domingo, outubro 03, 2010

A crise da má governação, a crise dos valores, a crise da nossa acomodação

Este País - e se calhar grande parte do Mundo - parece estar entregue a gente sem mundo, sem escola, a newcomers, a espertalhaços que, com voz sapiente, sem dúvidas e com arrogância, vão ditando sentenças e influenciando o rumo da economia e, em última análise, da vida das populações.

Há uns anos eram os yuppies, tudo sabiam, esperteza irrefutável, gestão por objectivos - e os objectivos resumiam-se a um: lucro imediato e fácil.

Depois vieram os adoradores a l’outrance do Estado Social, com reformas facilitadas, reformas antecipadas, reforma do estado estando a pessoa a trabalhar no activo no mesmo sítio, na mesma função e a receber ordenado, mais subsídios para tudo, para todos e, para os trabalhadores do estado, um regime de apoio social equivalente a um seguro de saúde Premium, cartão platina. E institutos para todos os gostos, com administrações, secretárias de administração e todo o staff inerente a uma empresa, frota da administração, motoristas da administração e carros com motorista para uma série de funções, e milhares de coisas inimagináveis para os pobres trabalhadores da economia real que não têm nenhumas destas mordomias alimentadas com o dinheiro surripiado à força através dos impostos de quem trabalha.

Depois veio a crise lá fora e a seguir a crise cá dentro.



E, com o fantasma da crise lá fora, se tem vindo a disfarçar a crise cá dentro.

Grande parte da população deste país não cria riqueza, apenas devora o que uma minoria produz.

Tal como há muito tempo atrás, quem nascia rico não precisava de trabalhar porque herdava, à nascença, condições que lhe permitiam viver acima das condições gerais, assim hoje, muitos dos que trabalham no Estado, herdaram condições e regalias que são verdadeiros atentados.

Se o horário geral de trabalho é, em média, 37.5 horas semanais, como é possível haver classes profissionais que trabalham apenas cerca de 12 horas, gerando desta forma a necessidade de mais duas pessoas 'por posto de trabalho'*? Se a duração normal de férias são 22 ou 23 dias úteis, como é possível haver classes que têm o dobro ou mais*? Se um administrador ou empresa de uma empresa privada conduz o carro que usa, como é possível em tantas funções do estado haver lugar a carro mais motorista? Quantos postos de trabalho a mais do que o necessário se geram com coisas tão simples como as que referi?

Em vez de se cortar nos ordenados, como agora o José Sócrates e Teixeira dos Santos anunciaram – coisa simples de pôr em prática e justificada talvez para quem acumula pensões com ordenados ou tem prémios injustificados – porque não se acabam com tantos lugares que apenas são ficticiamente necessários?

E alguma vez na economia real há carreiras, progressões automáticas, escalões, diutirnidades e coisas do género que garantem aumentos automáticos de ordenado? Claro que não, nem faz sentido que exista. Então porque é que há disso nas funções do estado, quando esse dinheiro vem dos impostos dos desgraçados que não têm nada disso?

Se toda essa gente que vive à sombra do estado, laborando em funções supérfluas, ou trabalhando um terço ou menos do que os outros, se todas as duplicações de funções, se todo o esbanjamento fruto de desorganização, incompetência ou amiguismo, voltasse para a economia real, talvez o País não vivesse esta crise terrível - em que somos dos piores no que se refere a produtividade efectiva, em que importamos tudo, em que somos dependentes, infelizes, relapsos.

Aceitámos subsídios para largar a agricultura, a pesca, recebemos subsídios para fazer indústrias de faz de conta, e agora aqui estamos desgraçados, descapitalizados, desencantados.


PS: Enviaram-me o link para o A caminho da destruição do euro? do Blogue Ladrão de Bicicletas bem com para o artigo Should financial markets dictate budgetary policies in the eurozone? do Forum dos Economistas do Financial Times. Aqui os deixo pois é importante o contraditório e as análises segundo diferentes pontos de vista.

PS: (*) Professores (nomeadamente que se refere a horários), juízes, etc.

2 comentários:

J disse...

Acho sempre interessante encontrar nos artigos de opinião os dados que substanciam as afirmações. Pode haver o risco de, para quem lê, na ausência desses dados, confundir opiniões com factos!

Exemplo, a que te referes quando dizes: "Grande parte da população deste país não cria riqueza, apenas devora o que uma minoria produz."

Sou obrigado a presumir que cavalgas a onda da moda e que te referes a funcionários públicos. Mas em Portugal temos 700.000 func. pub. para uma população activa de 5.6 milhões. Por tanto não deve ser por aí. Com certeza também não são os idosos e as crianças que temos de por a criar riqueza... Sempre bom seguir os exemplos da Escandinávia: Suécia 50% de população activa, Pt 56%.Por aí também não estamos mal.

No toca aos funcionários públicos, como o António Costa do Ps disse, 80% destes são ou Médicos ou Enfermeiros ou Policias ou Professores ou Exército. Tudo bem, não introduzem uma mais valia monetária na economia, mas... vá... até que são importantes!!

