sábado, maio 19, 2012

Depois da ternura no Pinhão, Ana sente-se a resvalar e Tomás segura-a em S. Salvador do Mundo - a magia do Douro Superior a voltar a cerzir a ficção com a realidade


Música, por favor

John Barry, Banda sonora de Dances with Wolves 



Ana e Tomás combinaram encontrar-se ao pequeno almoço para depois irem fazer uma caminhada pela beira do rio. 

Quando começaram, repararam numa grande agitação, muita gente na ponte pedonal a espreitar a margem, e, lá em baixo, uma ambulância, bombeiros, a guarda. Como sempre acontece nas pequenas cidades, a notícia tinha-se espalhado e, enquanto andavam, pelos fragmentos que iam captando das conversas que dominavam todas as atenções, aos velhos sentados nos muros, às pessoas com quem se cruzavam na caminhada, iam percebendo - 'apareceu', 'foi lá à frente mas vão trazê-lo'. Deliberadamente afastaram-se, não queriam contaminar a boa disposição com uma coisa tão triste. Mas, um pouco depois, passaram os dois pequenos barcos que traziam alguém de quem a alma se tinha já soltado, alguém que já não era mais que um corpo. É assim mesmo, os rios têm momentos de desolação como este.

Tomás afastou o olhar quando os barquinhos passara e chamou por Ana, incomodado, 'vamos'. Ana não resistiu a fotografar mas não deixou que Tomás percebesse e, logo depois, foi com ele. A beira do rio continuava bela e tranquila, indiferente à tristeza que o rio naquele momento transportava.



Nas margens do Douro - a quietude absoluta que se sobrepõe à inquietude  momentânea


Pouco depois voltaram ao hotel para um duche e saíram para o seu percurso.

Ana sentia-se, de novo, um pouco inquieta. Tomás era, para ela, apenas um amigo, um amigo por quem sentia afecto, curiosidade, respeito, e assim pretendia que continuasse. Porém, sentia que para Tomás talvez fosse um pouco mais que isso. Talvez. Mas também não queria aprofundar, não queria falar sobre o assunto, nem sequer pensar. Mas talvez a inquietação não resultasse apenas disso. Não sabia, não percebia com exactidão e Ana era mulher de ciências exactas. Sentia-se muito bem com Tomás, gostava de estar com ele e começava a recear essa sensação.

Tentou, pois, afastar o clima de intimidade que parecia sempre formar-se quando falavam deles próprios. Pediu a Tomás que conduzisse. Ele não queria, disse que se sentia inseguro mas Ana insistiu, aliás ele conhecia bem melhor que ela a região. Como a estrada tinha muitas curvas, não dava para prosseguirem com as leituras e, aliás, com o esplendor da paisagem, não faria sentido ir de olhos presos num livro.

Dirigiram-se ao Pinhão. Aí o rio adoça-se, a paisagem envolve a pequena terra que se aninha rente ao rio e tudo parece mimoso. Ao mesmo tempo parece que o tempo parou. A beleza pura em suspensão no tempo. A estação da CP é bonita, muito arranjada, muito colorida. Tem azulejos de um belo azul, tem um relógio antigo, e, sobretudo, tem montes ao longe.



A estação da CP no Pinhão - tão limpa, tão bem cuidada


E Ana começa, ela também, a adoçar-se. Ri, fotografa, e Tomás, orgulhoso, está feliz por Ana gostar tão exuberantemente da magia das suas terras. Ana enternece-se com a simplicidade harmoniosa da estação.



Interior da Estação da CP no Pinhão - a luz que entra, o tempo que parou


Passa a mão pela bela mesa que está no centro da sala de espera e Tomás sorri, passando também a sua mão. 'O tempo faz bem à madeira, torna-a macia. Sente, Ana? Passe a mão no sentido do veio, assim, sinta. É a macieza da madeira, não há superfície mais macia...', disse ele. Ana já se estava a deixar contagiar pelo local, tudo parecia apelar ao romance: 'Nem a pele de uma mulher, Tomás...?'

Tomás olhou-a, sério: 'Há muito tempo, Ana, que não passo a mão pela superfície de uma mulher.' Ana não soube que dizer. Depois, ele acrescentou como se quisesse ser mais preciso: 'Tenho ideia, sim, que é macia a pele de uma mulher, as costas que ondulam, ou a barriga que se arredonda, tenho ideia, sim, mas é uma ideia muito longínqua, nem sei se é imaginação minha...'. 

Depois, para disfarçar uma afloração de emoção, foi observar o belo móvel de madeira escura com uma porta de vidro que estava num recanto, passou-lhe a mão com ternura. Ana viu e teve vontade de lhe fazer uma festa a ele. Mas não fez.

Ouviram, então, o som de um comboio. 'Venha cá, venha ver', chamou Tomás, puxando-a pela mão até à linha de caminho de ferro.



