices de conhecimento, pelo que perguntou: na natureza, ou, até, no reino animal, vegetal ou, mesmo, mineral, ou, até, em qualquer outra localidade, onde poderei eu o cálcio encontrar? Alguém lhe falou em cascas de ovo ou pedras da calçada, das de calcário (não das de granito, explicaram-lhe).

Determinado e voluntarista, o sujeito em causa pensou que, em vez de fazer o tratamento com vagar, mais valia era despachar logo o assunto de uma vez. E, então, todos os dias, passou a beber, de penalti, um copo de lixívia pura e, ao passar por uma rua empedrada, à socapa, arrancava uma pedra, mandava britá-la e engolia as pequenas pedras como se fossem comprimidos.

Claro que a coisa não correu bem mas, no meu sonho, esse tal sujeito diz assim, estou no caminho certo mas os resultados não são os esperados. Ou melhor, o que vocês precisam de saber é que os resultados são os que esperávamos, embora não sejam tão bons quanto gostávamos. Por isso, vou ter que reforçar o tratamento, vou ter que o fazer também mais rapidamente: dois copos de lixívia de cada vez e pedras de manhã, ao almoço e ao jantar. Os meus dentes serão os mais fortes e brancos da Europa, um case study. Só devia ter os dentes tão brancos e tão fortes ao fim de seis anos e afinal, ao fim de ano e meio, estou como me vêem, numa forma invejável, os dois dentes quase transparentes e rijos que dá gosto.

No meu sonho, quem o via - esgalgado, esquelético, boca queimada, em ferida, já só com dois ou três dentes, vergado de dores pelas pedras que se acumulam nos rins, na bexiga, na vesícula, e em tudo o que é sítio - dizia que o homem estava nas últimas.

No meu sonho as pessoas tentavam explicar-lhe que de nada valem os dois dentes brancos (que acabarão por cair) se o resto estiver a cair de podre. Mas ele não percebia isso. No meu sonho o sujeito era burro, burro, burro, não tinha compreensão para coisa nenhuma.

O que vale é que era apenas um sonho. Na vida real não há, certamente, burros destes.

+


Criatura que descobri na net, identidade não reconhecida
(a fonte da fotografia também é não identificada)

+

Hoje também ouvi na rádio Cavaco a dizer que no princípio de 2010 já tinha feito um aviso, já tinha alertado, e que, portanto, não viessem agora dizer que não avisou.

Boa! Se há dois anos avisou, então já podemos estar descansados.

Mas disse também que a coisa aqui está preta, que a situação é insustentável, explosiva, que tem que haver políticas de crescimento e que a Europa tem que ter compreensão pelas agruras pelas quais estamos a passar. Menos mal ter dito isso. Vamos ver é se, uma vez mais, não são palavras sem quaisquer consequências.

+

Mudo agora de registo para falar mais a sério e para reflectir um pouco sobre o período sabático ao qual Cavaco se tem remetido. Tenho ouvido as mais variadas explicações, algumas bem desagradáveis.

Mas também pode acontecer que esteja, de facto, a preparar uma alternativa. Soa que pode ser isso.


Cavaco Silva e Rui Rio
Será que, em breve, vamos ter notícias desta amizade?



Soa que pode estar a preparar-se para lançar o Rui Rio como primeiro ministro de um governo que substitua este, já que Passos Coelho tem manifestado total incapacidade para o cargo e que já não há, nem nos parceiros sociais, nem nos outros partidos, nem sequer nos da própria coligação, PSD incluído, quem o apoie. Soa que Rui Moreira, muito crítico também deste Governo, pode estar a preparar-se para se candidatar ao Porto. Se assim for, derrotará facilmente Luís Filipe Menezes. Sendo assim, Rui Rio teria caminho livre para aceitar um desafio que está à sua altura. Com um perfil de bom gestor, seguindo uma linha de social democracia normal (leia-se: defende o País, tem noções concretas do que é a economia e de como as finanças e a economia se influenciam mutuamente, defende o Estado Social e preocupa-se com as pessoas), Rui Rio teria boas probabilidades de ser aceite pelos partidos da coligação. Como se sabe, António José Seguro já disse que não aceitaria um Governo ‘presidencial’ e é também sabido que o PS não está desejando ir já para o Governo. Assim, sendo um Governo formado por figuras da maioria eleita, e sendo encabeçado por pessoas competentes, sérias e bem formadas, talvez a coisa passasse sem grande ruído e talvez este estado agonizante em que o país se encontra pudesse ser revertido.

*

Não me despeço já porque me estava a apetecer ainda  transcrever um pequeno excerto (não digo o que é...!).

Em princípio até já! - e digo 'em princípio' porque ainda tenho os comentários para responder e não sei se chego ao fim ainda acordada.

6 comentários:

jrd disse...

Nem sei como comentar. Mas vindo do Cavaco, porque não o Valentim Loureiro e o Pinto da Costa se ambos «os dois» têm semelhanças e diferenças nas mesmas áreas?

:)

Um Jeito Manso disse...

A esta hora, já perdida de sono, ainda me conseguiu arrancar uma gargalhada...! Boa!

MCP disse...

Olá Amiga,
Fiquei fascinada com o seu "sonho"!
Adequa-se tão bem ao momento que se vive neste nosso país...(será que foi sonho mesmo?)é que existem mesmo, por aí, burros destes!!!
Adorei o tapete de arraiolos. Em tempos também fiz um, mas muito simples, este seu, é uma autêntica obra de arte.
Os livros, gosto muito. Estou a fazer uma selecção dos que aqui apresenta para, quando possível, e como bem diz, antes que nos cortem mais uma fatia,adquirir alguns.
Um grande abraço e bom fim de semana, apesar de chuvoso...
MCP

Maria Eduardo disse...

Olá,
Mas que sonho tão curioso, em que estádio do sono seria?...Temos que indagar junto da Dra. Teresa Paiva, para ajudar a decifrá-lo!
Gostei muito da sua imaginação, é sempre com muito prazer que sigo os seus escritos. Obrigada pelos bons bocadinhos que me proporciona.
Um grande beijinho
ME

Um Jeito Manso disse...

Olá MCP,

Ouço e vejo coisas que só podem ser feitas por burros. A sério: gente com dois dedos de cabeça não faria burrices de tamanho calibre.

O país a derrapar à força toda para um buraco de onde vai ser muito difícil cair, e os senhores do governo não percebem que têm que mudar de políticas.

É aflitivo.

Quanto à minha carpete, tal como respondi à Leitora Maria Eduardo no post anterior, fiz já muitas, todas de desenhos miúdos, com muitas curvas e contracurvas, com muitas cores, seguindo à risca o modelo de origem. Enquanto as fazia, estava abstraída de tudo, tal a concentração que tinha que ter para não me enganar.

Agora, com isto de estar aqui a escrever, não tenho feito. Mas tenho saudades. De vez em quando faço um bocadinho. Mas para fazer uma carpete são precisas muitas, muitas horas de trabalho pelo que só com muita disciplina os conseguia fazer. Não funciona se for para fazer umas linhas de mês a mês.

Quanto aos livros, são outra paixão. Desde pequena que sou leitora compulsiva. Tenho pena de não ter tempo para ler tudo o que queria. Mas, enfim, não se pode ter tudo, não é?

Um beijinho, MCP!

Um Jeito Manso disse...

Olá Maria Eduardo,

De vez em quando dá-me para a paródia, para o gozo, para inventar histórias. Divirto-me a mim própria. Depois tenho que voltar atrás e apagar os excessos que cometi... para os meus leitores não ficarem chocados com a minha imaginação...!


Um beijinho, Maria Eduardo!