quinta-feira, fevereiro 09, 2023

O corpo de Eva a Eva pertence.
[O de Chiara também a Chiara pertence]

 




Continuam a morrer mulheres às mãos dos homens que com elas vivem. São frequentemente pais das crianças cuja mãe agridem, estrangulam, esfaqueiam. Por vezes acontece que o fazem com as crianças a dormir no quarto ao lado, quando não à vista delas. Cegam. Pode ser sob o efeito do álcool, de outras drogas ou por obsessão, psicopatia, tara. E fazem-no, na maior parte das vezes, depois de anos de pressão psicológica, de crises de ciúmes, de ameaça, coação, chantagem emocional, de pedidos de perdão, de juras de amor. 

Fazem-no sempre em nome do que pensam ser afecto e as mulheres, por carência, por medo, por quererem acreditar que são amadas, pelos filhos, para não preocuparem a família, por vergonha perante amigos e colegas, aguentam em silêncio, fingindo que está tudo bem.

Por cada mulher que é assassinada deve haver mais de cem ou mais de mil que vivem um vida de infelicidade e pavor.

Há muito a fazer para prevenir isto, para ensinar o que é o verdadeiro amor, para conduzir à procura de apoio os agressores, os assediadores, para fazer vencer a barreira da discrição da vizinhança que ainda acha que entre marido e mulher ninguém deve meter a colher, para explicar como as vítimas podem pedir apoio em segurança.

Há muito a fazer para que as mulheres se sintam com direito à sua vontade e para que os homens aprendam que a sua vontade não impera sobre a das mulheres. Há muito a fazer para que a sociedade o assimile na sua totalidade.

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Não foi exactamente por isso que Chiara Ferragni, com uma poderosa presença e intervenção no Festival de Sanremo, se vestiu e falou como as imagens e os vídeos mostram. Pretendeu, sobretudo, alertar para o direito das mulheres a fazerem o que quiserem com o próprio corpo, a serem como são sem terem que ser vítimas de pressão social,  a terem o direito a uma voz independente e forte, o direito a terem os mesmos direitos que os homens, o direito a não serem vistas como as pecadoras que merecem punição.

Ser mulher não é uma limitação.




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E outra Eva foi pintada por Lucas Cranach the Elder e vem na companhia de Melody Gardot e Philippe Powell com This Foolish Heart Could Love You

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Desejo-vos um dia bom
Saúde. Respeito. Paz.

2 comentários:

ccastanho disse...

Caríssima UJM.

"Quando um homem ama uma mulher/é um mundo de homens"
Não sei bem se será assim. Acho sim, um mundo melhor entre mulher e homem.

https://www.youtube.com/watch?v=oNPFbz4c3v4

Um Jeito Manso disse...

Olá Ccastanho

As coisas funcionam bem quando há reciprocidade, seja em que tipo de relacionamento for. Uma relação amorosa só é saudável se houver paridade. Podem até ter papéis distintos mas o 'investimento' e o retorno devem equivaler-se.

Gostei do vídeo. Conhecia a 'velhinha' versão de Demis Roussos. Gostei desta que enviou!

Obrigada.

Um bom fim de semana!