domingo, novembro 26, 2017

Porque é que a empatia está na moda?



Há não muito tempo era o amor. O amor fazia girar o mundo, o amor era a única coisa que importava. Das conversas em família, dos segredos cúmplices e das revistas do coração, o amor transbordou para o ambiente empresarial.

O amor como forma de gestão -- diziam com ar de quem diz coisas sérias.

Diziam e eu ouvia. Confesso: já estive em cenas em que apareciam oradores convidados a falar do amor na gestão. Tínhamos que nos amar todos uns aos outros -- era a mensagem.

Não fora ser coisa sponsorizada pela igreja católica, e poderia pensar-se não se tratar de amor platónico e, numa leitura mais literal, perceber que aquilo era um incentivo à suruba.

Orgia. Mas não, tratava-se de um apelo à orgia platónica, amor puro e fraternal, uma neo-transliteração do velho conceito da 'alegria no trabalho' fusionado (para não dizer fundido) com 'amai-vos uns aos outros' ou, quiçá, 'amai-vos e reproduzi-vos'
E que não se pense que tenho alguma coisa contra o amor. Não tenho. Toda eu sou peace and love. Mas, no mundo da gestão como no resto do mundo, volta e meia a coisa só lá vai à canelada e ao encontrão, quando não com murro na mesa. E, nessas situações, a gente tem que pôr o amor um bocadinho de lado. Digo eu. Mas, lá está, sou agnóstica.
Depois veio a felicidade.

Coisa mais abrangente. Queremos é felicidade. A felicidade deve ser o primeiro e o último motor da vida. Nada mais importa do que sermos felizes e fazermos felizes os que nos rodeiam. Smiles everywhwere. Terapia para a felicidade para todos..

Concordo. Segundo os gurus da gestão, mesmo nas empresas a malta tem que geri-las tendo como primordial critério para tudo a felicidade. Qual lucro, qual capitalização, qual quê. Ebitdas já eram. Queremos é KPIs para medir a felicidade. Felicidade é que é.

A felicidade dos stakeholders.

Colaboradores, accionistas, clientes, fornecedores e tutti quanti todos felizes. Não sei se a concorrência também feliz ou se a esses a malta pode, pelo menos de quando em vez, pisar os calos. Mas, portanto, felicidade. Programas para pôr a rapaziada toda feliz. Não vou entrar em detalhes mas faz-se de tudo. Ter-se uma cesta com fruta do dia à disposição dos colaboradores é pormenor face a tudo o resto.

Mas eis que nova onda ultrapassa, em pertinência, o amor e a felicidade: a da empatia.



Não há assessement que não meça o nível de empatia de cada qual. Não há curso de liderança ou whatever que não ensine a ser empático, não há conversa sobre o que está a dar que não aborde o tema da empatia.


E, uma vez mais, que não se pense que não acho que a empatia é vital. Penso. Pessoa que não seja empática é uma ave que tende ao isolamento ou a ser nociva na interacção com os outros. Chefiando eu algumas pessoas, pessoas que, por sua vez, chefiam outras pessoas, o que mais contacto é como gente inteligente, organizada, dedicada e etc. e tal que acaba por ser uma lástima a lidar com subordinados e pares por, simplesmente, não ser capaz de ser empática. Gente que apenas vê o mundo sob a sua própria perspectiva, gente que não é capaz de se pôr no lugar do outro ou que não percebe o lado emocional da interacção mútua acaba por ser um desastre. E isto é válido no mundo da gestão como na vida em geral. Por isso, acho muito bem que se fale nisto e se estimule a compreensão da empatia. 
O que já me causa um bocado de erisipela é que às tantas parece que tudo se resolve na base da empatia ou que basta ser-se empático para que tudo funcione, relegando para planos secundários a competência profissional, o ser-se focado em torno de objectivos bem concretos, ter-se visão e, até, conhecer minimamente as matérias. E empatia é uma entre muitas outras 'competências', sejam elas comportamentais, profissionais ou outras. Importante -- mas uma entre outras.

Ora bem. Tendo o meu filho regressado de uma formação em regime de imersão lá mais para o norte do mundo, eis que me envia um vídeo para eu pôr no blog. Bem mandada que sou, aqui está ele.


Brené Brown sobre a empatia

What is the best way to ease someone's pain and suffering? In this beautifully animated RSA Short, Dr Brené Brown reminds us that we can only create a genuine empathic connection if we are brave enough to really get in touch with our own fragilities.


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Beijinhos, abraços e lots of empatia para todos.

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