Não sou de ter falta de auto-estima mas, também, não a tenho em excesso. Na verdade, não sou tema para mim. Se aqui falo muitas vezes de mim é porque é o assunto que tenho mais à mão. Tal como muitos pintores passavam a vida a auto-retratar-se porque não tinham dinheiro para pagar a modelos, também eu deito mão a mim e aos pequenos momentos da minha vida para aqui deitar conversa fora apenas porque é o mais fácil para mim.
Dito isto.
Dito isto, se me perguntam o que mudaria eu no meu corpo fico com dificuldade. Podia mudar mil coisas mas como não sei se as mudanças ficariam harmoniosas não é coisa que me atraia. Suponhamos que dizia que gostava de ter as maçãs do rosto mais salientes. Mas e se depois ficava com olhinhos afundados no meio das saliências? Ou que dizia que gostava de ter pernas mais altas? Então e o resto do corpo ficava igual? Não poderia ser, não é?
Mas há uma coisa que eu não me importava nada de ter diferente: umas mãos maiores. Gostava de ter mãos grandes, esguias, mãos de pianista. E não precisava de mudar o resto do corpo para acomodar umas mãos maiores.
Em tempos houve quem escrevesse poemas às minhas mãos pequeninas mas não foi por isso que passei a gostar mais delas. Não é que desgoste mas, enfim, acho que podia ser maiores.
É que sou toda de mãos: e não é apenas por escrever tanto, por fotografar, pintar, bordar, tudo coisas manuais. É também porque gosto de andar de mão dada, gosto de sentir a pele, gosto do prazer do toque. Ando in heaven com as mãos a deslizarem sobre o alecrim, passo pelas árvores e gosto de sentir a rugosidade dos troncos.
Foi por isso com especial gosto que vi, no sempre belíssimo blog de Steve McCurry, o último post. É dedicado à silenciosa linguagem das mãos.
Um dia a tecnologia permitirá coisas que hoje parecem impossíveis. Por exemplo, permitirá que eu faça chegar até a alguns dos meus leitores o toque e o calor das minhas mãos. Para muitos isso não interessará para nada mas pode ser que, para um ou dois, seja o toque humano que lhes faz tanta falta.
Com as mãos se brinca, se despreza, se ama, se seduz, se resguarda, se ampara, se trabalha, se oculta, se declara o amor, se diz adeus. Dizemos muitas coisas com o silêncio das nossas mãos.
E as fotografias de Steve McCurry, justamente, mostram bem o que é a linguagem silenciosa das mãos. Fotografias belíssimas, humaníssimas, umas que imploram, outras que ocultam, outras que acarinham e protegem. As primeiras lembram-me as mãos da minha avó paterna quando pegava no seu rosário e rezava o terço. Outras recordam-me a coragem dos que procuram a liberdade em países longínquos. Imagens muito tocantes.
Com as mãos se brinca, se despreza, se ama, se seduz, se resguarda, se ampara, se trabalha, se oculta, se declara o amor, se diz adeus. Dizemos muitas coisas com o silêncio das nossas mãos.
E as fotografias de Steve McCurry, justamente, mostram bem o que é a linguagem silenciosa das mãos. Fotografias belíssimas, humaníssimas, umas que imploram, outras que ocultam, outras que acarinham e protegem. As primeiras lembram-me as mãos da minha avó paterna quando pegava no seu rosário e rezava o terço. Outras recordam-me a coragem dos que procuram a liberdade em países longínquos. Imagens muito tocantes.
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Para ver todas as fotos e as oportunas citações que sempre insere nos seus posts, por favor, visitar o último post do blog de Steve McCurry: Silent Languagem of hands.
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Dias felizes!
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Para quem quiser saber de Marcelo a equilibrar-se com a Tânia recomendo que desça um bocadinho
7 comentários:
Olá, bom dia!
1- Mãos de pianista: sabe que a Maria João Pires também tem as mãos pequenas?
Pois tem!
Li algures que ela vai voltar a Belgais, tenho de investigar...
2- Gosto de saber que o McCurry é do meu signo: manias!
