segunda-feira, novembro 27, 2017

Bordalo II, uma fadista e um Sto. António, uma musa pouco estimada, gaivotas e árvores, casas e barcos.
Lisboa, a bela, num dia de Outono






Caminhar. Descobrir. Rever como se nunca tivesse visto. Espreitar pela lente. O prazer da primeira vez.

Alfama, vielas, becos, escadinhas, arcos, varandas e varandinhas, vasos, piropos, roupa estendida -- e muitas casas reabilitadas.

Grandes armazéns e velhos prédios estão agora a ser restaurados, com bons materiais e bom gosto. Um hotel privado. Janelas de pedra, cortinas, gatos. Recantos que vêm de outros tempos.


Foi, pois, dia de passeio pela cidade. Eu turista, visitante de primeira viagem, sempre encantada, sempre à descoberta. Lisboa, a bela, tão visitada, tão cosmopolita e, no entanto, tão acolhedora, gente de todas as nacionalidades, raças, idades. Uns vestidos de invernia, outros de verão. Casacos, agasalhos. Calções, cavas.

E eu à procura de graffitis, de recantos, de gentes. Espreito as paredes, detenho-me, fotografo.


Na 24 de Julho, um fantástico novo trabalho do Bordalo II. Restos, lixos. O prédio abandonado ganha uma nova vida.

E os largos com árvores tingidas de Outono. Lindas, lindas. Fosse eu capaz de transformar emoções em palavras e haveria agora de estar aqui imaginando romances vividos em casas com vista para o arvoredo. Fosse eu dotada de capacidade de síntese e de musicar ideias e haveria de estar aqui a escrever poemas que soubessem transportar os cheiros da cidade, as cores e os sons e as saudades de todos quantos por aqui, ao longo dos tempos, se sentaram nas esplanadas e escreveram postais aos amados que ficaram noutras paragens.


O novo espaço do Campo das Cebolas quase pronto, uma engenhosa e bela solução que eleva o piso, cria uma nova zona de lazer ampla e luminosa com vista para o casario e para o rio. Um dos espaços mais inesperados da capital, que, certamente, irá trazer ainda mais pessoas para dentro da cidade e para bem próximo do Tejo.


Esta Lisboa que eu amo cada vez mais estimada, mais inteligentemente aproveitada. O novo e o velho, o luminoso e o escuro, o amplo e o esconso. Os azulejos gastos e os novos, os candeeirinhos, as escadinhas.

Há uma arquitectura muito própria que acompanha a orografia da cidade e há uma clarividência extraordinária de quem sabe inventar espaços novos que convivem com os antigos.


E os desenhos, os cartazes, o humor, a graça, o grito, o queixume, a rebeldia, a melancolia. O jeito lisboeta de ser onde a truculência se mescla com a nostalgia, o humor com a poesia, a exuberância da cor com a lágrima sentida.




E, depois, almoço no cantonês, caminhada à beira rio, o frescor do ventinho trazendo a maresia da baixa mar, as gaivotas, as muitas gentes, as muitas línguas.




E, de novo na avenida ribeirinha, o novo terminal de cruzeiros. Ao lado, um paquete enorme por onde entravam os viajantes. As árvores ainda são novas, os acabamentos ainda faltam mas já se percebe ali um outro espaço de modernidade. Não deu para andar por lá a cirandar, apenas o vimos do lado de cá. Um dia destes aproximar-me-ei pois ficámos em dúvida sobre se parte do edifício está ou não sobre a água.


E o Terreiro do Paço e o Cais das Colunas, lugar sempre tão tranquilo apesar da quantidade de gente que por ali anda. O símbolo da abertura portuguesa ao mundo. 


Quando voltámos a casa já a tarde se estava a pôr, já Lisboa anoitecia. Uma suave e serena tarde de Outono.

Era bom que chovesse mas não chove. Se chovesse não teria podido andar a palmilhar o ruedo e as avenidas da cidade, fotografando como se nunca tivesse visto a cidade que diariamente percorro. Mas era tão bom que viesse a chuva.

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Álvaro de Campos e Alberto Caeiro 

Lisboa e o Tejo




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