A lua está linda por demais. Não há explicação para uma coisa assim. Temos a sorte de viver num planeta onde, à sua volta, esvoaça uma lua caprichosa que ora se mostra ora se oculta, brilhando com uma luz imaginária.
Está frio. Na rua, agora à noite, uma frialdade quase cortante mas, no céu, a lua brilha como uma mulher nocturna, como um pássaro incandescente.
Estou em casa, aqui está um calorzinho bom. Sempre nos meus afazeres, sempre nos meus compromissos, foi já de noite que consegui regressar a casa. No carro, tinha momentaneamente adormecido mas o sono não durou mais que uns cinco minutos. Pensei dormir uma sestazinha ao chegar mas outros afazeres se impuseram. Agora, telefonemas feitos, a pensar que devia ir fazer umas arrumações mas ainda não, se calhar hoje já não, aqui estou, preguiçosa, vontade de ler, vontade de não o fazer, uma indolência que se instalou, colando-se-me aos dedos.
A noite passada, a meio, acordei com vontade de pintar. Um fundo branco e prateado e umas flores amarelas: duas flores amarelas, flores surreais, escandalosamente fictícias, um amarelo dourado intenso. Acordei a pensar que uma das flor deveria estar a ver-se ao espelho. Uma flor amarela, desnuda, a ver-se ao espelho como se fora vénus. E, acordada, estava sem saber se teria as tintas suficientes. E pensava que tinha que pintar de dia para ter a luz certa para bem escolher os cambiantes das cores. Depois voltei a adormecer e, durante o dia, não consegui oportunidade para pintar. E já sei que me vou esquecer do sonho.
Há pouco, quando estava a vir para a sala, vinha às escuras e, antes de acender a luz, pensei que podia começar uma história assim: uma mulher estava em casa e, ao acender a luz da sala, tem um sobressalto quase fulminante vendo um desconhecido sentado no sofá. E foi tão real essa imagem que foi a medo que acendi a luz. Tenho estado aqui com esse susto a trabalhar no subconsciente. Quem era o homem? Quem era a mulher? É assim que começam as minhas histórias: sem eu saber nada. Depois começo a escrever e os enigmas vão sendo desvendados. Mas esta história acho que não vou escrever porque parece que sinto que seria intensa demais e eu não tenho vida para me entregar a coisas assim.
Agora, o meu marido apareceu-me aqui à minha frente. Olhei e apanhei um susto. Estava com uma daquelas coisas escuras a cobrir-lhe o rosto quase todo. Não estava à espera, assustei-me, nem me parecia ele. Comprou uma daquelas espécies de golas pretas muito grandes que só deixam os olhos de fora, para, quando faz caminhadas de madrugada, não ficar enregelado. E agora lembrou-se de a experimentar. Que susto. Eu a pensar no estranho sentado na sala e aparece-me ele nestes preparos...
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Bem, por tudo isto, estando eu assim -- com vontade de e sem energia para -- vou ver as fotografias que fiz ontem, na praia.
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Aqui estão. O Sol da Caparica no Dia da Restauração
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Um feliz dia de domingo a si que aqui está a fazer-me companhia.
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