Esta situação vergonhosa de António Gandra D’Almeida, um verdadeiro pintas, não diz muito apenas sobre ele mesmo.
Todo o seu percurso, passando pela cirurgia -- em que se anda a apurar se não passou à frente dos outros --, ao atestado que o declara com, se ouvi bem, 60% de incapacidade! (o que se traduz em redução de impostos), à acumulação de funções... dizem muito sobre a figura. Mas diz também muito sobre quem o escolheu, sem exercer um cuidadoso escrutínio e sem avaliar a idoneidade da pessoa. Mas este episódio diz sobretudo muito sobre como se pratica """"""a optimização fiscal""""" neste país, com o conhecimento e beneplácito de todos. E ponham muitas aspas nesta optimização. É que optimização uma ova. Fuga aos impostos, isso sim.
Já aqui falei nisso mil vezes. Para não pagarem IRS elevado (que, na realidade, no nosso país é um imposto absurdo, populista, que trata como milionaríssimas pessoas que apenas estão um pouco acima da classe média) há muitos meninos e meninas que criam empresas, muitas vezes unipessoais, às quais imputam toda a espécie de custos (leasing de viaturas, combustíveis, portagens, despesas em restaurantes, provavelmente a água, a luz e os telefones de casas, talvez até a renda ou a prestação da casa, carregando-as de despesas para não pagarem impostos ou pagarem quase nada pois conseguem que essas 'empresas' não tenham lucros que se vejam) e aí declarando um ordenado relativamente baixo. Com isso pagam pouco IRS e pouco ou nenhum IRC.
Os hospitais ou clínicas ou lares ou o que for, em vez de contratarem directamente os médicos, contratam estas empresas de prestação de serviços.
Claro que não são só os médicos que fazem isto. É meio mundo. Read my lips: é meio mundo.
Já aqui o disse mil vezes: quando se vê quem, em Portugal, paga IRS pela medida grossa, surpreende-se por ser tão pouca gente. Em contrapartida com casas luxuosas, carros topo de gama, a frequentarem restaurantes caríssimos e a fazerem férias de luxo há carradas e carradas de gente. Quem gere a máquina fiscal não vê isso? Não?
Diria eu que grande parte dessa gente que vive à grande e à francesa, pagando um IRS baixo, deita mão destes e de outros esquemas. Tudo previsto pelo fisco, tudo certinho. Não sabem os legisladores destes esquemas? Ai não, não sabem...
E, no entanto, porque é que isto atravessa governos? Porque é deste e doutros esquemas equivalentes que se alimenta uma parte considerável dos mais abonados da nossa sociedade. Todos sabem, todos calam. Uma mão lava a outra.
Neste lamentável caso de mais esta palhaçada no Ministério de Ana Paula Martins gostava muito que a Comunicação Social pegasse neste tema. No entanto, não sei se os jornalistas também não recorrem a estes esquemas. Quanto aos partidos, creio que vão assobiar para o lado: é tema que mexe em muito boa gente, mais vale não agitar as águas.
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