domingo, dezembro 14, 2025

Vidas tranquilas

 

Vão-me chegando notícias de amigos. Na idade platinada tudo é mais lento, quase não há horários a cumprir, consegue-se organizar grande parte da vida de forma a fugir às horas de ponta, aos locais onde o estacionamento é quase impossível. 

Por outro lado, há a vida apressada dos meus filhos, os projectos que os estimulam e desafiam, as muitas reuniões e problemas a que não podem fugir. Acompanho-os, compreendo-os. Eu já estive naquelas situações. Percebo quando estão cansados, stressados. Quando se está em funções assim não dá para virar as costas, há que aguentar firme. E resolver o que for preciso. Orgulho-me deles. Têm fibra. Não desanimam, não capitulam. Vão em frente e querem sempre fazer mais e melhor. E assim é que é, até  porque sabem manter o equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal e familiar, o que é fundamental.

Não há muito, uma pessoa da minha família contou-me com alguma preocupação que a filha tinha ido fazer uma especialização num país problemático, numa zona altamente problemática, pois queria ser expert em cirurgia de traumatismos como esfaqueamentos. Achei fantástico até porque não me ocorreria nunca tal coisa, mas, sobretudo porque, neste mundo louco em que vivemos, é importante os médicos estejam preparados para tudo. Mas compreendo também a apreensão com que ela viu a filha, que poderia estar 'tranquilamente' a trabalhar naquele que é o maior hospital país, e que, inesperadamente, atravessa o oceano e se vai enfiar no olho do furacão.

E outra conta-me como um dos progenitores está a entrar cada vez mais rapidamente no enevoado mundo da demência. E eu ouço com compreensão solidária e não digo, mas penso, que talvez não seja mau uma pessoa entrar na noite escura sem o sofrimento de se saber num inexorável declínio. E penso que há dois anos estava eu a viver tempos de grande angústia, acabando de saber que a minha mãe estava num estado terminal e não havia nada que eu ou alguém pudéssemos fazer alguma coisa para impedir o que se anunciava a uma velocidade assustadora.

Mas assisto a tudo com a serenidade de quem já atravessou todas as provações. E tento manter-me calma. Nem sempre consigo, mas tento.

Gosto desta fase da minha vida. Gosto de ter tempo para mim. Gosto de ter tempo para realizar tarefas simples, pelas quais ninguém dá nada ou, mesmo, tempo para não fazer nada.

Talvez por isso gosto de ver vídeos assim, tranquilos, como este aqui abaixo.

Escolher uma vida mais lenta
 Reflections of Life

Existe uma riqueza silenciosa que se revela quando nos movemos a um ritmo mais tranquilo. Ao deixarmos de correr, o dia abre-se e a vida deixa de ser sobre esforço e passa a ser sobre sentirmo-nos ancorados no lugar onde já estamos.

Quando o ruído diminui, a nossa consciência transforma-se. Escolher a lentidão não significa isolar-se do mundo, mas sim regressar a ele com uma sensação de conexão mais clara. Lembra-nos que o significado reside muitas vezes nas pausas — aqueles momentos em que nos sentimos parte de algo maior do que o nosso próprio ritmo.

Nestes espaços mais calmos, um sentido mais profundo de pertença começa a criar raízes. Reconectamo-nos connosco mesmos, com os outros e com o mundo que nos rodeia de uma forma que parece constante e verdadeira. Uma vida mais lenta não exige perfeição, apenas a vontade de abrir espaço para o que realmente importa.

Com Antony Osler - https://www.stoepzen.co.za

Filmado em Colesberg, África do Sul.


Que tenham um feliz dia de domingo

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