Portanto, em concreto, a quem e o que te referes?

Agora também gostava de saber:

1 - que: "classes profissionais que trabalham apenas cerca de 12 horas,"

2 - quem: "Se a duração normal de férias são 22 ou 23 dias úteis, como é possível haver classes que têm o dobro ou mais"

Sou totalmente contra o despesismo do Estado. Acho que se deve cortar com todas as despesas que de uma forma ou outra não se reproduzem numa vantagem para os Portugueses. Acho que devem ser erradicados os cargos para os boys. Acho que o facilistimo tem de acabar...

Mas está a ficar fora de moda assumir o velho papel de "nos que estamos no mercado, no privado, andamos a subir a custo, com sangue e suor, para financiar essas lesmas...". Esta mesmo fora de moda.

O país do mundo com maior indice de Felicidade, a Noruega, tem uma carga fiscal brutal, porque o Estado financia um sem fim de actividades.

Não se trata de haver ou não despesa. A despesa pode ser muito positiva e fundamental para o desenvolvimento social e económico de um país.

Keynes, um dos maiores económicos do séc. passado, especulador capitalista dizia, provou, e levou à prática, por décadas após o New Deal, nos anos dourados da economia mundial: que o Estado deve garantir o pleno emprego, regular o mercado e por investimento público manter elevados os niveis de procura em fases recessivas. É dele a frase: o Estado deve empregar homens para abrir buracos, para poder contratar homens para tapar buracos.

Por fim, e só para finalizar, quando se fala em crise, desta nossa crise de agora, porque é que não se fala de:

1 - Noticia de 2010: "A economia paralela representa em Portugal 19,7 por cento do PIB oficial, o que equivale a 33,56 mil milhões de euros, ou seja, o dobro do maior défice orçamental alguma vez registado em Portugal."

- porque é nao contratamos mais uns milhares de funcionarios publicos para fazer uma guerra a este flagelo?

2 - porque é que ao invés de se subir o IVA, que prejudica o nivel de vida das pessoas e a competitividade do país, não se considera a proposta do PCP de fazer, à imagem do que acontece na França e UK, introdução de uma taxa sobre transações financeiras e produtos de luxo, ou a banca com taxa IRC a 25%?

- porque é que o Estado aceita que as empresas portuguesas, que laboram em actividades que podem criar riqueza e gerar um balanço comercial positivo, sejam vendidas ao desbarato ao Espanhóis ou outros? O liberalismo cia barreiras psicológicas, que vão destruindo lentamente o aparelho produtivo!

cá aguardo!

J

J disse...

Já agora, quanto ao "dobro de período de férias". Juízes:

Assim, o DL 100/99:
- fixa como limite mínimo de gozo de férias os 25 dias úteis até completar 39 anos de idade;
- fixa como limite mínimo de gozo de férias os 26 dias úteis até completar 49 anos de idade;
- fixa como limite mínimo de gozo de férias os 27 dias úteis até completar 59 anos de idade;
- fixa como limite mínimo de gozo de férias os 28 dias úteis a partir dos 59 anos.
Além disso, o número de dias de férias aumenta, nos termos da lei, por cada módulo de 10 anos de serviço, efectivamente prestado, acrescendo mais um dia útil de férias.

Portanto aos 60 anos atingem o máxixo de 31 dias de féria, mais 6 do que o normal. Ao seja por um curto período mais 25% e não 100%.

Profs idem: Artigo 2.º do Dec.-Lei n.º 157/2001
1 - O pessoal docente tem direito, em cada ano, ao período de férias estabelecido
na lei geral calculado de acordo com as seguintes regras:
a) 23, 24, 25 dias úteis de férias até completar 39 anos de idade, respectivamente,
nos anos 2001, 2002, 2003;
b) 24, 25, 26 dias úteis de férias até completar 49 anos de idade, respectivamente,
nos anos 2001, 2002, 2003;
c) 25, 26, 27 dias úteis de férias até completar 59 anos de idade, respectivamente,
nos anos 2001, 2002, 2003;
d) 26, 27, 28 dias úteis de férias até completar 60 anos de idade, respectivamente,
nos anos 2001, 2002, 2003.
O pessoal docente "… tem ainda direito a mais um dia útil de férias por cada 10
anos de serviço efectivo prestado." (Art.º 42.º do Decreto-Lei n.º 70-A/2000, de 5
de Maio).

já agora também:

O pessoal da carreira docente exerce, em princípio, as suas funções em regime de tempo integral - artigos 2.º e 67.º, n.º 2 do ECDU. (Estatuto da Carreira Docente Universitária, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 448/79 de 13 de Novembro), sendo que o regime de serviço em tempo integral tem uma duração semanal idêntica à dos trabalhadores da função pública, ou seja, 35 horas (art. 68.º, n.º 1 do ECDU e art. 7.º, n.º 1 do DL. 259/98 de 18/08).

J