O comboio percorre o cenário - mas o colorido comboio, as flores, as casinhas e os montes
tão bem desenhados... são mesmo a sério...!


Ana desatou a fotografar. Um comboio deslizava a caminho da paisagem. 'Parece que estou no meio de um filme, Tomás.'

'Pois parece... vamos lá a ver é,  no final do filme, quem é que fica com a miúda...', gracejou Tomás.

Ana fez de conta que não percebeu.

A seguir, ele puxou de novo por ela, 'Vamos, quero mostra-lhe um sítio especial' e já iam de mão dada. Ana pensava que não queria, não queria, não queria mesmo, que tinha que lhe dizer que tirasse daí o sentido, que parvoíce o que estava a acontecer. Mas não foi capaz, não disse nada, deixou-se levar pela mão.

Quando entraram no carro, Ana não dizia nada e Tomás também não. Ela não perguntou para onde iam e ele também não disse nada.

Até que chegaram a um local, a mais um local mágico. 'São Salvador do Mundo' disse Tomás pausadamente como se dissesse o nome de uma prece.

E ela ficou ali, a respirar o ar doce e perfumado dos campos floridos, um ar tão limpo, tão cheiroso, o cheirinho doce dos campos puros. E a olhar. A olhar. A olhar até o olhar se perder de si própria. 



S. Salvador do Mundo - o local em que Deus começou o mundo


Nem sentiu Tomás a aproximar-se. Apenas sentiu quando ele se encostou às suas costas e passou os seus braços em torno do seu pescoço. Ana encostada ao corpo esguio de Tomás, ambos olhando a paisagem em silêncio. Apetecia-lhe chorar, cair por terra - mas Tomás estava a ampará-la e ela sentiu-se feliz por estar presa a Tomás num momento tão tocante.



S. Salvador do Mundo - o Douro e os montes. E uma beleza esmagadora, uma beleza absoluta


Depois ele levou-a pela mão, 'Olha Ana'. Ana olhava assombrada, quase sem respirar, tanta beleza não é possível. 

Depois perguntou-lhe: 'Quando se vive num sítio deste como é que se arranja coragem para o deixar?'



S. Salvador do Mundo - a magia de um local em que o Homem melhorou a obra de Deus


Tomás respirou fundo, pensou, depois disse, 'Vivia por aqui, não sabia como era o mundo, pensava que era melhor, queria descobrir outros mundos, fui para a cidade, fiquei por lá até que mudei de vida, andei aos tombos, e depois fui parar lá à vila'.

Ana, olhou-o, tão sério que estava. Mas teve medo de ouvir mais porque sabia que quanto mais soubesse mais se envolveria. Então atalhou: 'Depois me conta, Tomás; está bem? Agora deixe-me apenas olhar, quero que esta paisagem fique gravada dentro de mim. Olhe comigo, Tomás, posso eu depois, quando estiver longe, querer tirar alguma dúvida' e sorriu para ele não perceber que estava com medo.

Mas iam abraçados quando foram de novo até ao carro. 'E agora para onde me vai levar, Tomás? Para que mundos me leva, senhor meu salvador?'



A elegância viril dos ciprestes e dos cedros pontuando a paisagem em contraponto
com a sinuosidade feminina dos socalcos, toda ela refegos e folhos gentilmente trabalhados à mão


'Agora vamos para a beira do rio e vamos almoçar, vai gostar' e enquanto desciam para Ferradosa e Ana se ia deslumbrando com a paisagem, Tomás disse: 'Agora, ao almoço, conto-lhe, então, um pouco da minha vida e, a seguir, conta-me a Ana de si.' 

Ana estremeceu por dentro.


***

E é isto, por hoje, meus Amigos.

Relembro que se quiserem ler esta história (que me está a levar para caminhos inesperados) poderão procurar 'Ana muda de vida' nas etiquetas aí de lado, lá mais para baixo. 

Tenham, meus Caros, um belo sábado. 

Apreciem o que vos rodeia, apreciem a vida, apreciem cada pequena coisa. 
Há milhares de coisas boas para serem vividas. E, se as não têm à mão e não as podem procurar, então, não faz mal: sonhem, imaginem - também é bom.

18 comentários:

Anónimo disse...

