quarta-feira, maio 26, 2021

O que é preciso para termos um dia bom?

 



No domingo passado olhei para a agenda desta semana e pensei que a semana ia ser mais calma. Afinal surgiram marcações diversas, incontornáveis, que se juntaram a outras minhas e o final acabou por sair sobrecarregado.

Hoje, em cima disto, apareci com uma dor num pé que não sei a que propósito veio. Deitei-me bem e acordei assim. Como geralmente durmo o sono dos justos, uma verdadeira pedra, não sei se estive horas a dormir em cima de um pé mal posto. O que sei é que não fui fazer a minha caminhada da hora do almoço. Agora estou com gelo. Ao fim do dia, enquanto telefonava, estive a andar lá fora mas devagar e a coxear. Coisa bonita, esta. 

E, agora aqui no sofá, voltei ao mesmo de ontem. Talvez devido ao conforto que o gelo proporciona, sentei-me e logo adormeci. 

No fim de semana não deu para descansar. No sábado fomos ao campo e não foi obra mole. Esta semana entrámos em pinturas. Para meu desgosto vamos mesmo manter as paredes rugosas. O pintor disse-me no outro dia: uns a quererem pôr as paredes assim, para darem um ar rústico, e a senhora a querer pô-las lisas. Pois é. A única pessoa que encontrámos que poderia fazê-lo, tentou tudo para me dissuadir e, no fim, nem orçamento apresentou. Os meus filhos e o meu marido não desgostam de as ver assim. O meu filho, então, achava um verdadeiro disparate metermo-nos num trabalho tão difícil para um resultado tão pouco diferenciado. Acabei por desistir, claro. 

Mas, para além das paredes pintadinhas de novo, todas as portas vão ficar branquinhas. Os tectos de madeira da zona mais antiga também vão ficar brancos. Perguntei ao senhor, que é uma simpatia, se poderia pintar também o aparador da sala de jantar e a cómoda e as duas mesas de cabeceira do meu quarto. Torceu-se todo, que é muito trabalho, que não lhe rende. O meu marido avisou-o: 'ela é sempre assim, começa com uma coisa mas depois não pára...'. Ao ouvir isso, o senhor deve ter tido pena de mim e disse: 'depois trago o mostruário das cores'. Portanto, se calhar vai mesmo adiante.

As janelas também serão novas e espero que, para além do conforto, fique tudo muito mais claro e bonito.

Os tapetes de arraiolos que fiz, com o generoso colorido da época, réplicas tão exactas quanto possível, provavelmente vão para a tal zona mais antiga da casa, a que tem as mezzanines e escadas em pedra. E, para a sala de jantar e de estar, a que há quem chame sala-comum, que é também, entre nós, chamada por sala da lareira, a ver se arranjo tapetes claros. Tenho muitas ideias e estou desejando pô-las em prática. Fecho os olhos e imagino-me lá, rodeada de luz e de paz. A minha filha enviou-me links para tapetes claros muito bonitos. Se for adiante com aquela mesa em branco patinado e tampo em carvalho cerusado que ando a namorar e se sempre pintarmos o aparador num cinza mate muito claro, acho que ficará bonito. Penso que toda a casa ficará ainda mais luminosa do que já é. 

Só gostaria de ter tempo para me atirar a vários outros móveis que lá tenho. Já vi umas latas de spray em lindas cores em tons pastel a matizar o branco. Há brancos de todas as cores. Tenho vontade de experimentar. Aquele frisson gostoso que sentia quando começava a pintar um quadro, sinto-o agora quando me ponho a pensar nisto e a imaginar-me a pintar alguns dos meus móveis.

No sábado retirámos e arrumámos as últimas coisas, as últimas roupas, os últimos quadros. O estúdio está cheio que nem um ovo. Com a casa quase vazia, só móveis, parte deles afastados das paredes, fiz uma limpeza. O meu marido achou um disparate: diz que a casa precisará de limpeza depois das pinturas, não antes. Mas faz-me impressão que alguém esteja em minha casa e a veja com algum cotão à vista. 

Mas, com isto, vim cansada. Salvou-me o geladão de que já falei

No domingo, vieram todos cá para casa. Não me canso de os cá ter. Todos: grandes, pequenos e a minha mãe que fomos buscar e levar à noite. O meu marido não estava tão convencido. Dizia que precisava de descansar e que queria ver a final da Taça (ou lá o que era). Mas depois também fica feliz. Já se sabe que é sempre aquela festa, aquelas brincadeiras, conversas, lanches reforçados. Estava vento e fazemos questão de estar na rua e isso foi o pior. Só a minha mãe é que está vacinada. Por isso, há que ter cuidado. Tivemos que nos agasalhar, claro. 

A minha mãe até andou de baloiço. Diz que quando cá está, ainda por cima a andar de baloiço, lhe parece que está num espaço zen. 

Mas, com isto, a verdade é que não consegui descansar. Às vezes sinto que uma sestazinha me cura de cansaços pretéritos e me previne de cansaços futuros. Mas não deu. Claro que foi infinitamente melhor assim. Gosto tanto de estar com eles. Acho que, para os meninos, o estarem juntos, na brincadeira, em total liberdade, é uma grande felicidade. E eu também sinto uma felicidade imensa na companhia de todos deles.

A minha mãe tricotou uma blusinha de fio fininho para a minha filha. Trouxe-a e fica-lhe lindamente. Nem a provou enquanto estava a ser feita. Apesar disso, assenta-lhe como uma luva e tem umas cores que lhe ficam mesmo bem. Vai fazer uma igual para a bisneta que, logo ali, provou a da tia para a minha mãe calcular as malhas que terá que retirar. Estava-lhe quase boa. 

Com as aulas na universidade sénior, com as suas caminhadas, com os seus tricots e com as suas leituras, a minha mãe está sempre ocupada. Ninguém diz a idade que tem, nem pelo aspecto físico nem pela energia e total independência que tem. Espero que os seus bons genes cheguem ainda melhores a toda a descendência. 

Tirando isso, estamos quase a entrar no verão. A nespereira grande está carregada e não temos como lá chegar. A romãzeira está a ficar com as suas belas florzinhas carnudas. Todas as flores estão a abrir em toda a sua alegria. Há pássaros por todo o lado. 

Pensando bem, isto pode ser uma caminhada feliz.


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As fotografias foram feitas aqui em casa  e vêm aqui na companhia de Lascia ch'io pianga (da ópera Rinaldo de Händel), com as Voices of Music e com Kirsten Blaise como soprano

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E antes de me ir, deixem que partilhe convosco um vídeo que achei muito bonito com um encantador de falcões.


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Gostava que todas pessoas do mundo pudessem ficar felizes a ver as flores a romperem a caminho da luz e do verão. Mas esse é um desejo para as misses dos concursos de beleza. No mundo real há guerra, terrorismo, raptos, ameaças, refugiados que arriscam a vida na esperança de dias melhores, que entregam os filhos ao desconhecido e a todos os riscos do mundo certos que o desconhecido será melhor do que a miséria e o medo em que vivem. No mundo real há mesquinhez, maldade. Há secas, vírus, poluição. Há doenças e sofrimento. Sei de tudo isso. Mas como também há coragem e valentia e beleza e generosidade, pode ser que, no cômputo geral, valha a pena.

Um dia bom para si que está aí a ouvir-me a respirar.

4 comentários:

Anónimo disse...

O meu parido avisou-o: 'ela é sempre assim,

Ninguém faz a revisão do texto ?

Estevão disse...

Para a fruta inacessível, há apanhadores muito divertidos, se bem que também podem ser improvisados por qualquer um de nós, nomeadamente um garrafão de água cortado na zona do gargalo e preso na extremidade de uma vara grande. Os pimentinhas vão adorar esta pesca.

https://www.planfor.pt/comprar,apanhador-de-frutas-combisystem-gardena,OM23,PO

Anónimo disse...

meu marido avisou-o: 'ela é sempre assim,

Muito bem! Clap, clap, clap...

Anónimo disse...

Dor no pé??? A aparecer durante a noite??? Pode ser uma crisesinha de gota...
Isabel A.