A mim, que gosto tanto de probabilidades, acontecem-me muitas improbabilidades.
Na última vez que estivemos juntos, contei-o aqui e, como sempre, falei em abstracto, sem referir nomes ou locais. Pretendo que o que escrevo valha por si, fale de emoções ou de impressões que sejam independentes de referências concretas. Escrevo, digamos, para mim; ou, então, para quem, através das minhas palavras, se reveja no que por aqui vou desfiando. Para mim é uma espécie de pro memoria: muitas vezes, quando quero localizar, no tempo, algum episódio da minha vida ou rever o que, em determinada altura pensei, venho aqui pesquisar.
Pois, como já aqui o contei, para meu espanto, no dia seguinte tinha uma mensagem de uma das pessoas presentes. De facto, eu tinha-me, também, referido a ele, embora, pensava eu, pelo que tinha escrito jamais alguém conseguisse identificar-me ou identificá-lo a ele. E, no entanto, imagine-se, tinha sido denunciada... Para minha total estupefacção, a filha desse meu amigo tinha reconhecido o pai nas minhas palavras... e logo também percebeu que esta que aqui vos escreve e que ela seguia há algum tempo era amiga do pai... e logo ele percebeu que essa pessoa não podia ser outra que não eu. Fiquei com um sorriso de orelha a orelha e ainda hoje sorrio com isso. Há coisas extraordinárias.
Ainda no outro dia, aqui em casa, recordámos isto. E as perguntas voltaram: 'Mas como é que perceberam que eras tu? Como é que ela reconheceu, no que escreveste, o pai dela?'. E a minha explicação foi: 'Pois, é espantoso. É inteligente como o pai, só pode.'. E agora acrescento: 'E, pelos vistos, improbabilidades também são a sua praia...'
Hoje, com ele, falámos nisso e, claro, sorrimos os dois. Vivendo fora do País, foi esta jovem, que eu não sabia que por aqui me aturava, que, juntando dois pontos, rapidamente traçou a recta que, num ápice, chegou até mim!
Disse-me ele que viria aqui espreitar para ver se eu relatava o nosso encontro de hoje. Não deixei transparecer mas confesso agora que me deixou sem jeito. Parece que, assim, perco um bocado a espontaneidade de escrever em abstracto, para mim e mais ninguém, para o ar, para o anónimo mundo que me cerca.
Mas, então, até porque, de facto, iria mesmo escrever, aqui vai.
Quando chego a casa destes nossos encontros venho sempre feliz, feliz, feliz. Quando penso em todos, parece que estão sempre todos a sorrir.
O tempo passou. Ao princípio quase não nos reconhecíamos. O tempo esculpiu algumas transformações, por vezes parece que até as nossas feições mudaram. Mas, agora que nos reabituámos, acho que, afinal, estamos quase na mesma: boa onda, boas pessoas, bons amigos, só que com uma diferença - parece que estamos todos mais felizes. Já não temos nada a provar, agora somos nós no que temos de mais genuíno, nós e a amizade que afinal não esmoreceu, nós e o carinho de, ao fim de tanto tempo, ainda gostarmos de estar juntos.
É muito bom reencontrarmo-nos. E até os que estavam doentes ou 'empanados' na última vez agora, felizmente, estão bem, recuperados. Na mesa em que eu estava, quando começámos, fizemos um brinde. Desejámo-nos saúde, alegria. E eu acrescentei: 'E que, para a próxima, estejamos cá todos'. No mesmo instante em que o disse, pensei: 'Olha que estupidez... isto soa a fatalismo'. Mas todos desejaram que sim, que para a próxima cá estejamos todos.
É que fiquei muito triste, muito mesmo, quando a G., que parecia tão bem e que tinha sempre aquele sorriso doce, morreu. Pareceu-me uma daquelas rasteiras que não são admissíveis. Uma das nossas a ir-se assim, tão cedo, tão a despropósito... Depois foram umas doenças que tocaram alguns e o teu acidente, e, com tudo isso, fiquei como que assustada.
Lembro-me que, na altura, depois de ter lido o que eu tinha escrito no grupo, um dos amigos escreveu-me uma mensagem privada em que dizia que temos que nos preparar, que nas nossas idades, temos que nos mentalizar que, de vez em quando, chegarão notícias assim. Racionalmente compreendo, claro que compreendo. Mas, com a inocência da adolescente que eu era naquela nossa altura, apetece-me bater o pé, dizer que não quero, não aceito partidas antecipadas, maleitas, sustos e tristezas. Quero é que continuemos a sorrir uns para os outros, mostrando-nos confiantes, bem dispostos, felizes.
Estive a ver as fotografias que, entretanto, já foram partilhadas, não apenas deste sábado mas também as da viagem a Madrid. Como é possível que tenha passado tanto tempo? Passa rápido o tempo... Caraças.
Os jovens saberão que devem aproveitar bem os seus dias, não os desperdiçar com intrigas, futilidades, desencantos desnecessários?
A vida é boa, cada pequeno momento deve ser acarinhado como único, irrepetível. E se querem fazer alguma coisa, arriscar, passear, o que for, pois que façam, não fiquem à espera pois a vontade ou a oportunidade de o fazer pode esmorecer ou desaparecer e, depois, fica a mágoa do que não se fez. É que é tudo tão rápido...
Mas, lamechices ou filosofices à parte, adorei o dia, o reencontro. Vim feliz. Estou feliz. Estou a escrever e estou a sorrir. E cheia de vontade que venha o próximo.
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Desejo-vos um belo dia de domingo
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