domingo, maio 07, 2023

Um casal todo real-caturra, uns convidados à maneira, uma boa música e toilettes para todos os gostos

 



Não tenho nada contra a festa da coroação. Parece-me uma coisa de outros tempos: juras e rezas, paramentos, cerimoniais, coches puxados a cavalos, arcebispos e cantares. Coisa de filme. Coisa de histórias infantis. Tem um lado ficcional. Devaneios que envolvem reis e rainhas, príncipes e princesas, mantos, pajens, aias, damas de companhia, coroas, ceptros, tiaras. 

É quase como se um filme extraordinário fosse realizado em directo, um filme com protagonistas que conhecemos, com um guarda-roupa cuidado, com adereços valiosos, com uma boa banda sonora, rodado em palácios, catedrais e com cenas de rua.

Sou republicana de cabo a raso, da cabeça aos pés. Mas nada me move contra as monarquias dos outros países. 

A do Reino Unido já se viu que não tem qualquer intervenção política. Podem, no terreno, desentender-se completamente uns e outros, andar desgovernados, resolver sair da União Europeia sem perceberem o que era o brexit, não saberem bem a quantas andam, pouco faltar para andarem à batatada. A Rainha não mexeu uma palha. Assistia, fazia uns discursos simpáticos mas mais nada. Era a Rainha de Inglaterra a ser a Rainha de Inglaterra e toda a gente compreendia que era isso que se esperava dela.

E agora, com o septuagenário novo rei vai, certamente, ser a mesma coisa. Ele e a sua rainha, amor de longa data, coroados quando se julgaria que com aquela idade bem podiam retirar-se de cena, majestades improváveis, alguma vez vão dirimir conflitos entre partidos ou fazer discursos à nação para desancar num ministro? Nem pouco mais ou menos. Continuarão com as suas fundações (algumas, segundo ouvi, até bastante meritórias), com as suas visitas e pouco mais. E se é assim que é e se a maioria lá deles gosta, quem sou eu para opinar em contrário?

Gastam fortunas nestes festejos, é certo. São milionaríssimos, é certo. Mas dão também muito a ganhar pois são, no conjunto, uma fantástica máquina promocional, uma imparável máquina de marketing, o turismo muito lhes deve e o comércio de toda a espécie de bugigangada também, e, no balanço final, acredito que haja  benefício para os cofres de Estado.

Acresce que, entre eles, os Royals, há sempre festa e fanfarra, cegada e coboiada da boa. Amores clandestinos e adultérios, zangas, boas e más companhias, tristezas agudas, fugas de informação, conluio com os tablóides, há de tudo. E já nem falo no caso extremo da Princesa do Povo que alimentou escândalos, amores e desamores durante anos acabando tragicamente como acabou ou agora o outro, caído em desgraça pelas suas mal afamadas incursões epsteinianas. 

Uma espécie de Netflix e HBO em directo e em permanência, folhetins quase diários.

E depois há estes happenings: casórios, baptizados e enterros reais, e, agora, cereja em cima do bolo, uma coroação. 

Nós temos o desfile das marchas na Avenida ou o alho porro no Porto ou todas as outras festas pelo País, temos umas efemérides celebradas com enfado. Os russos, os chineses e os coreanos têm aquele disparate de armamento a desfilar e o culto do grande líder. Os ingleses têm isto e, convenhamos, divertem-se muito mais que todos os outros. E, convenhamos também, em direitos televisivos, devem ganhar fortunas pois o mundo inteiro é cusco e gosta de ver estas cenas.



As mulheres, em particular, gostam de ver as toilettes, vestidos, sapatos, penteados e, sobretudo, chapéus, e a elegância, o a propósito, a compostura, as gracinhas das crianças, as extravagâncias, os olhares que trocam entre eles. 









Enfim, essas irrelevâncias com as quais às vezes gostamos de nos entreter. E quem nunca...?

Não sei o que se seguirá mas eles já devem estar a preparar o próximo acontecimento pois a máquina tem que se manter em movimento.

Finalmente tenho que referir que do Marcelo nem sinal. Que eu saiba não o filmaram nem à entrada, nem durante nem à saída. Se calhar, o seu tão importante comunicado ao país não despertou o interesse dos media britânicos, coisa que não se percebe.

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