Cá vou lendo e seguindo com particular interesse esta história de Ana e Tomás. Realmente, como disse noutra ocasião, pense um dia em escrever e publicar um livro.
Quanto ao percurso pelo Douro, que maravilhosamente nos descreve, quer neste, quer no Post anterior, estou como Leonor: encantado!
Aquilo são paisagens de cortar a respiração, sítios únicos. De uma beleza profunda, que nos enche a Alma!
Aquele percurso que outro dia a Leonor propôs é muito bonito. E vejo que seguiu a sua sugestão. E S.Salvador do Mundo, aquele miradouro, cuja vista é de cortar a respiração, nunca mais se esquece.
Desfrute! Desfrute tudo: a paisagem de encantar, o bom vinho, a gastronomia local, a simpatia das gentes, etc.
Se porventura passar em Alijó, permita-me uma pequena revelação: foi meu tio avô, Jósé Rufino (casado com uma senhora francesa, uma encantadora e doce senhora, Jeanine de seu nome), à época presidente da câmara, quem mandou construir a Pousada Barão de Forrester (cuja rua tem o seu nome, José Rufino), em homenagem ao tal Barão (que recebeu o titulo de D.Pedro V) e ao Douro vinhateiro, ele que também era proprietario vinhateiro, a exemplo de meu avô, Joaquim Rufino, que também lá tem o nome numa rua, por razões beneméritas.
A Pousada era a única na altura que não pertencia à restante rede de Pousadas, mas à Câmara de Alijó. Hoje está integrada na rede de Pousadas. Ainda tivemos um tio, Pedro Rufino, que foi, creio, o último director da Pousada, quando ainda pertencia à Câmara Municipal.
A nossa família – Rufino - tem ali as suas raízes. E foi ali, muitas vezes vindos no comboio do Tua, do Porto para Alijó, que eu e meus irmãos arribávamos a terras do Douro, para passarmos 2 a 3 semanas de férias. Preferiamos a aventura de 4 horas de comboio, à viagem de carro com nossos pais.
A terminar: que belas e extraordinárias fotografias do Douro, aqui nos revela!
Bem Haja, boas férias!
P.Rufino

Isabel disse...

Hoje li os dois ultimos post, que ontem não tinha lido.
Adorei as fotos. Não conheço o norte e tenho pena.Deve ser lindíssimo. Eu saio pouco daqui.

A história está a ficar cada vez mais romântica. E eu já desejo um final cor-de-rosa...mas pronto, já sabemos que a vida não é cor-de-rosa! A ver vamos como segue este prenúncio de romance...

Vivo cada vez mais seguindo esse conselho que nos deixa - tentar ser feliz com o que tenho e ver o lado positivo de tudo. Procuro e como também não sou uma pessoa ambiciosa, desejando o que não posso ter, sou feliz.

Um beijinho e continuação de boas férias.

Pôr do Sol disse...

Querida Jeitinho,

Ainda bem que resolveu acompanhar Ana e Tomas nessa viagem por esse Portugal tão belo e tão puro.

Uma das coisas que procuro visitar em viagens, são as estações de CP.Bem escondidas o meio da mais pequena serra ou vila, existe sempre uma contando a sua historia e são sempre lindas.

(isto na Capital anda de mal a pior, as "relvas" por aqui,de tão consporcadas, nem verdes são, mas esses dias de desintoxicação vão fazer-nos bem)

É essa pureza, esses horizontes sem fim, beleza verdejante para lá do alguma vez sonhado que está a levar o casalinho de amigos ao desejo de comunhão.

È a força dessa Natureza que desperta Tomás da letargia em que cairam os seus afectos, adormeceu emoções.

Ana teme acordá-las, mas tambem sente essa força que a contagia.

Quem sabe se depois de Tomás abrir a sua alma em confidencias, Ana percebe que lá longe está a sua outra metade.

Quem sabe se um nevão(coisa de serra) põe serenidade nesse passeio.

Não deixe de os observar pois estou curiosa da vida desse carpinteiro reservado.

Conte-nos tudo.

Boa Viagem

Anónimo disse...

Cara UJM:
Ana, mulher da cidade, admira-se pelo atraso da região, “quase não há tabuletas e cruzamentos sem qualquer indicação” e Tomás lembra-a que está nas terras por detrás dos montes, onde a vida tem prioridades que a cidade nunca poderá entender, no Reino Maravilhoso de Torga.

Este é o nosso Portugal profundo, a merecer mais atenção, não acha, cara UJM?

Ana, tão independente, está a perder o controlo da situação. Está, digo eu, a “meter-se na boca do lobo”. Tomás, o simples carpinteiro, que a salvou da queda em S. Salvador do Mundo e ali mesmo declamou Torga está a revelar-se um verdadeiro predador. Mas quem abriu a porta da solidão da alma do carpinteiro?

S. Salvador do Mundo … de granito:
Que salvaste, afinal?
Ossos e ossos deste velho mito
Que, sem terra, se chama Portugal.

Nós nas giestas pedem-te, devotos,
Carne de alcova, húmus de semente.
E são fragas que dás, beijos remotos
Num corpo que no céu há-de ser quente.

S. Salvador do Mundo … português:
Temos rezado tanto,
E dás-nos este monte, esta aridez
Feita pela erosão do nosso pranto!

