sexta-feira, maio 30, 2014

Toda a nudez será perdoada. Natural é um estilo, dia e noite. E, depois, a terra esquecida. E, ainda, uma conversa de fim de tarde. Fotografia, moda, dança, poesia. Vogue, Chanel, Jiří Kylián, Matilde Campilho.


Intervalo. 

Agora não há política, partidos, chatos, piegas, empatas, palermas. Intervalo mesmo. Espaço para o nada. Vazio. Silêncio. Higiene.

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Agora há o prazer de nada temer, de nada querer. Apenas ser. Ser mulher. O prazer da pele. Da sedução. O prazer dos lençóis brancos, macios e frescos, o prazer de olhar a lente, de expor a nudez, de desafiar o pudor dos outros. Ocultar para logo desvendar. Por nada. Apenas pelo prazer de o fazer.


Gisele Bündchen nua fotografada por Inez van Lamsweerde & Vinoodh Matadin para a Vogue Paris





E o prazer de caminhar, de sentir o cabelo a roçar as costas, de vestir roupas confortáveis, soltas, simples, elegantes, o prazer de sentir a pele a absorver o ar do tempo, o ar que se detém para que o possamos desfrutar, com vagar.

As cores naturais, o beige que é a cor da nudez e o branco que é a cor da inocência, no conjunto a suave beleza da leveza.


LES BEIGES: Natural is a style, day and night - CHANEL






E depois há a terra perdida, esquecida. O abandono do corpo. Mas não, não é abandono. Parece mas não é. É o corpo desprendido de si próprio, o corpo em voo, livre, sonhador. A fluidez dos corpos sob um céu nu. Os corpos em liberdade que se reconhecem.

Inspired by a painting by Norwegian expressionist painter Edvard Munch and English composer Benjamin Britten's Sinfonia da Requiem with its images of the sea engulfing the land, Jiří Kylián's Forgotten Land suggests the rising waves of a grey sea, the ebb and flow of life, and themes of metamorphosis central to human existence.


Jiří Kylián's Forgotten Land




Melody Herrera e Ian Casady do Houston Ballet



Sabe bem lavar a alma, levando as ideias para bem longe do espaço confuso e erodido em que as vozes se sobrepõem.

Não estou a ser selectiva e não estou apenas a referir-me ao Seguro e à sua corte de federações de brincadeirinha. Ou ao Láparo, esse zelig de plástico. Ou ao vice-irrevogável que ninguém leva a sério. Ou às aselhices nacionais, em geral. Nem estou a pensar no Rajoy ou no Hollande ou outros igualmente de plástico. Não. Refiro-me a tudo que parece que existe apenas para poluir o nosso espaço vital. 
Hoje, perdida de sono, e a ter que me levantar daqui a pouco para mais um dia preenchido, não estou com cabeça para grandes lucubrações. Por isso, hoje é de coisas leves que aqui se trata. E só não falo de souflés vaporosos, doces de maçã dourados com mel e outras coisas doces, macias e boas, e de manteiga suave, azeite, geleia, porque isso já me requereria maior concentração.

E há, ainda, os encontros ao fim da tarde.

Um abraço longo, uma aragem no cabelo, a saia que se levanta, os cabelos que esvoaçam. E as palavras e tanto silêncio. E beijos. A mulher sorri, deita a cabeça de lado, pede um daqueles beijos longos e bons. Língua, claro, e olhos fechados, e a mão descarada a descer-lhe as costas.

Mas não apenas isso: as saudades, o mar. Os afectos doces, nus, leves, livres. E que interessa se forem proibidos? Ou que durem uma vida?

Palavras ao fim da tarde.


Conversa de fim de tarde depois de três anos de exílio



Poema de Matilde Campilho, música de Bianca Zampier


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Liberdade, a suprema dádiva.

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1 comentário:

Olinda Melo disse...


Boa onda, sim senhora!
Convida a esvoaçar, a uma conversa de fim de tarde, a andar por aí.
Poema bonito, música a combinar.

:)

Bj

Olinda