As famílias felizes parecem-se todas; as famílias infelizes são infelizes cada uma à sua maneira
Assim escreveu Leo Tolstoi (ou Tolstoy) quando criou Anna Karenina há bem mais de cem anos.
Independentemente do contexto específico em que decorre a história, tão intemporal, tão realista é a situação que o interesse que desperta atravessa o tempo. Várias adaptações ao cinema tiveram já lugar.
Independentemente do contexto específico em que decorre a história, tão intemporal, tão realista é a situação que o interesse que desperta atravessa o tempo. Várias adaptações ao cinema tiveram já lugar.
A última é a que está em cena com Keira Knightley, Jude Law e Aaron Taylor-Johnson. Ao ver o trailer, admito que talvez Keira seja credível mas, ainda assim, parece conter em si a exuberância ou o excesso de beleza que, à partida, a predisporiam para o adultério.
Anna Karenina, tal como a recordo, é uma mulher bela sim, mas uma mulher casada, feliz e acomodada no seu casamento, talvez com algum tédio, talvez com alguma insatisfação mas nada de mais, nada que não fosse o normal nos casamentos tal como eram aceites naqueles tempos (e ainda hoje).
Anna é uma aristocrata rica, bela, tem tudo. Até que conhece o Conde Vronsky.
A partir daí a vida de Anna muda. Passa a ser a mulher perdidamente apaixonada, a mulher adúltera, a que tudo arrisca, a que, por fim, não consegue suportar o ilícito ou , simplesmente, não consegue viver com tão grande amor.
Tinha vontade de ver esta nova adaptação pois os pormenores da história desapareceram da minha memória e talvez nem seja bem como sumariamente a acabo de descrever. Mas não vou: a figura escolhida para o Conde Vronsky não me parece minimamente credível. Não consigo imaginar ali um temperamental, impetuoso apaixonado, capaz de levar Anna a desistir de tudo, até de viver. E Jude Law, o marido, caracterizado da maneira como ali o vejo, parece-me um desperdício injustificável.
Antes tinha havido uma outra adptação, dessa vez com Sophie Marceau e Sean Bean. Mas, aqui, também Sean Bean não me pareceu ter aquele toque que faz uma mulher desligar-se da racionalidade e entregar-se, perdidamente, à paixão.
Parece que houve uma outra adaptação com Vivien leigh mas nunca a vi.
Na minha cabeça, quando penso em Anna Karenina é em Nicola Pagett que penso, um misto de inocência, de irreverência, de impaciência à beira da loucura, e um fogo desmedido.
Quando penso no Conde de Vronsky é em Stuart Wilson que penso. Leviano, apaixonado, terno, belo, sedutor.
Trata-se da mini-série da BBC. Acho que nunca, como naquela altura, o casting foi tão credível. Não encontrei o trailer mas encontrei uma das cenas decisivas.
Anna Karenina, a mulher adúltera, uma das personagens mais credíveis, mais pungentes, mais duradouras da literatura.
*
Antes de me despedir, não quero deixar de vos convidar a visitarem o meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa. Hoje as minhas palavras perdem-se na névoa, perto de um poema de Vasco Graça Moura. Na escolha de música, houve mudança de tercio. Hoje abro a semana que vou dedicar a Ernesto Lecuona. E é o calor cubano que vai começar a aparecer.
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E é isto. Tenham, meus Caros Leitores, uma bela semana a começar já por esta segunda feira.
3 comentários:
Gostei do seu texto.
Não é justo sublimar em "Ana Karenina" o estigma de todas as mulheres que foram adulteras ao longo da História.
Abraço
Olá jrd,
Não era minha intenção. Pareceu isso, foi? Mas não.
É uma das figuras intemporais da literatura mas, tem razão, não sublima as características de todas as adúlteras que atravessaram a história.
De qualquer forma, há uma certa tendência nos escritores para lhes dar um fim triste, o que é aborrecido (tanto mais que não há essa tentação quando se trata de homens adúlteros). Mas, enfim, é o que é.
um abraço, jrd
Não era minha intenção (bem longe) criticá-la.
Mas é um facto que há quem use e abuse da Ana Karenina.
Decerto que que não seria esse o desejo de Tolstoi.
Abraço
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