segunda-feira, janeiro 24, 2022

Passear em Lisboa, ao Chiado
[Com reportagem fotográfica]

E dúvidas sobre como funciona e a quem ataca este Omicron

 



Dormi que me fartei. Quando acordei e vi as horas nem queria acreditar. 

Para não acordar com notificações, tinha retirado os dados do telemóvel. Ao repô-los, uma boa notícia. Em casa da minha filha, todos negativos, excepto o menino que desde a outra semana tinha sido diagnosticado com covid. 

Em simultâneo com o alívio pelas boas notícias, o espanto. O menino, durante essa semana, antes de saber que estava infectado, tinha-se queixado com dores nas costas. Nada de mais. A mãe pensou que seria da mochila pesada. Depois, levemente constipado. Normal. Enquanto isso, sempre na brincadeira e às lutas, ele e o irmão inseparáveis, sempre em cima um do outro. Para além disso, dormem no mesmo quarto, em beliche. E, também para além disso, é super chegado à mãe, andam sempre abraçados e no mimo.  

Porque na turma do menino um dos professores tinha testado positivo, na quinta-feira fez o teste. Na sexta-feira, o menino já estava constipado mas nada de mais. E ele e o irmão em cima um do outro no sofá. No sábado veio o veredicto: positivo. 

Toda a gente pensou que lá em casa seria inevitável que estivessem todos infectados. 

Entretanto, o menino ficou apanhado, com dores de cabeça, muito constipado. Ficou no quarto e o irmão acampou na sala. No dia seguinte, o campista também já estava apanhadíssimo. Espirrava, assoava-se em contínuo. Murcho, enrolado em mantas no sofá, atacado. Lenços e lenços molhados. Não estranhámos. O contrário é que seria de espantar. 

Contudo, ao fazerem testes, os coabitantes, incluindo este outro que já estava doente, a surpresa: negativos. Pensou-se: ainda não estavam com carga viral suficiente. 

Repetiram ao 7º dia. Este resultado que chegou agora: negativos.

No entanto, o menino que comprovadamente teve, continua positivo. Os outros, incluindo o irmão que tão apanhado esteve, nada. Não se percebe. 

Quais os mecanismos de contágio? Sendo esta variante tão contagiosa, como não contagiou quem estava ao lado, em cima, a respirar o mesmo ar?

E o que significa isto: se não foram contagiados, significa isso que são imunes? Podem andar à vontade? Ou o quê?

Se alguém aí desse lado consegue explicar estes fenómenos, muito agradeceria que me explicasse.

Entretanto, do lado do meu filho, os primeiros testes também deram todos negativos (excepto o menino que está positivo). Irão repetir o teste dentro de dias mas, a manterem-se, repetir-se-á o espanto pois os irmãos também andam permanentemente em cima e agarrados uns aos outros. Aliás, os dois rapazes também dormem no mesmo quarto. 

Obviamente fico satisfeita (e descansada) mas, ao mesmo tempo, fico intrigada. 

O que eu gostava mesmo era que se pudesse concluir que, quando em circunstâncias de absoluto contacto, as pessoas não ficam infectadas é porque geneticamente têm características que as tornam imunes. Ou, então, que já tiveram covid sem o saberem e ficaram fortemente imunizados.


Covid à parte, como só por volta das sete iríamos deixar umas coisas a casa do meu filho, nomeadamente um empadão para o jantar deles, ao início da tarde resolvemos rumar ao centro da cidade, mais concretamente ao local em que Lisboa é mais Lisboa: a zona do Chiado, a zona a que sempre me apetece voltar.

Deixámos o carro na 24 de Julho e fomos a pé. Subimos a Rua do Alecrim, descemos a Garrett, fui à Fnac, fui à Bertrand, fotografei, cirandei.


Gosto muito de ver e fotografar pessoas. Tal como acontece em todas as grandes cidades, há várias Lisboas. Mas é desta Lisboa urbana, cosmopolita, aberta e inclusiva que eu mais gosto.

Quando, há mil anos, comecei a andar sozinha em Lisboa, era por aqui que eu gostava de andar: pelas livrarias, pelos alfarrabistas, entre estrangeiros. 

Acontecia, por vezes, dirigirem-se-me em inglês ou francês, convencidos que eu própria era estrangeira. E é sempre assim que aqui me sinto: estrangeira, turista, viajante de primeira viagem, deslumbrada com tudo o que vejo, integrada no apetecível desconhecido.


A luz, o movimento, as cores, a decoração das montras, o vidro das montras que funciona como espelho, as casas e as pessoas que aí se reflectem e a música de quem canta na rua -- tudo me agrada.


As minhas memórias tão presentes, o rio lá em baixo e o casario, os candeeiros, os passeios, as árvores, as vozes de quem passa conversando -- tudo me encanta. Por mil vezes que por aqui passe, sempre me encantarei.


