quarta-feira, outubro 31, 2012

Lídia, a mulher que era tão triste, confessa o seu segredo e, um dia depois, toma uma decisão





*

Foram jantar com Sara que os levou a um restaurante pequeno, simpático, a bons preços. Sara, muito animada, falou das aulas, do ambiente na universidade, da cidade, dos amigos e toda ela ria, gesticulava, os olhos brilhantes de juventude e esperança. Lídia ouvia-a, encantada. O contacto com a juventude, que bom, que arejamento de cabeça, e que sorte esta, de, enquanto estudante, poder estar num país estrangeiro, à solta, à descoberta. Disse-lhe isso mesmo, Não sei se sabe que tem muita sorte em poder estar aqui, aproveite muito bem, é muito bom. Eu nunca pude sair de casa, sempre constrangida, sempre vigiada, e, às tantas, já era eu própria cheia de medos. A minha vida teria sido toda tão diferente se eu tivesse podido ter a sorte que a Sara está a ter.  Sara sorriu e fez uma festa na mão de Paulo, Eu sei, estou muito agradecida aqui ao paizão, foi ele que incentivou, que eu nem queria muito, foi ele que andou atrás de mim e eu sei o que isso lhe custa. Depois carinhosamente beijou a mão do pai. Paulo fez-lhe uma festa na cabeça.

Lídia sentia-se envolvida por esta ternura tão física, tão verbalizada. Era algo a que nunca estivera habituada, sempre tanta secura, tanta austeridade, sempre um tom de reprovação no ar.  

Depois de jantar, apareceram uns quantos amigos de Sara que a foram buscar no meio da maior paródia e ela lá se foi, brincando, Está aqui uma chave, Lídia, pode entrar à hora que quiser e, se não quiser, também pode dormir fora… e piscou o olho ao pai.

Quando saíram, Lídia respirou fundo, pousou as mãos em cima da mesa, e, lentamente, pesadamente, começou a falar. Qualquer coisa, eram as vizinhas, tu não sabes mas elas estão sempre à espreita, era olha lá o que vai dizer a tua tia, ou era a tua avó se sabe, vê lá o que vão dizer. Cada rapaz para que eu olhava tinha defeitos, é uma gente que não tem onde cair morta, é uma gente que não presta, ele vê-se mesmo que é um valdevinos, quer-se é aproveitar de ti, era isto, aquilo e o outro. E os anos foram passando. Já lhe contei isto. Mas quero explicar. 




Paulo viu como ela estava transtornada, tentou atalhar, Mas se lhe custa falar disso, para que é isto agora? O que lá vai, lá vai. Vamos mas é falar de coisas mais agradáveis.

Mas Lídia tinha que lhe contar. Sei que estou a ser maçadora, mas quero falar, tenho que lhe contar. E continuou, Se eu falava mais com alguém tinha que ser às escondidas para ela não pôr defeitos. O meu pai era um pouco melhor mas tinha medo dela, não abria a boca para me defender. Por isso, não foi por opção minha. Eu sonhava que me haveria de casar. Fiz enxoval, a minha mãe quis que eu tivesse um bom enxoval, dizia que ninguém podia pôr defeito. Tenho uma arca cheia de lençóis bordados, ponto richelieu, ponto pé de flor, outros com grandes barras de renda, renda fina, linha 20 que é quase como linha, fazia ela e fazia também eu, uma dor de cabeça fazer rendas assim, uma trabalheira, toalhas de mesa de linho com aplicações, jogos de casa de banho, tantas coisas, coisas que já não se usam, coisas que nunca foram usadas, coisas que eu tinha ali preparadas para um dia. Sonhava que me havia de casar, pela igreja, vestida de noiva com véu, um bouquet na mão. Mas nunca calhou, eu também andava sempre agarrada a eles, se queria sair com alguma amiga lá vinha ela, essa já está falada, tem uma linda fama, andas com ela, ficas falada como ela. Se eu a contrariava punha-se doente ou fingia, sei lá, fazia-se de vítima, quase não falava, o meu pai logo de roda dela e a olhar-me com ar de censura. Nem sei bem explicar. Passou um mês e outro e outro e agora tenho quase cinquenta anos e não sei como se passou todo este tempo e eu assim. Comecei a ter vergonha, já lhe contei. Como se tivesse defeito, alguém que nunca ninguém quis.