Durante anos assinei a National Geographic e até mandava vir as caixas para arquivar as revistas. Quando rumei a norte, deixei-as lá ficar com uma amiga, excepto 6: a de June/85 com a Afghan refugee, 2 com the magic of holograms, outra com o restauro da última ceia do Da Vinci e uma última com um artigo sobre o nosso rio Douro.
Muito mais tarde, quando passou a ter edição em português,comprei apenas um ou outro número avulso.
3- Lembra-se quando uma vez mostrou os pulsos (ai que horror, a ujm a mostrar um pedacito dela!) numa fotografia?
Lembra-se do que eu lhe disse?
A Tá nasceu com as linhas da sorte, "and there's nothing you can do".
Se há alguma coisa que eu sei (e sei muito pouco) é que essas linhas nunca falham:)
Portanto, toca a ser feliz e a espalhar felicidade à sua volta.
Pernas altas para quê?
Eu tenho pernas altas e isso serviu-me para quê?
Para nada!
Dia Feliz!
Adorei este post sobre as mãos, ou não fosse eu a verdadeira crente na mão que embala a mãe.
Cumprimentos e parabéns pelo seu excelente blog.
https://amaoqueembalaamae.blogspot.com
Cara UJM,
Não se queixe das suas mãos – por serem, como diz, pequenas. Ainda bem que assim são! Mãos grandes numa mulher, torna-a um pouco máscula, ou, pelo menos, retira-lhe alguma feminilidade, a meu ver. Para uma pianista, as mãos, desde que esguias, não lhes diminui a tal feminilidade. Temos uma amiga que é uma mulher (muito) interessante do alto dos seus 50 e muitos anos. Todavia, peca, quanto a mim, precisamente pelo tamanho das mãos. Excessivo. Ponho-me a imaginar aquelas mãos a acariciarem-me, cobrindo-me quase todo o rosto. Que coisa! Para mim, as mãos numa mulher são daquelas coisas em que reparo logo. É um aspecto físico importante. A par de outros, como, naturalmente, o rosto, o corpo, a voz, o andar, o sorriso, o rir, o cabelo e a forma como cuida dele, a boca, o nariz, os olhos e o olhar, os gestos, a forma como se senta, etc. Mas, as mãos são daquelas coisas que nos chamam logo à atenção, pelo menos a mim. E se foram pequenas, ou pelo menos de dimensões que não chocam (e sem serem papudas), é logo um importante atributo no poder de atracção dessa mulher. Assim sendo, dê graças por ter umas mãos assim, pequenas e muito femininas.
Mas que tema me deu hoje para comentar!
(Se calhar ainda sou zurzido pelo género feminino!)
P.Rufino
Olá Ms Tree Lover,
Sei que a Maria João tem mãozinhas assim digamos que atípicas. Sempre que a vejo a tocar piano penso que parece impossível como são ágeis e 'normais'.
Seria bom que ela regressasse.
A sua memória é assombrosa. Lembro-me agora dessa fotografia e da sua observação.
Quanto às pernilongas acho uma graça, uma elegância. Pode pôr uma música e dançar como se deslizasse. Mesmo que só em pensamento.
Dias felizes.
Olá 'A Mãe',
Muito obrigada. Engraçado essa da mão que embala a mãe. Nunca tinha pensado nisso mas, na volta, é mesmo capaz de ser verdade que uma mãe tem sempre uma mão a embalá-la, a ampará-la.
Volte sempre.
Ora isso, P. Rufino,
Deu-lhe para isso e deu-lhe muito bem. Foi um gosto ler o seu 'tratado' sobre as mãos de uma mulher. E ainda melhor quando fala tão simpaticamente de mãos pequeninas (e não papudas!).
Gostei de ler. E estou certa de que as mulheres gostarão de ler (mesmo as que têm mãos grandes como um camionista!)
Uma bela 6ª feira, P. Rufino.
Ai, ujm, eram uma elegância (digamos assim) quando eu era como a Irène Jacob no Couleur Rouge (lembra-se?)
Um destes dias fui à net ver como ela está: e está magríssima, linda, maravilhosa... e eu estou um caco velho.
Só fomos quase gémeas no momento fugaz de um filme.
Ainda hoje acho isso tão estranho...
E descobri que ela também canta (e bem) e tem um gato (e um marido giro).
Aposto que também tem as linhas paralelas...
Have a nice Friday!
🌳L
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