domingo, março 24, 2019

O humor britânico ao serviço do Brexit



Sempre apreciei imenso o divertido fair play britânico e sempre fui entusiasta admiradora das séries de humor que passavam na televisão. 


Agora só não sinto falta disso porque a realidade inglesa ultrapassa a ficção e, em consciência, apenas me coibo um bocado de dizer que tudo aquilo a que se assiste -- por parte da enfarilhada Theresa May que não atina nem por mais uma e pelo tatibitate Corbyn que não foi capaz de se decidir sobre o lado para o qual cair, não dançando nem saindo da pista -- é de gargalhada porque começo a pensar que, por incrível que se possa pensar, ainda há o risco de se atirarem mesmo para o precipício.


Toda esta peripécia do Brexit mostra bem como, impensadamente, na maior ligeireza, um povo pode tomar uma decisão parva e, com isso, se pode não apenas ridicularizar perante o mundo como, sobretudo, pôr o reino em sério risco de grave e descontrolada convulsão social e económica -- e, mais: sem que a Rainha se mexa.


Se a monarquia é isto, então vou ali e já venho. Perante o carnaval macaco com que o poder britânico brinda o mundo, da realeza nem um pio.

Continuam a aguardar a chegada de mais um bebé real,  certamente tremendo que o desbocado pai ou a pérfida irmã de Meghan saiam de novo à cena, e continuam com as suas visitinhas, a Rainha com as suas toilettes coloridas e os seus adoráveis chapelinhos, Kate sempre elegante e sorridente, os príncipes sempre simpáticos como a sua simpática e eterna mãe e o eterno-putativo rei Carlos com a sua bem amada Camilla de férias, ambos sempre naquela boa onda, fotografados em fato de banho, numa praia nas Caraíbas.

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Hoje, quando passei os olhos pelo DN, tive esperança que, por ser sábado, a crónica do grande Ferreira Fernandes estivesse aberta. E fui lendo:

Conhecem a última anedota do Brexit?


Quando uma anedota é uma anedota merece ser tratada como piada. E se a tal anedota ocupa um importante cargo histórico não pode ser levada a sério lá porque anda com sapatos de tigresa. Então, se a sua morada oficial é em Downing Street, o nome da rua - "Downing", que traduzido diz "cai, desaba, vai para o galheiro..." - vale como atual e certeira análise política. Tal endereço, tal país. Também o número da porta de Downing Street, o "10", serve hoje para fazer interpretações políticas. Se o algarismo 1 é pela função, mora lá a primeira-ministra, o algarismo 0 qualifica a atual inquilina. Para ser mais exato: apesar de ela ser conservadora, trata-se de um zero à esquerda. Resumindo, o que dizer de uma poderosa governante que se expõe ao desprezo quotidiano do carteiro?

No Brexit rir não é o melhor remédio. É o único remédio. Ah, como seria lindo ver o John Cleese, de chapéu de coco, casaco e colete escuros, calças cinzentas - enfim, um funcionário british como já não os há - e com aquele andar de quem trabalha no Ministério dos Passos Esquisitos! Bastaria um dos brilhantes e bizarros Monty Python andar atrás de Theresa May, nas tristes e bizarras andanças dela nos últimos três anos, para se confirmar que o programa inteiro da política inglesa são passos esquisitos. (...)

[E a partir daqui só com assinatura que não tenho. ]

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E, portanto, à falta da crónica completa do FF e à falta dos Monty Python ou do Little Britain, tenho que me contentar com imagens da mega manif deste sábado em Londres:

Put it to the people














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You shall not pass, Brexit




E ti-jaei

4 comentários:

AV disse...

Também gosto muito da forma como os Britânicos transformam estas ocasiões numa festa, e da imaginação e trabalho que põem nas mensagens. Há uns dias organizaram uma manifestação com cães, em protesto contra as dificuldades que o Brexit virá a criar a viajar com os nossos companheiros de estimação. O tema era ‘Brexit is a dog’s breakfast’. Trouxeram uma grande mesa posta com toalha branca, copos de pé, decantadores de vinho e candelabros. E claro, muitos cães portadores de mensagens de protesto. Uma delícia.

Paulo Batista disse...

Já conhece este?
https://youtu.be/daB7np-RtOM

O do one says bollocks to brexit parece-me ser desta magnífica série que tão bem apanha o atavismo conservador britânico: https://youtu.be/meF7NmfnXZ0

Um Jeito Manso disse...

Olá Lady Anne

Vou ver se descubro fotografias dessa festa. Deve ter sido uma graça. Um povo que sabe rir-se com as burrices em que se vê metido revela que ainda não está tudo perdido.

Uma segunda-feira feliz para si, Senhora de Vaz Con Cellos.

Um Jeito Manso disse...

Olá Paulo,

Não conhecia, não, e já estive a ver. Um dia destes que volte ao Brexit, já terei comédia a preceito.

Thanks a lot, Paulo. E uma boa semana para si.