Falava em voz cada vez mais baixa e as lágrimas caiam-lhe lentamente pelo rosto.

Depois, com muito esforço, concluiu, Ainda sou virgem, Paulo. E baixou os olhos, tanta a vergonha. Não viu, portanto, que Paulo teve um quase imperceptível sobressalto. Mas logo se recompôs, Paulo é um homem habituado a tudo, não se haveria de aguentar com coisa tão inocente? Com ternura, passou as costas da mão pelo rosto de Lídia, limpando as lágrimas. Depois segurou-lhe as mãos, tomou-as entre as suas e beijou-as. Guardou-se para mim, portanto…. E sorriu. Lídia levantou os olhos e tentou perceber o que realmente pensava Paulo. Um homem talvez goste de desvirginar uma jovem mulher. Agora uma quase cinquentona…? Até ela, pondo-se no papel de homem, percebe. E o medo que ela tem, medo, medo da atrapalhação, medo, vergonha - e o constrangimento que isso deve para um homem, lidar com uma mulher entrada a portar-se como uma menina, credo. 

Mas Paulo, se pensava isso, disfarçava muito bem. Mas, então, minha senhora, quando vamos nós tratar disso…?, ar brincalhão.

Lídia sorriu, já mais tranquila. Não sei, Paulo. E não se ria... Tenho medo. Sei que é um absurdo o que vou dizer mas…. acho que ainda não estou pronta… e ela própria sorriu, percebendo o ridículo da hesitação.

Não está pronta mas vai ficar, ora essa. Seria muito incompetente eu se não fosse capaz de tratar do assunto, ora essa, mas Lídia percebeu que ele se estava a esforçar por soar natural, percebeu que Paulo não estava, de facto, muito à vontade com a situação. Sentiu de novo aquela sua velha vergonha, era como se fosse imprestável, produto de refugo, toda a gente conhece o amor e ela não, as colegas falam naturalmente das noites que passam com os namorados, toda a gente conhece o que são os segredos da cama, as viúvas, as casadas, toda a gente tem experiência menos ela, a rejeitada. Contudo Paulo, cavalheiro e gentil, não se atrapalha com imprevistos destes, com quantos imprevistos e situações delicadas está ele mais que habituado a lidar, e diz Mas as coisas só são quando tiverem que ser, não tenho pressa. Quando for, quero que seja porque é da vontade dos dois. E não tenha medo que não é caso disso, mas Lídia sentia que a voz dele tinha perdido um pouco da firmeza habitual.

Algum tempo depois, Lídia disse que queria ir andando, que estava cansada, que ainda queria ligar outra vez a Nita, queria saber como estava a mãe. Paulo levou-a ao apartamento das miúdas. Despediram-se mas era como se fizessem alguma cerimónia.

O dia seguinte amanheceu cedo. Lídia sentia-se mais leve. Ligou para casa. Nita assegurou-lhe que estava tudo bem, que não precisava de estar sempre a ligar, que se divertisse, e acrescentou, Olhe, ainda agora já me fartei de rir com a sua mãe, imagine que disse que tinha passado a noite no truca-truca com o cunhado. Lídia respondeu, Ah sim? Com o cunhado? Sai-se com cada uma... O médico disse-me que é comum estes doentes terem conversas deste tipo. Ao princípio fazia-me impressão... e ainda me faz um bocado. Mas, enfim, a gente vai-se habituando a estes disparates. Lídia combinou que ligaria, de novo, à noite.

Estava mais frio e Sara colocou um gorro na cabeça de Lídia, embrulhou-lhe o pescoço com um lenço às cores, e Lídia, quando se viu ao espelho, quase não reconheceu a mulher jovem bonita que a olhava de frente. Riu.




Sara levou-os ao Vondelpark, um parque muito calmo, lindo, atapetado de dourado, grandes árvores, magníficas árvores.




E a água, sempre a água, e aquela paz.




Sentaram-se um pouco, olhando aquela natureza tão doce. Paulo, disse então:

                                  Quando, Lídia, vier o nosso outono
                                  com o inverno que há nele, reservemos
                                  um pensamento, não para a futura
                                  Primavera, que é de outrem,
                                  nem para o estio, de quem somos mortos,
                                  senão para o que fica do que passa
                                  O amarelo actual que as folhas vivem
                                  e as torna diferentes.

