(Fim de tarde no Ginjal)
A minha menina é muito bonita, tem uma cara bonita, uns olhos grandes e bonitos, um cabelo bonito e bem cheiroso. Tem um corpo muito bem feito (e umas belas pernas..). E é muito bem disposta. Está sempre a rir, tem sentido de humor e acha-me muita graça, tudo o que eu digo a faz rir. E é muito inteligente, parece que apanha as coisas do ar. Na escola era das melhores, sempre grandes notas mas sem se armar em boa. Queria ir para arquitectura e, sem ter andado nunca na explicação, sem deixar de sair à noite, sem deixar de curtir, conseguiu uma média para cima de 18 e, claro, entrou para onde quis. Além disso, é uma pessoa com muitos interesses, lê muito, vamos a exposições, vamos muito ao cinema e não é para ver filmes da palhaçada, vamos ao teatro, vamos a espectáculos de dança. Puxa por mim, incentiva-me, questiona-me, sou outro desde que namoro com ela.
O meu rapaz é um espectáculo. É giríssimo, tem um cabelinho onde gosto de mexer, apetece-me despenteá-lo, senti-lo em contra-pelo, tem uns olhos que parece que riem (e tem um belo físico...). Faz remo no Tejo, joga futebol com os amigos, é todo virado para o desporto e eu, sempre que posso, vou assistir. Tem muitos amigos, todos muito divertidos, farto-me de rir com eles todos. É muito bom aluno e tem uma inteligência prática que me faz inveja. Entrou para engenharia física, percebe imenso disso, ainda esteve para ir para Cambridge mas, por causa de mim, abandonou a ideia e vai ficar-se pelo Técnico. E é muito meiguinho, gosta muito de mim, está sempre a mexer-me, diz que não consegue resistir, beija-me, espreita o decote, mexe-me nas pernas. E eu gosto. Faz-me sentir mulher. E gosto de andar de mão dada com ele. E gosto muito dos beijos dele. Passeamos muito, andamos sempre juntos, as coisas têm mais graça com ele ao meu lado, é a minha melhor companhia, o meu melhor amigo. E já gosta de ver filmes sem ser da treta e já gosta de pintura e de ir a exposições. Quando começámos a ‘ficar’ passei ainda a gostar mais dele. Mas há uma coisa que me aborrece. Está sempre a dizer ‘quando nos casarmos’ e isso, para mim, é ainda uma coisa muito longínqua, em que estou longe de querer pensar. Sei lá se um dia destes não conheço outro de quem passo a gostar mais? Acho que não, mas sei lá.
Ao fim da tarde, antes de irmos cada um para sua casa jantar, vamos sempre dar um passeio. O sítio de que mais gostamos é à beira Tejo, o Ginjal, mesmo em cima do rio, Lisboa do outro lado. Depois a cidade ilumina-se, o sol põe-se no Bugio, e nós os dois ali a falar, a rir, abraçados, a beijarmo-nos, agarradinhos contra tudo e contra todos. Não haverá outra mulher na minha vida. Ela não quer que eu diga isso mas eu não tenho dúvidas: um amor assim acontece uma vez na vida.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário