sexta-feira, março 26, 2021

A vida continua

 



Estamos, de novo, apenas os dois em casa. As obras em casa dos hóspedes acabaram e eles regressaram. Enquanto cá estiveram, porque ficava aqui com companhia até tarde (quem sai aos seus não degenera), apenas pegava nisto lá para a uma ou uma e tal da manhã. Portanto, apesar de ler todos os comentários, não consegui responder a nenhum. Foi sempre meio a dormir que acabei cada post. Hoje, contudo, apesar de poder parecer que ia ser dia de quase descanso, foi, na verdade, outro dia dos valentes. Tentámos condensar um dia inteiro em apenas parte dele e, de tarde, fomos a casa da minha mãe, levámos sumos e bolos e um menino e uma menina para fazerem coro nos parabéns a você. Não foi um comportamento dos mais canónicos mas um dia não são dias, e um dia como o de hoje não podia passar em branco. Além disso, depois não poderíamos mudar de concelho. Portanto, teve que ser.

Não queria cantorias, não queria festejos, ela. Mas, creio, eram meros mixed feelings: por um lado custa-lhe alegrias estando a memória do meu pai ali ao lado ainda tão recente, ele no quarto, ela a querer que a maltinha fizesse pouco barulho para não o incomodar, e, por outro, gosta da alegria de nos ter ali a celebrar a sua vida. Sendo dia de trabalho, os netos não puderam ir e sendo proibido circular entre concelhos a partir de hoje, também não poderia ser no fim de semana, o melhor foi o festejo ser mesmo assim, restrito a nós dois e a dois dos bisnetos. 

Mas ficou feliz. A vida continua.

A bisneta ensinou-a a fazer algumas coisas no tablet, o bisneto comeu que se regalou e foi ver televisão, todo bem instalado, fomos apanhar laranjas, conversámos, provei o poncho que tem estado a fazer-me -- e, sempre que em casa, estivemos sempre de máscara, com as janelas bem abertas e lanchámos à vez. Os meninos mais pequenos andam na escola, sem máscara, podem trazer o bicho -- nunca se sabe. Fica muito estranho: fomos habituados a esperar uns pelos outros para comermos ao mesmo tempo, fomos habituados a beijar-nos e abraçar-nos quando nos vemos. Agora é tudo diferente. 

Mas adaptamo-nos. Que remédio. 

Depois fomos levar os meninos a casa e, aproveitando a viagem, fomos à farmácia e, en passant, fomos comprar comida ao restaurantezinho a que, em tempos, íamos. Só funciona em regime de take away. Mas foi um bocado assustador para quem, como eu, vive aqui recatada e bem mandada. À porta do restaurante umas quantas mesas. Presumo que seja o que se chama venda ao postigo. Uns bebem cervejas, outros comem amêijoas e bebem uns copos, outros conversam e fumam. Todos sem máscara, todos em proximidade total. Todos. Uma animação das antigas, tertúlia à maneira. O meu marido quis logo dar meia volta. Como coloco os meus interesses acima dos meus incómodos, de máscara bem afivelada, tentando arranjar um corredor de ar não contaminado, consegui ir buscar uma ementa. E, de ementa em punho, lá fui ter com ele, que estava afastado, para escolhermos o que encomendar. Depois, contrariado (e quase zangado comigo por eu não ter desandado de imediato), lá foi encomendar os comes. Depois fomos fazer tempo e, quando regressámos, continuava a bem frequentada e animada reinação. Todos sem máscara, todos a escassos centímetros uns dos outros, todos falando alto e bom som, ou seja expelindo ar em quantidades generosas. Tal e qual como se não houvesse nem nunca tivesse havido covid. 

Não chegámos a casa cedo. E, depois de jantar, ainda estive a resolver o que chegou durante a tarde. E isto depois de me ter levantado com as galinhas. Não gosto nada de ter uma reunião logo à primeira hora da manhã. Nada, nada. Não me importo de trabalhar até às quinhentas. Mas não gosto de interacção humana ao início dos inícios da manhã. Mas, enfim, por vezes tem que ser. Foi mais um dia em que estive numa reunião com o cabelo molhado. Dantes saía de casa com o cabelo molhado mas, pelo caminho, o cabelo secava. Agora vou do banho para a reunião quase directamente, apenas o tempo de me vestir e de tomar o meu rápido pequeno almoço de permeio. Não tem mal: faz de conta que é deliberado, um wet look. Não uso secador mas, ao princípio, ficava a achar que, se calhar, devia usá-lo para não me apresentar quase saída do banho. Agora não importo, até acho uma certa graça.

Por isso, é também mais um daqueles dias em que, se não fosse este gosto em escrever, já deveria era estar entre lençóis. Mas ainda aqui estou, os dedos saltitando alegremente sobre o teclado, os dedos ainda bem despertos apesar da cabeça estar a dormir. Não sei como se explica isto. É um misto de não passar sem escrever com gostar de estar com quem, aí desse lado, me acompanha todos os dias. 

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As imagens mostram fantásticas obras de arquitectura e retirei-as de 50 Times Architects Really Outdid Themselves And People Celebrated Their Works Online

Katie Melua interpreta The Walls Of The World

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Entretanto, ao abrir o YouTube, tenho a novidade que Liziqi ganhou um daqueles prémios do Guinness, coisa que me deixou de queixo caído. Pensava que os guiness eram para a maior feijoada, para o maior bolo rei, para o maior nabo ou para proezas do género. Afinal, toma.

Chinese YouTuber 李子柒 Liziqi earns GUINNESS WORLD RECORDS TITLE


Li Ziqi is a Chinese food and country-life blogger, entrepreneur, and internet celebrity. She activated her YouTube channel on 22 August 2017 and her content is about creating dishes from basic ingredients and tools using traditional Chinese techniques.


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Uma sexta-feira feliz

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