No tema das doenças mentais há várias vertentes, qual delas a mais interessante e, talvez, a mais complexa. Como leiga, direi: misteriosa.
De um lado há as causas, muitas vezes ocultas, da doença. E, num outro lado, há os meios para as descobrir ou controlar. De forma mais material, de um lado estão as pessoas que têm os problemas e de outro estão as pessoas que conseguem tratar as primeiras.
Se nem sempre é fácil a quem tem ataques de pânico ou sofre de depressão ou de uma qualquer outra patologia perceber o que origina as crises também não será menos verdade que também não é fácil encontrar o terapeuta que acerta na abordagem ou que consegue despertar a confiança virtuosa junto de quem precisa de apoio.
Tenho aqui partilhado diversos vídeos sobre o tema e fica claro que estes domínios não são da ordem da ciência exacta. E fica também claro que o tempo dos estigmas ou dos tabus deve ser do passado. Tem que ser do passado. Ninguém está livre de ter um problema destes ou de ter que lidar com quem esteja afectado. E é importante que todos estejamos sensibilizados para esta temática seja por nós seja para podermos compreender e apoiar quem disso precisar.
Mas se as causas profundas destes distúrbios são misteriosos, também o são os vínculos entre médico/psicólogo/terapeuta e o doente, ou a forma como o terapeuta tem que se despir de si próprio para conseguir alcançar o paciente.
Já falei várias vezes de uma amiga psiquiatra que é das pessoas com a vida mais problemática que conheço. Perdi-lhe, entretanto, o rasto pois divorciou-se e éramos amigos do casal e algo se desmoronou depois dos inúmeros conflitos que ensombraram o fim do casamento. O meu marido chegou a um ponto em que, de cada vez que estávamos com eles, me dizia: 'Não tenho paciência para aturar esta maluca'. E chegava a sair da sala em que ela estava de tal forma ficava exasperado. Sendo fisicamente uma bela mulher e aparentemente normal, era, de facto, uma mente perturbada. No entanto, a nível profissional, parece que era muito competente. Chegou a directora do serviço num grande hospital. E depois deixei de saber dela. Com isto das redes sociais, descobri, no outro dia, que é amiga de um amigo meu. E vive no estrangeiro. Hei-de saber dela. Mas o que me espanta é como é que uma pessoa com forte pancada consegue ajudar os doentes de foro mental a encontrarem equilíbrio quando ela é, na sua vida pessoal, completamente desequilibrada.
Conheço também uma psicóloga, embora não tão bem como a psiquiatra. Mas, do que lhe conheço, também lhe detecto aqui e ali uns pontos que me colocam alerta. No outro dia estava com duas amigas que a conhecem muito bem e que se referiram a ela como alguém com alguns desequilíbrios. E, no entanto, profissionalmente, é conceituada e reconhecida. Portanto, há nisto também um certo mistério.
O vídeo abaixo é muito interessante. Sem meias palavras, com muita objectividade, Henrique Dias descreve o surgimento dos primeiros sinais e guia-nos pelos caminhos da sua ansiedade, da sua depressão, dos tratamentos, da procura do terapeuta que, finalmente, conquistou a sua confiança e conseguiu conduzi-lo para fora dos labirintos onde o negrume imperava.
Diz ele que quem tem problemas de ansiedade ou depressão muitas vezes não o partilham. Talvez por amor aos mais próximos, para não os preocuparem. Talvez por incapacidade. Talvez caiba, pois, a quem está bem a responsabilidade por estender a mão. Não deixemos que os que se sentem sós no seu sofrimento, por dificuldade em sair da solidão, não possam contar com a ajuda de quem poderia ser, de alguma forma, uma boia de salvação.
Henrique Dias, depressão e ansiedade. “Há uma solidão tremenda nas doenças mentais”
Foram precisos 12 anos, a partir do diagnóstico, para encontrar o psiquiatra certo para ele e a terapia que o pôs no caminho onde está hoje. Henrique Dias, guionista, autor de inúmeros textos no teatro e na televisão e um dos criadores da série “Pôr do Sol”, da RTP, era um jovem de 22 quando teve o primeiro ataque de pânico. No Labirinto — Conversas sobre Saúde Mental, fala do percurso entre o diagnóstico, o internamento num hospital psiquiátrico e a descoberta da psicanálise.
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