Lídia sorriu, deleitada. Não conhecia. Ainda Ricardo Reis?, perguntou. Paulo sorriu, Sou um pessoano...

Sara soltou uma gargalhada. Boa, paizão! Bom aluno, o meu paizão. E que jeito tem para dizer poesia, quem diria? O senhor agente da autoridade já pode declamar poesia quando for prender os marginais… Boa!

Paulo explicou. Eu gosto muito de poesia, é verdade, e então perguntei a Sara se havia poemas dedicados a alguma Lídia e ela enviou-me estes. Decorei-os para impressionar, confesso… Sim, que um homem faz qualquer coisa para agradar a uma miúda…

Lídia riu-se com a alegria cúmplice daqueles dois.

A seguir, Sara, brincalhona, colocou-se a meio dos dois e deu um braço a cada um. E ali foram os três, na maior alegria.

Depois foram andar de barco pelos canais, Têm que vir, têm mesmo, é lindo, tinha Sara insistido e eles, claro, fizeram-lhe a vontade..




Uma hora a andar por canais estreitos, debaixo de pontes, ao lado de casas que mergulham na água, depois até o porto onde entram os navios que vêm do mar do Norte, depois mesmo junto às belas moradias dos gentlemen, e os cisnes deslizando junto a eles. Tempos felizes, pensava Lídia, tempos tão felizes, meu Deus.




Lídia ouviu a explicação de que quase todas as casas têm um pequeno guindaste no topo porque, como Amesterdão sempre teve um problema de área disponível, as casas de habitação eram todas muito estreitas, pagavam imposto em função da largura e, então, as escadas eram tão estreitas que as mobílias tinham (e têm) que ser içadas pela janela.




Lídia soltava exclamações de admiração, Sara chamava-lhes a atenção, olhem ali, já viram?, olhem, reparem e Lídia pensava que queria que estes dias fossem eternos, que sempre os guardaria no seu coração. E Paulo olhava enternecido as suas duas meninas.

À tarde, Sara disse que tinha que ir fazer uns trabalhos com uns colegas mas que lhes aconselhava o Van Gogh. Paulo e Lídia acharam muito bem e adoraram.




Quando saíram, Lídia queixava-se um pouco dos pés. Paulo disse, Acho que faz bem pôr os pés de molho em água quente. O meu hotel não é nada de jeito mas, se quiser, eu trato-lhe dos pés. Lídia hesitou. Não disse nada e andaram um bocado em silêncio.

Depois, mais à frente, Lídia deu o braço a Paulo, encostou a cabeça no seu ombro e disse, Parece-me bem. Passado um pouco, estavam os dois a entrar no quarto de Paulo.


*

Natalie Merchant interpreta, em cima, Nowhere Man. 

*

Caso ainda vos apeteça continuar, um pouco mais, na minha companhia, é com todo o gosto que vos convido a virem comigo até ao meu Ginjal e Lisboa. Hoje as minhas palavras pairam assustadas muito longe da longínqua utopia em que, afinal, vivia e juntam-se à gaivota de que fala Manuel Alegre no Cais das Colunas.  A música é o lamento de uma ninfa, tal como o sonhou Monteverdi.

*

E, por hoje, por aqui, nada mais. Apenas desejar-vos uma bela quarta feira, com muita saúde e boa disposição!


19 comentários:

Anónimo disse...

Olá!
Cá vou seguindo com imensa curiosidade o romance de Lídia e Paulo (muito bem escrito), que como disse jrd, tudo parece indicar ir acabar num final feliz. Já de garoto preferia finais felizes. Talvez porque na vida nem sempre é assim.
Quanto ás fotos dos parques que aqui nos deixa, fazem-me lembrar telas de impressionistas. Encantaram-me!
Um resto de bom dia!
P.Rufino

Anónimo disse...

Querida jeitinho,
obrigada por tornar esta estória, numa narrativa cheia de esperança.
Estou a gostar tanto, porque nos transmite fé, esperança, que quando menos esperamos tudo pode mudar para melhor e não para pior como aconteçe neste momento no nosso país.
Obrigada
Beijinho Ana

Maria disse...

