quarta-feira, julho 16, 2025

Sobre a demolição de barracas

 

Vi, estarrecida, imagens horríveis de barracas a serem destruídas sem que qualquer solução fosse apresentada aos seus habitantes e destruído ficou o meu coração ao pensar na aflição daquelas pessoas. 

Fotografia de José Fonseca Fernandes

Hoje disse aos meus netos que se me saísse muito dinheiro no euromilhões, pegaria em parte do dinheiro e estudaria em conjunto com algumas das autarquias em que o drama é maior qual a forma mais expedita de dar casas com conforto e dignidade às pessoas que vivem em condições miseráveis.

Custa-me conceber que, por exemplo, se arranje dinheiro a rodos para a Defesa ou dinheiro para jorrar sobre os médicos do SNS (médicos ditos 'tarefeiros' num daqueles expedientes para fugirem ao fisco e a todo o tipo de controlo -- enquanto estupidamente se continua sem se perceber que o tema da Saúde tem que ser 'agarrado' a sério por gente competente) ou dinheiro aos montes para fazer cartazes que poluem as estradas e as rotundas de cada vez que há eleições ou, nas autarquias, dinheiro a perder de vista com assessores e parasitas partidários e, depois, não há dinheiro para encontrar uma solução para estes pobres coitados que não conseguem um tecto seguro e legal para se acolherem.

Não há muito vi fotografias de um parque de campismo gigantesco na Costa da Caparica. Não parecem tendas, parecem casinhas, ou tendas de campanha, não sei bem, todas iguais. Disseram-me que muitas pessoas vivem ali todo o ano. Perguntei se não poderia ser uma solução para instalar com um mínimo de conforto e dignidade as pessoas que hoje vivem em bairros clandestinos. Responderam que o problema destas soluções é que, em vez de provisórias, soluções assim tendem a ser definitivas. Claro que não sei qual a melhor solução mas parece-me que qualquer solução é melhor do que a indiferença perante a aflição de quem não tem onde viver, de quem não tem uma morada, de quem não tem onde se lavar ou de quem não tem um mínimo de condições decentes para ter filhos.

Não sei se o PRR previu verbas para alojar as muitas pessoas que, tantas vezes vindas de longe, tantas vezes completamente desenraizadas, desaculturadas, vulneráveis, e, ainda assim, trabalhadoras, não têm outra solução senão juntas chapas, cartões e o que encontram para fazer um abrigo mais do que frágil, mais do que impróprio para um ser humano. Se previu, previu pouco e virá tarde de mais. Se não previu, os irresponsáveis que não pensaram nisso deveriam ser corridos.

Há tempos vi uma reportagem com prédios devolutos que pertencem ás Forças Armadas. De que se está à espera para lá instalar pessoas? E quem diz isso diz muitas outras casas do Estado. Ou da Igreja. 

Marcelo, que tanto falava dos sem-abrigo, já se esqueceu? Ou só se lembra quando as televisões o filmam a distribuir a sopa dos pobres? Quanta hipocrisia.

E já nem falo no cagalhoças do Moedas, essa anedota que para aí anda a armar-se em bom. Mete-me nervos de cada vez que o vejo: um saquito cheio de nada, um daqueles sacos pequenos para apanhar o cocó de cão. Obra feita, zero. Real sensibilidade e capacidade de acção para o que é preciso, zero. Só conversa fiada, só, só.

E o de Loures, com aquela vereadora, insensível, empedernida, gente desalmada, que nervos que também me dão. Caraças.

Enfim. Fico-me por aqui. Sinto-me verdadeiramente impotente perante a desgraça desta pobre gente que precisa urgentemente de habitação social. Estão a trabalhar para nós. Não podemos ignorá-los nem deixar que vivam como animais. Neste caso o tema não é o arrendamento acessível nem sem ser acessível pois estamos a falar de pessoas que primeiro precisam de se organizar, de se estabelecerem decentemente, só depois se pensa em como poderão pagar alguma coisa -- neste caso o tema é mesmo alojamento social, urgente, dar tecto e meios de higiene, dar uma morada e uma ajuda àquelas pessoas, permitir que sejam cidadãos de pleno direito.

1 comentário:

Anónimo disse...

Nos anos setenta, o povo saiu de várias misérias. Da miséria de vida, da miséria informativa e cultural, etc etc. Nos anos 80, já a terem alguma qualidade de vida, esqueceram quem mais tinha contribuido para isso, e sentiram que deviam proteger o seu patrimonio, antes que os comunas lho tirassem. Assim começaram a virar o voto para a corja nossa, e chegamos onde estamos hoje. A corja nossa sabe bem que a lei da fisica que diz que uma ação provoca outra oposta, em vez de golpes de estado militares, faz golpes de estado chamados LOWFARE, que bem podiam ser chamados LOWFARE, PELA BAIXEZA de quem os promove, invertebrados rastejantes. Já não se proibe nada, dá-se o direito do povo se auto anestesiar. Para sua proteção esta chamada está a ser gravada, para sua proteção está a ser filmado, tem o direito de estar calado tudo o que disser pode ser usado contra si. Quem está anestesiado não estrebucha.