domingo, outubro 18, 2015

Paragens de autocarro soviéticas


Pode a beleza surgir onde menos se espera? Pode a arte romper o conservadorismo? Pode o imprevisto desfazer preconceitos?

Pode. 

No outro dia o meu filho enviou-me um mail com o link para um daqueles artigos que me deixam encantada: falava de Christopher Herwig que fotografou, ao longo de mais de doze anos, paragens de autocarro no que era a União Soviética. O que ele foi descobrindo deixou-o fascinado - e eu, vendo as imagens, fiquei também o fiquei. 


Christopher Herwig percorreu catorze países e andou de carro, autocarro, bicicleta, táxi para chegar aos lugares mais recônditos, a estradas no meio do nada, a vales e montanhas, a aldeias e vilas. Descobriu que as paragens de autocarro soviéticas eram um meio por excelência para os artistas locais se expressarem. O que ali se vê são obras de design ou arquitectura de todas as tendências, desde o mais puro utilitarismo até ao delírio mais fantasioso, gaudiano mesmo.

Quando eu penso naquilo que farei, um dia que deixe o meu trabalho, ou me surge um receio absurdo do vazio (medo de me deixar cair na rotina de deixar passar os dias - arrumar a casa, ir às compras, ver televisão, estar agarrada ao computador - sem uma actividade que me convoque de forma apaixonada) ou me surgem ideias mirabolantes, às catadupas, como se o tempo não fosse chegar para tudo aquilo que queria fazer antes de ir desta para melhor (viajar, fotografar, ir em missões humanitárias para o fim do mundo, escrever, pintar - e outras coisas menos politicamente correctas que aqui não posso revelar).

Por exemplo, vejo as expedições de Christopher Herwig e fico maravilhada. Deve ser tão bom andar por sítios desconhecidos, ir à descoberta, procurar a surpresa, o encantamento, o inexplicável, perder-me em mundos do outro mundo. Ou, então, descobrir a intensidade mais pura dos sentimentos de pessoas normais, um pouco por todo o mundo (mas a este ponto voltarei noutra altura). 

Hoje fico-me pelas paragens de autocarro. Seleccionei umas quantas mas há tantas tão surpreendentes, umas harmoniosamente integradas na paisagem, outras que são explosões de criatividade, manifestações da mais pura liberdade. E não é isto uma ideia excelente que as nossas autarquias poderiam adoptar?
Uma vez escrevei uma carta ao presidente de uma autarquia sugerindo que se apoiasse intensamente a arte, as esculturas de rua, a arte urbana, que se tornasse a cidade uma exposição a céu aberto. Recebi de volta uma carta simpática, que iriam estudar a possibilidade. Mas, claro, os portuguesinhos são, em regra, muito by the book, institucionalmente burocratas, atados, medrosos, todos querendo agradar a todos - ou seja, tudo muito na mediania, aquele denominador comum que não é carne nem é peixe. Mas, enfim, pode ser que um dia. 













No vídeo abaixo, não apenas se podem ver mais como se pode ver Christopher Herwig falando da experiência



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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo dia de domingo.

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