Amiga:
Tão doce este amor nascente! Quem inventou, que há idade marcada para amar?
Lídia vai ser feliz. Melhor dizendo, vai ter momentos felizes, como todos nós. São esses que ajudam, nos tempos maus.
Querida Lídia: arranja uma bonita lingerie. Espero que te dê jeito.
Felicidades, querida.
Amiga: dê à Lídia tudo o que merece. Umas gotas de Chanel nº5, talvez.
Abraço grande para as duas
Mary

jrd disse...

Ainda tenho esperança de saber que o par foi celebrar a "primeira noite" num daqueles magníficos restaurantes indonésios perto da Dam Platz.
Como diria Pessoa: Todas as cartas, neste caso, histórias, de amor são ridículas. No bom sentido da palavra.

Abraço

A Matéria dos Livros disse...

A sua ideia de levar Lídia e Paulo para Amesterdão, e com eles partilhar a alegria do seu passeio, surpreendeu-me e enterneceu-me. Excelente ideia, e muito generosa!

Espero que Lídia conheça um pouco da alegria de viver, que não devia estar vedada a nínguém. Nem a tristeza devia ser motivo de vergonha, relagada lá para os alçapões secretos. A culpa e a vergonha são sentimentos muito negativos, que podem destruir vidas. Deviam ensinar-nos que não os devemos deixar crescer, devem ficar da altura da erva rasteira, apenas o suficiente para suavizar o terreno...

O seu texto (pricipalmente a reacção de Paulo ao "segredo") deixou-me a pensar: por que razão é a idade tão importante? Até que ponto este dado condiciona a nossa relação com os outros e o entendimento/aceitação do mundo? Afinal não é só o envelhecimento que assombra, parece; e porquê a surpresa de Paulo? Não era evidente?

Um beijinho

Bom feriado!

Anónimo disse...

Olá,

Também eu estou à espera de um final feliz para estes 'lonely hearts'.

Concordo plenamente com o leitor P.Rufino quando diz que algumas das suas fotos parecem quadros impressionistas.

E Amesterdão é lindíssima!

Abracinho,

Antonieta

Olinda Melo disse...


Boa noite, UJM

Todas as fotografias que aqui nos traz são lindíssimas, bem enquadradas e a ilustrar muito bem as suas palavras. As três primeiras parecem-me autênticas pinturas. Aliás todas as suas fotografias, desta série e dos outros posts, mostram esse seu lado artístico.
A evolução de Lídia é deveras gratificante para nós que a temos seguido desde o princípio. Rodeada de gente que gosta dela, em especial Paulo, sente-se confiante ao ponto de contar o seu segredo, algo que a estigmatizava, intimamente. Também Paulo está um bocado assustado, mas da forma como gosta de Lídia, ele ultrapassará este imprevisto...

Paulo, Pessoano, gostei.

Beijinhos

Olinda



JOAQUIM CASTILHO disse...

Olá!

Não interessa qual o fim da história, quero apenas dizer-lhe que é um verdadeiro prazer ler o que vai escrevendo mansamente e ilustrando com umas belíssimas fotos. O que interessa é o prazer de "agora" do seu relato, esse prazer ficará para sempre com ou sem um final "feliz" para a Lídia!

Um abraço

Isabel disse...


Tudo caminha para um final feliz.
Oxalá que assim seja.
Belíssimas fotografias.
Um beijinho

Um Jeito Manso disse...

Olá P. Rufino,

Muito obrigada pela gentileza das suas palavras.

Aqueles quatro dias foram dias de puro impressionismo. Talvez daí, algumas das fotografias que fiz.

Quanto às histórias com final feliz, o que eu acho é que temos que lutar pelo lado bom da vida, temos que pôr de lado as coisas pequenas que atrapalham a harmonias e, depois, temos que dar valor aos momentos felizes.

Por isso eu faço sempre para que as histórias tenham um final feliz mas, no entanto, tenho que dizer que o final de uma história é apenas um momento na vida dos personagens.

Lídia e Paulo podem entender-se, ser meigos, compreensivos eisso pode ser considerado um fim feliz. Mas sei que a seguir vão passar por momentos difíceis, vão passar por dissabores, desentender-se, perder a paciência um para o outro. Mas isso não interessa, isso passa. Espero que eles pensem como eu e que saibam aproveitar o encontro de destinos que a vida lhes proporciona.

Uma boa sexta feira, P. Rufino!

Um Jeito Manso disse...