Como tantas me acontece, apeteceu-me fazer a reportagem completa: fotografar, entrevistar quem passa -- quem são, onde vivem, o que fazem, o que pensam, o que as preocupa, o que as anima, de que gostam, o que gostariam de me contar. 

Será que um dia vou ter coragem para fazê-lo? 

Como reagiriam as pessoas se me abeirasse delas e lhes pedisse autorização para as filmar enquanto conversasse com elas...? Seriam compreensivas, achariam piada?


Poderia ter um blog assim, apenas com reportagens, apontamentos, a voz dos outros em discurso directo. Tentaria arranjar algumas perguntas que os deixassem desarmados, disponíveis para conversar. Tentaria que eles próprios me dessem ideias para novas perguntas, para novas reportagens. Pedir-lhes-ia conselhos. Ouvi-los-ia.


Este domingo fiz, pois, muitas fotografias. Agora ao escolher algumas, deixei muitas de lado. Por exemplo, tinha pensado fazer um post só com montras e, por isso, fotografei muitas. Há uma elegância muito lisboeta, muito bcbg nestas montras. Mas ficarão para outro post. 

Contudo, houve uma das que deixei de lado que não tem a ver com montras e que me deixou com pena por não a usar. Tinha visto um casal bonito, elegante, numa posição de proximidade que me pareceu sugestiva: fotografei-os pensando que iria ser uma boa fotografia.

Contudo, agora ao tê-las passado para o computador e ao vê-la fiquei com a sensação de que se trata de um casal clandestino. Há ali qualquer coisa de misterioso, de cúmplice e, ao mesmo tempo, de fugaz. Mais: olhando melhor, fico com a sensação que o homem está, na verdade, a desculpar-se ou a tentar convencer a mulher -- e que ela resiste. Fiz zoom e parece-me perceber nela alguma mágoa, algum cepticismo.

Por tudo isto, essa fotografia não está aqui. Mas, em torno dessa fotografia, eu gostaria de contar uma história.

Mostro outras. Em algumas veem-se os rostos. Como sempre, se algumas das pessoas aqui retratadas não quiser aqui estar, bastará que mo diga que logo retirarei a respectiva fotografia.


Entretanto, o nosso cão-pastor, nascido num monte do Alentejo profundo, gostou do passeio pelo Chiado. Entre tantas pessoas e carros e um movimento e ruído a que aqui ou no campo não está habituado, portou-se às mil maravilhas. 

O mesmo não posso dizer do seu dono que se queixa das minhas paragens e do muito tempo em que fico perdida dentro das livrarias. Desculpa-se com o urso cabeludo, diz que é ele que fica inquieto quando eu fico para trás ou quando entro numa loja e não reapareço de seguida. Mas não é: é ele que não tem paciência para andar devagar ou para ficar parado a olhar coisas que, segundo ele, já vi e fotografei mil vezes. 

Mas é assim mesmo: nem ele nem eu vamos mudar... E enquanto houver estrada para andar a gente vai continuar.

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Desejo-vos uma boa semana, a começar já por esta segunda-feira

Alegria. Bons ares. Bons passeios. Boa disposição. Coragem para ir em frente.

1 comentário:

Corvo Negro disse...

Olá UJM.
Como funciona a variante Omicron não sei, mas sei quem ataca, ataca todos, e de forma igual. Ataca os não vacinados que ainda não foram infetados, os não vacinados que já foram infetados anteriormente, os vacinados com 3 doses, os vacinados com 2 doses e os que já tiveram a infeção e que, por isso levaram uma dose da vacina. Cheguei a esta conclusão a custas próprias (tenho as 3 doses) e de mais 11 familiares que tive cá em casa no Natal e no Fim de Ano (com origens mais diversas - UK, USA, Açores) que se infetaram cá num contacto externo tardiamente identificado (só se safaram 2 adultos e uma bébé) o resto tudo a testar positivo uns a seguir aos outros. Sintomas? quase nenhuns, e os que sentiram alguma coisa foi um dia (ligeira dor de cabeça ou garganta ou zumbidos nos ouvidos ), nem Ben-u-rom precisaram. Isto para abordar a saúde física, porque a parte psicológica (só pelo facto de terem testado positivo) nem lhe digo nem lhe conto, ficou tudo "apanhado da carola". Eu só perguntava: - Mas então o que tens para estar nesse estado? sentes-te mal?, dói-te alguma coisa? respiras mal? R: Não; - Então para que estás nesse estado?. Olhe, não recomendo a ninguém; As pessoas andam de tal modo amedrontadas com os números, com as TVs, com os "especialistas", com a DGS, com a OMS, que nem param para pensar e acabam é por adoecer da psique.
Desejo-lhe um excelente 2022, com saúde e força para gozar as coisas boas da vida, porque do resto não reza a história.