O que é mais real: as flores que nascem dos caminhos de pedra ou a sombra que delas o sol neles desenha ?
Eu que caminho sobre a pedra onde as flores desenham a sua sombra ou a minha sombra que, sobre a pedra, me acompanha?
Eu que caminho nas ruas onde as pessoas me vêem ou eu, invisível, que aqui escrevo como se sonhasse?
E qual a beleza maior: a das perecíveis flores ou a sua efémera sombra?
[Não sei. Nem preciso de saber. Convivo melhor com a dúvida do que com certezas sobre coisas assim]
O sol está alto e o calor de volta e eu dispo as vestes para que o meu corpo se deixe banhar e, em silêncio, caminho por entre folhagens e flores dançando ao sabor da aragem, apanho orégãos cujo perfume aspiro, passeio ao som da sinfonia de pássaros invisíveis, escuto o suave rumor da terra.
E depois agradeço aos céus o azul, e às árvores e às flores as suas cores, e aos pássaros o seu canto e aos orégãos o seu perfume e aos deuses as palavras que me dão e às minhas mãos a vontade de as levantar aos céus agradecendo tantas dádivas.
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