Olá Ana,

Conheço pessoas que conseguem ter uma atitude forte e positiva apesar das duras circunstâncias da sua vida. E conheço outras que se deixam cair, que ficam prostradas e afogadas nas dificuldades da sua vida.

Claro que cada situação é um caso e as circunstâncias são sempre mais vastas do que o que está à vista pois têm a ver com o passado, com a família, com os amigos. Uma pessoa sozinha, atravessando dificuldades, terá sempre maior dificuldade em ir em frente.

O que tento aqui é transmitir a ideia de que é importante falar, estabelecer laços, pedir ajuda, procurar tratamento.

Tento também transmitir a ideia que a sorte muda e que pode mudar para melhor. É preciso é estar disponível e atento para perceber quando a ocasião acontecer, e, nessa altura, se for caso disso, aproveitar.

A vida pode ser sempre melhor.

Um beijinho, Ana, e muito obrigada pelas suas palavras.

Um Jeito Manso disse...

Olá Mary,

Ontem, quando li o seu comentário, fartei-me de rir.

Ontem à noite estive a fazer baby sitting e hoje tive a maltinha toda cá em casa. Por isso, só agora consegui pegar no computador. Mas achei a ideia da lingerie e do Nº5 uma bela ideia. São, de facto, ingredientes infalíveis.

Quanto ao que diz mais, concordo plenamente consigo: amor, paixão, arrebatamento, enamoramento, são coisas que acontecem em todas as idades. Assim as pessoas se predisponham a isso e não se sintam velhas por dentro.

E também concordo que a felicidade não é uma coisa em contínuo. São momentos. São instantes que perduram depois na memória e que fazem tornam menos pesados os momentos menos bons.

Um abraço meu e receba também um grande abraço da sua amiga Lídia.

Um Jeito Manso disse...

Oh jrd, então e agora é que me fala desses maravilhosos restaurantes indonésios...? Não dei por eles. Por isso, a nível de restaurantes de outras paragens, por aquelas bandas, ficámo-nos por um argentino e outro etíope, óptimo!!!!!!, um bocadinho mais afastado. Tivémos que comer à mão mas, enfim, os petiscos valeram...

Mas fica registada a dica para uma próxima vez.

Obrigada, jrd e um abraço!

Um Jeito Manso disse...

Olá Leitora de A matéria dos Livros,

Os seus comentários dão sempre alguma luta, gosto deles, deixam-me a pensar.

Quanto à culpa e à vergonha, concordo com o que diz. Eu não baptizei os meus filhos nem andaram na catequese pois acho que a educação religiosa incute nas crianças o sentimento de culpa que, em minha opinião, é castrador e, muitas vezes, injustificado. Acho que há no país um sentimento pequenino de inveja, de censura, de vigilância da vida dos outros que faz tolher quem seja de se deixar tolher e, que, incute vergonhas em quem se sente observado e 'espiolhado'.

Penso que muitas pessoas são inibidas a todos os níveis por causa desses 'travões' que lhes foram inculcados logo a partir da infância.

Quanto à idade, penso também que a idade é um factor de inibição para os próprios, para os que se acham ultrapassados pela vida. Acredito que um homem e uma mulher são interessantes e atraentes em todas as fases da sua vida. Claro que falo por mim, e falo também muito influenciada pela minha experiência pessoal. Tenho quatro netos e a minha idade e a minha condição de avó não retira nem um milímetro de feminilidade, sensualidade, gosto pela vida à minha maneira de ser.

Uma mulher de quarenta e tal, cinquenta e tal, sessenta o que for, pode despertar tanto encantamento num homem (e vice-versa) como uma jovem de vinte. Claro que o 'público alvo' muda e os valores também. A sedução, o enamoramento, etc, são coisas essencialmente mentais. Se uma mulher (ou homem) se sentir viva, atraente, com vontade de seduzir, de certeza que os outros (ou aquele que desperta interesse) vão sentir isso, vão ser sensíveis a isso - e a idade é relegada para secundaríssimo plano.

Quanto à virgindade e à reacção de Paulo. Penso que Paulo, sendo homem muito vivido, muito habituado a vivências variadas, habituado a mulheres vividas, não lhe tinha ocorrido que Lídia nunca tivesse tido nenhuma relação sexual. Sabia que ela nunca tinha casado mas, se calhar, admitia que os namoros não tinham dado certo mas que, alguns teria tido, e que, em algum deles, por muita púdica que tivesse sido a relação, alguma vez poderia ter acontecido uma relação sexual. Não sei. Se calhar até pensou que isso tivesse acontecido mas, depois, pensava que, se calhar, mesmo que muito esporadicamente isso poderia ter acontecido.

