segunda-feira, novembro 27, 2017

"Nenhuma poesia é possível depois de Auschwitz"...?
Está bem, está.





Poderá alguma coisa tornar-nos incapazes de certas impercepções, de certas cegueiras ou tipos de surdez? Alguma coisa poderá tornar a imaginação responsável e imputável perante os princípios da realidade da existência humana em nosso redor? Essa é a questão.
(...) Uma das respostas possíveis é dizer que toda a nossa cultura se mostrou totalmente impotente e sem defesa, aliás, embelezou uma grande parte do assunto.
Gieseking tocava a integral da música para piano de Debussy durante as noites em que se ouviam os gritos das pessoas nos vagões de comboio selados na estação de Munique com destino a Dachau, nos arredores. Os gritos chegavam à sala de concertos. Isto foi registado. Nenhum testemunho sugere que ele não tenha tocado maravilhosamente bem, tão-pouco que o público não se tenha mostrado completamente receptivo e profundamente comovido.


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"Na base de cada grande obra de arte estão os escombros da barbárie"- Walter Benjamim

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Nenhuma poesia é possível depois de Auschwitz, disse Adorno.

Mas a história encarregou-se de o refutar. Desde logo Celan e Primo Levi, lembra George Steiner. Embora se tenham suicidado a seguir, refere ele.

Mas habituamo-nos bem ao mal dos outros -- essa é a grande verdade. E isto já sou eu a dizer. Temos, aliás, uma extraordinária capacidade para nem nos darmos conta do mal dos outros. Todos nós. 

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Já agora.
Relembremos.

Se isto é um homem - Primo Levi


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SalmoPaul Celan 

Ninguém nos moldará de novo em terra e barro,
ninguém animará pela palavra o nosso pó.
Ninguém.


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O texto lá em cima, em itálico, é um excerto da entrevista de George Steiner concedida à Paris Review em 1995, lida no 3º volume das Entrevistas da Editora Tinta da China.

As imagens representam Auschwitz. A primeira é da autoria de Bart Vromans e a segunda de Anne Berger

Walter Gieseking interpreta "Reflets dans l'eau" de Debussy

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Caso vos apeteça desanuviar, nada como uma caminhada por Lisboa. É só descer.

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