sexta-feira, agosto 16, 2024

Marmelada com mão de Chef, um Chef muito inesperado

 

Nestes dias em que a temperatura está de ananases, a frescura da alegria da família reunida atenua a calorama. E pode parecer parvoíce, e não garanto que não seja, mas a verdade é que basta estar dois ou três dias sem ver os meninos (e a menina, claro) para que, ao entrarem portão adentro, já eu esteja a achá-los mais altos.

Bronzeados, cabelos de praia, todos bem dispostos, é sempre uma festa quando se encontram todos.

E agora, com sono e sem saber o que se passou no mundo, vou limitar-me a contar que o meu marido, quando cá estamos apenas os dois, levanta-se cedo e vai limpar a zona que era da horta e que agora tem umas árvores de fruto e pouco mais (mas que tinha muita erva e mato para cortar). E ontem disse-me que, enquanto ia fazer qualquer coisa, se eu fosse apanhar algumas gamboas, faria marmelada.

Falai em doces e aí vou eu. 

Apanhei umas cinco. A árvore tem mais mas ou não lhes chego ou estão bichadas. 

Pois bem. O menino, sempre que se enfurece com demagogos ou parvos, se não há futebol algures, refugia-se no 24 Kitchen, Acho-lhe um piadão pois não lhe conheço motivação ou jeito para a cozinha. Mas, afinal, o que o menino tem dentro dele é a alma de um doceiro.

Foi para a cozinha, pôs-se ao fogão e, pepe rápido como é, passado um bocado estava a desligar o fogão e a dar-lhe com a varinha mágica. Não augurei nada de bom. Sempre tive a ideia que fazer marmelada requer tempo, acompanhamento. Ora, ao fim de menos de nada já obra estava dada por arrumada, o que não augurava nada de notável.

Sim, sim... Este é o tempo de todas as surpresas. Uma maravilha. Só não me ponho a comer à colherada para ver se não engordo uma tonelada. Mas a coisa até tem pouco açúcar.

Deu duas tigelas.

A segunda difere da primeira porque lhe misturou figos frescos. Nem se dá por eles, mas está óptima, fresca, docinha, macia, uma graça.

Não têm a textura da marmelada que dá para cortar com faca e aos bocados. Não. O que ele faz é mais um puré espesso, um doce grosso que dá para espalhar (ou para comer à colher). 

Não me perguntem quantidades pois não assisti. Sei, porque ele disse, que para além das gamboas, levou cerca de 3 colheres de açúcar mascavado, um pouco de cacau em pó, casca de limão, um cálice de licor de ginja, uma maçã e uma cenoura.

Depois de ver que estava tudo cozido, e foi rápido, escorreu um pouco do caldo (que também era pouco) e triturou bem. Não sei se ainda levou ao lume. Amanhã pergunto (agora já está a dormir).

Está mesmo boa. O que sobrou pus no frigorífico pois também deve ficar boa, fresquinha.

Hoje, ao fim da tarde, depois de ter preparado um lanche ajantarado, quase à laia de sobremesa, para além de salada de fruta, coloquei o doce, queijos vários e, como já não tinha pão (tinha-se esgotado completamente) nem tinha tostas nem nada, a minha filha lá desencantou no saco dela um pacote de marinheiras pequeninas. Foi o que serviu como base para o doce, as bolachinhas e os queijos.

E agora que lhe descobrimos esta faceta acho que vamos querer mais. Provavelmente é influência dos programas de culinária que tem visto (sobretudo Jamie Oliver) em que aparentemente de uma forma rápida e fácil se podem fazer doces óptimos. Ou então é uma vocação escondida. 

Eu que não gosto nada de fazer doces, fico empolgada com isto.

Nunca é tarde para uma pessoa descobrir as suas vocações ocultas nem é tarde para alguém descobrir facetas inesperadas na pessoa com quem se vive há mais de um século.

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E tenham uma bela sexta-feira

4 comentários:

Anónimo disse...

UJM, eu era igual, só sabia pôr água a ferver,agora a cozinha é minha e aprendi muito com programas da internet. E não quero ninguém lá.

ccastanho disse...

Só depois de me reformar, e com ajuda do YouTube, mais precisamente com o Henrique Sá Pessoa, e outros, tornei-me "chef Silva" a ponto tal, que a minha mulher divorciou-se da cozinha, e quando chego tarde para o almoço...não há almoço! -Então não há porquê?!... -Tu é que és o cozinheiro!... E candidamente nada ingénua, é o mesmo que dizer:- porra, faz tua a comida que eu não me apetece. E o mouro, lá desenrasca.

Ainda agora na praia (detesto sol e areia, e só gosto de sol, quando tenho frio) só lá fui duas vezes duas horas cada, quem fazia o almoço para toda a família era eu, o jantar já era mais ou menos partilhado até porque era peixe na brasa.

Normalmente a minha praia, é, depois das compras feitas, ir para uma agradável esplanada disfrutar o silêncio e a frescura se possível até perto do meio-dia, e depois zarpar a preparar o almoço para o pessoal que me devora tudo. Á tarde fico-me pela piscina quando o apartamento a tem .

Um Jeito Manso disse...

Os homens que não sabiam e pareciam nem querer saber nada de cozinha agora, de repente, deram em fazer magia... Já o meu filho é um cozinheiro de mão cheia... E o meu marido começa a revelar-se. Este sábado vamos ter outa vez mesa cheia e há bocado disse: 'Olha lá, para sobremesa, só salada de fruta? Não quererás fazer uma sobremesa...?. Pois, para minha surpresa, não se fez muito rogado. Até se lembrou de uma sobremesa que viu ao Jamie Oliver. A ver se não se arrepende...

Um Jeito Manso disse...

Olá Ccastanho. Ora bem. Outro Chef? E, pelos vistos, muito apreciado pela família... Acho óptimo. E se é capaz de apresentar belos acepipes, muito bem faz a sua mulher em achar que não deve competir consigo...
Bom apetite!