Penso também que, quando teve a confirmação, ficou um pouco receoso, com algum medo de não ter a gentileza suficiente para 'resolver' a situação, com medo que ela se desiludisse, que não fosse tão bom como ela pudesse ter imaginado, com medo que a coisa não corresse bem à primeira..., não sei. Os homens têm fragilidades que não devem ser subestimadas...

Vamos ver como corre.

Um beijinho, Leitora e obrigada!

Um Jeito Manso disse...

Olá Antonieta,

Eu estou é com pena de ter que encerrar o capítulo Amesterdão pois foram quatro dias tão bem vividos que me deram 'matéria' para tanta conversa e tantas fotografias... Os tons dourados de Outono dão sempre fotografias muito suaves, especialmente quando há água e árvores.

Tenho aqui um pequeno corvo a passear no parque, sobre uma relva coberta de folhas de outono que é uma pena não vos mostrar. Paciência.

A história de Lídia e de Paulo está a chegar ao fim e o que eu desejo é que seja uma história que ajude a transmitir esperança a toda a gente, especialmente aos mais solitários e tristes.

Muito obrigada pelo incentivo e um beijinho, Antonieta!

Um Jeito Manso disse...

Olá Olinda,

Gosto de poesia e gosto de homens que sabem dizer poesia, o que é coisa um bocado rara. Mas, como tudo o que é raro, homens assim são preciosos.

Acho ainda mais graça quando a situação é imprevista. Não dizem que o Pinto da Costa é um excelente diseur de poesia? Diziam até que foi assim, declamando, que uma vez conquistou a Maria Elisa. Não sei se é verdade, se não, mas tem graça.

Apeteceu-me pôr o Paulo - homem forte, solidário, polícia, cuidador de terra aos fins de semana - a dizer Fernando Pessoa.

Que mulher não se sente agradada com um homem a dizer-lhe poesia? E ainda mais sendo poemas dirigidas a alguém com o mesmo nome... E ainda mais sendo poesia de Fernando Pessoa... Não revela isso uma imensa ternura de Paulo por Lídia? Não revela que é um homem que sabe amar e seduzir uma mulher? E não merece a Lídia um homem assim, sensível, carinhoso?

Por isso, dou-lhe razão, Olinda, Paulo é o homem certo para ultrapassar com honra e dintinção a situação que o deixou um bocado apreensivo.

Muito obrigada pelas suas palavras, Olinda, e um beijinho!

Um Jeito Manso disse...

Olá Joaquim Castilho,

Concordo plenamente consigo. O importante é o momento. A vida é uma sucessão de momentos. Tomara que haja muitos momentos bons, momentos doces, de harmonia e carinho. Isso é o que importa. Como disse numa resposta lá mais acima, o 'final' é um momento. Se for mau, pode, no futuro, ser revertido. Se for bom, tem que se zelar por ele pois não há 'bom' em estado puro.

Mas escrever este final de história num cenário assim, um local livre, aberto, arejado, belo, num outono dourado e suave tem sido um prazer para mim.

Obrigada, Joaquim Castilho, e um abraço!

Um Jeito Manso disse...

Olá Isabel,

A vida está cheia de acasos, de circunstâncias. Mas é, acima de tudo, fruto da vontade e da acção de cada um. A vida de Lídia e Paulo parece convergir, parece que há uma doçura que os envolve. Mas há, sobretudo, uma atitude deles que os encaminha um para o outro. Da minha parte, fiz o que estava ao meu alcance. Espero que eles agarrem o momento e o saboreiem, que o façam perdurar, que relevem os pequenos desentendimentos, que lutem, a cada instante, pelo amor e pela cumplicidade amorosa que parece uni-los.

Obrigada, Isabel, e um beijinho.

Maria Eduardo disse...

Tudo tão natural e com tanto encanto que não tenho palavras para dizer mais nada. Está tudo dito...
A felicidade plena está a chegar com a sua preciosa ajuda.
Obrigada por esta linda história de
enamoramento...tendo como cenário a beleza de Amesterdão.
Um grande beijinho.
ME