Devenir essentiel - este é uma das chaves do segredo. L’attachante pureté où tout compte – outra das chaves.
E, depois destes dois ensinamentos, adiante.
Nesta segunda feira, regressando ao trabalho num dia triste e chuvoso, contei-vos da minha frustração: tudo aborrecido e nem nos saldos fui bem sucedida.
Pois bem, acham que sou de atirar a toalha ao chão? Claro que não.
Não há roupa de verão? Seja.
Se não podes vencê-los, junta-te a eles, certo? - e eis que hoje, depois de uma investida bem sucedida, regressei a casa já mais animada.
(Por favor, não encolham os ombros, não arqueiem as sobrancelhas, não suspirem entre dentes ‘mulheres…’. Indulgência, por favor. Sou mulher, não nego, adoro ser mulher mas, quanto a futilidades enfim, tenho dias.)
E tão motivada me achei hoje, ao chegar a casa, que me marimbei para a imagem da Dona Teresa Morais, a Dona Moralona, outra vez armada em cavalheiro, outra vez a dar passagem ao ministro da voz de coisinho que fala como se tivéssemos quatro anos, o Vitinho que me aparece à hora de mandar os meninos para a cama, marimbei-me para a crise brava que aí vai e que faz virar o navio europeu, Itália e Espanha já com as calças pelos joelhos, marimbei-me para o volume aterrador da dívida americana, que está a deixar todas as praças com nervoso miudinho, marimbei-me para a crise que começa a rondar o México, marimbei-me para isso tudo.
E que fiz eu…?
Pois imaginem. Juntei as minhas comprinhas e mais umas coisitas, fiz uma instalação e fotografei.
Saldos com um cheirinho saison |
Passo então a elencar: uma echarpe (quem costuma visitar esta casa, sabe que adoro echarpes) muito macia, 92% pura lã e 8% de viscose, fínissima, quase transparente, muito leve, em tom chocolate com pintinhas beige, já a dar muito bem para o fim de verão; um colar e uma pulseira Natura, nuns tons prata, cinza, verde água muito claro; um pregador de penas cor de pérola esvoaçantes que apenas fui repescar para compor a imagem; o livro que estou a ler ‘Apenas miúdos’ da Patti Smith que recomendo e um outro de poemas do Rui Caeiro que é óptimo e que estava ali mais à mão e, last but not he least, o elengantérrimo FlowerbyKenzo.
Uma papoila from heaven to kenzo
Quem me acompanha sabe também que, em perfumes, sou Chanel. Têm uma qualidade única, inalterável, têm charme, classe, são quentes e subtis - e eu sou Chanel adicted faz anos. Geralmente uso Chance e, once and a while, um pouco de Numero 5 (já aqui o contei mas nunca é demais: quando perguntaram a Marilyn Monroe o que usava para dormir ela, sexy girl, sorriso malicioso e voz de cama, respondeu ‘umas gotas de Chanel Nº 5’).
No entanto, recentemente, deixe-me de tantas fidelidades e ousei variar. Resultado: gostei. E, assim, tornei-me também fã de She Wood da Dsquared. Hoje fui ainda mais longe na galdeirice. Vi nos saldos aquele frasco lindíssimo de Flower by Kenzo quase a metade do preço (explicação: tinha-se acabado o tester) e tentei-me.
Ou seja, nem deu para experimentar, foi mesmo na base do blind date. Mas, para não me achar indesculpavelmente fácil, armei-me em exigente e fui ler o que dizia a embalagem:
‘Devenir essentiel. L’attachante pureté d’une fragance où tout compte. Rosa Damasceno, Jasmin, Vanille, Encens et un accord de Muscs rémanents. L’essence de FlowerbyKenzo’
Perfeito. Isto é saber o que torna uma mulher especial. Não resisti.
E agora, ao vir escrever isto, espreitei a publicidade e não me senti defraudada, não desmerece. Sensualidade e graciosidade. Subtileza e erotismo. Ça va bien. E o aroma, meus amiggos, muito agradável mesmo. Ah, tomara que amanhã esteja fresco para eu sair à rua já com a minha echarpe macia, comprida, elegante, e toda perfumada com FlowerbyKenzo.
Cherchez la femme.
E agora, para terminar e para dar alguma elevação a este post, partilho convosco um poema perfeitamente integrado no air du temps que atravessa este post. Com vossa licença:
Um sinaleiro invisível manda parar o trânsito
há uma pausa brutal no bulício da cidade
Soa a campainha da porta, entras furtiva-
Soa a campainha da porta, entras furtiva-
mente, sorris acanhada e logo começas
a abandonar sapatos e a despir a roupa em gestos
sacudidos. Grande é a importância que me dás
Por momentos tudo vais trocar pelas minhas mãos.
(Poema de Rui Caeiro in O Quarto azul e outros poemas)
PS: Uma palavra de reonhecimento à Margarida de O destino marca a hora que, no seu belo post de ontem, teve a gentileza de incluir a referência a Um Jeito Manso (UJM).
E, já agora, também aproveito para lhe dizer, Margarida, que a inclusão de UJM nas suas Daily Goods & so on me sensibiliza, e Papier Mâché é uma designação que assenta muito bem ao que aqui se faz. Felicitações pela qualidade geral do blogue e pela inteligência e humor que as classificações demonstram.
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