terça-feira, novembro 30, 2021

Dizem que é uma celebração do amor.
Mas, cá para mim, isto das joalharias faz-me é lembrar aquela história do Cesariny...

 


Que o vídeo é uma alegria e uma explosão de movimento envolta no mais luminoso rubro lá isso é verdade. Mas o que é que isso tem a ver com a celebração do amor não sei. 

Se calhar, para os cavalheiros que vão à Place Vendôme escolher uma jóia para a sua bem amada, isso é um sinal de amor. Não digo que não. Claro que é para quem pode mas, enfim, não é por poder que tem menos sentimentos. E, nestas coisas, cada um é como cada qual. 

Agora uma coisa eu sei: se eu não fosse eu mas alguém estupidamente apaixonado por mim e, ao mesmo tempo, estupidamente rico não sei se, para celebrar o amor, a primeira coisa que me ocorreria seria gastar uma fortuna numa gargantilha cravada a diamantes. 

Gosto de jóias. Sim, gosto. Mas o meu gosto tem mudado. Se alturas houve em que me deslumbrava com um clássico ornado com umas belas esmeraldas, safiras, rubis ou, mesmo, diamantes, mais tarde evoluí para a simplicidade, mas uma simplicidade com arrojo. Peças modernas com um design elegante mas algo inesperado. 

Ultimamente já era a simplicidade em absoluto. 

Mais até do que simplicidade: peças com alguma piada a nível estético mas baratas. Por exemplo, algumas peças da Parfois fazem maravilhas numa toilette.

E, como já tenho que chegue para esta vida e para a outra, evoluí para o estadio limite: zero aquisições. Nem jóias nem social-jóias, nem Parfois nem coisa nenhuma. 

Tinha uma pulseira de ouro com um belo design urbano. Pesada, muito bonita, um fecho muito original. Gostava imenso de senti-la no pulso. Era uma peça e tanto. Até que um dia à noite, ao chegar a casa, não a tinha. Fiquei para morrer. Não era apenas o prejuízo mas a pena por ter perdido uma joia tão especial. Voltei atrás e, à noite, percorri a pé o último percurso. Andei dias a perguntar se alguém a tinha visto. Deixei o meu contacto em todas as lojas possíveis e imaginárias. Nada, claro. 

Serviu-me de emenda: usar peças assim no dia a dia nunca mais. 

O que uso -- e uso sempre, fazem parte de mim -- são dois fiozinhos muito fininhos. Tenho-os, como integrantes da minha pele, há décadas.

Quando, no verão, fiquei no hospital em observação de um dia para o outro, tive que os tirar. Coloquei-os na carteira. Quando a minha filha lá conseguiu entrar, pedi-lhe que a entregasse ao meu marido. Tinha ideia que os tinha posto de lado, numa bolsa sem fecho. Quando a dei, esqueci-me de avisar que ele não virasse a carteira. No dia seguinte,  pedi ao meu marido para ver se lá estavam. Não estavam. Ia-me dando uma coisinha má (em cima da que tinha tido). Perguntei se tinha tido cuidado. Enervado, sabia lá ele como é que tinha pegado na carteira. 

Em cima da preocupação pelo estado do meu coração, ainda mais o desgosto por ter ficado sem os meus inseparáveis fiozinhos. 

Quando nesse dia tive alta e cheguei a casa, com a pressão arterial altíssima e sem saber se devia voltar para o hospital, arranjei disponibilidade mental para fazer um break para ir vasculhar a carteira na esperança que o meu marido, pura e simplesmente, não os tivesse visto. Nada. Então, de súbito tive um lampejo e lembrei-me que, na véspera, no hospital, ao tirá-los e guardá-los tinha pensado que tinha que os pôr a bom recato, num separador com fecho, na carteira. Salve.

Quanto a jóias, recordo também sempre o primeiro desgosto que o meu marido me deu, revelando a sua maneira de ser. Tínhamos casado há poucos meses e eu tinha visto numa montra na Rua Augusta um anel de ouro muito fininho com dois pequenos corações em que um se sobrepunha ligeiramente ao outro. Eram de marfim com um aro fininho também de outro. Super discreto, mimoso. Descrevi-o com pormenor. Quando recebi o presente, nem queria acreditar. Um anel em ouro branco e com um lustroso rubi. Um anel descarado. De facto, lindo mas que não passava despercebido. Nada do que eu queria. Tinha vinte anos, vestia-me como as adolescentes se vestiam naquela altura. Não podia imaginar-me com anel tão exuberante. Perguntei porque me tinha oferecido aquele se eu lhe tinha dito tão claramente qual o anel que gostava de ter. Pouco ligou, disse que simplesmente tinha visto aquele anel e tinha achado que me ia ficar bem.

Depois disso fez muitas mais do género, geralmente deixando-me sempre perplexa com o que recebia e que era tão diametralmente oposto em relação ao que lhe tinha sugerido. 

Depois deixei de sugerir o que quer que fosse. Agora, quando quero uma coisa, não peço. Compro. Deixei de esperar o que quer que seja. O que vier está bem. Aliás, estou numa fase em que se não receber nada está também muito bem.

Mas não vou terminar este post natalício sem relembrar uma história, já aqui referida, do Cesariny. Contou ele que estava num alfarrabista ali ao Chiado quando entrou uma madama muito madama, muito sofisticada e cheia de nove horas, e lhe perguntou: Cavalheiro, desculpe-me, isto aqui é uma joalharia? Perante o insólito da pergunta e o ar cagão da baronesa, Cesariny não resistiu e disse: É sim, minha senhora, já aqui fiz muitos broches de joelhos.


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E, conversa à parte, que se entoe o Love is all e que venham as donzelas adornadas a rigor para dançar e celebrar o dito amor e, en passant, para honrar as jóias da Cartier: Monica Bellucci, Khatia Buniatishvili, Lily Collins, Golshifteh Farahani, Willow Smith e outros. Uma festa. E se quem me vê não pode com p pois que não perca tempo nas lastimações. Junte-lhe um h que vai ver que a festa ainda vai ser melhor. 

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E que venha daí um belo smile
Um dia muito bom para todos os que aí, desse lado, fazem o favor de me aturar

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