Miguel Torga, Diário IV, Pesqueira, 8 de Abril, 1949

Há nele qualquer mistério, que Ana ainda não descobriu. E mais intrigada ficou, quando se apercebeu que o dono do restaurante o reconheceu (o filho do comissário dos ingleses da Quinta de Vargelas) e lhe ouviu dizer: “ lá isso de me esquecer da classe a que pertenço e da classe a que os outros pertencem é pecado que não cometo”.

Que revelações irão ser feitas ao almoço?
Estou tão curiosa!

Feliz estadia, sem curvas, nem percalços, no Reino Maravilhoso
abraço amigo da
Leanor formosa e segura

Um Jeito Manso disse...

Caro P. Rufino,

Está recordado de quem aqui falou pela primeira vez em S. Salvador do Mundo, não está?

Eu já ia preparada para me deparar com a beleza em estado puro mas a verdade é que me senti invadida pela emoção perante tamanha grandiosidade. É a natureza que é mesmo um excesso e é o trabalho dos homens.

Abençoadas são as pessoas que têm raízes em sítios assim. Que beleza devia ser a viagem de comboio. Aquela linha à beira do rio ainda funciona?

Nós éramos para ter umas mini-férias mas afinal foram umas mini-férias menos um dia pois fomos requisitados para fazer baby sitting sábado à noite e, por isso, e porque em primeiro lugar estão eles, lá viemos um dia antes. E agora que lá consegui pôr os pestinhas a dormir (... mas custou...), aqui estou a responder aos vossos comentários, sempre tão atenciosos e que tanto enriquecem este espaço.

Mas teremos forçosamente que lá voltar, há coisas que têm que ser vistas devagar. Limitámo-nos a andar junto ao Douro, a passear (e a comer...).

Não conheço Alijó e agora, que me fala, na sua família, ainda com mais pena fico de não ter tido possibilidade de lá ir. Se ainda lá estivesse amanhã iria, com certeza.

Já fui ao Google ver Alijó e deve ser também uma beleza (e lá vi a Pousada na Rua Comendador José Rufino).

Fico contente por ter gostado das fotografias. Tirei-as quase em contínuo, umas trezentas e tal, nem sei, se calhar até mais. Vejo-me aflita para as escolher para pôr aqui. Não quero escolher aquelas que são muito postal ilustrado mas, antes, uma forma de ver que é minha mas, enfim, é sempre subjectivo.

Estou encantada. Conhecia Trás os Montes de ir ficar no hotel de Alfândega da Fé ou de ir a Bragança, jantar ao Solar Bragantino (será este o nome?) ou de ir a caminho dos Picos da Europa ou coisa do género mas nunca nos tínhamos detido assim, só a ver.

Obrigada por me ter(em) despertado esse interesse. Cada vez gosto mais da natureza e cada vez mais me convenço que as oportunidades para se conhecerem novas coisas aparecem inesperadamente. Neste caso apareceram por via dos meus queridos leitores.

Obrigada também pelas suas palavras!

Um Jeito Manso disse...

Isabel, menina do arco-íris,

Já lá estive a ver o seu gatinho brincalhão e o belo arco-íris. Tem razão ao dizer que nas grandes cidades é coisa que não se vê. Eu, durante a semana, só o consigo ver quando ele me aparece quando estou no carro e fico contente como se estivesse a ver uma aparição rara.

Quanto a sair pouco daí é que já me parece que poderia tentar dar umas saidinhas... No outro dia em Peso da Régua vi chegar um autocarro que trazia um grupo que vinha a passeio. É tão bom passear, conhecer terras diferentes. E ali à beira do Douro vi que há barcos que fazem passeios. Mesmo sem carro penso que é possível organizar belos passeios.

Mas, seja como for, o sítio onde vive também é lindo e, aliás, os sítios são o que nós quisermos fazer deles. E, andando com uma máquina, descobrem-se pormenores e momentos que, de outra forma, passam despercebidos, não é?

Fico muito contente que a sua vida seja tranquila e feliz, Isabel.

Quanto a Ana e a Tomás, a minha ideia é que fossem e ficassem apenas amigos mas agora já não sei...

A ver vamos como a história evolui.

Um beijinho, Isabel.

Um Jeito Manso disse...

Olá Querida Pôr do Sol,

Vínhamos ouvindo na rádio as notícias e qual não é o nosso espanto quando ouvimos que o dito ministro-adjunto ameaçou colocar na internet informações pessoais sobre a jornalista...! Ficámos de boca aberta. Mas isso não é chantagem? E chantagem não é crime? E onde arranjou um ministro informações pessoais sobre uma jornalista?

Ao que já chegámos... Que coisa mais rasteira.

Pois, como escrevi acima, fomos requisitados para uma missão esta noite e lá viémos, pois, um dia antes. Mas a causa era nobre e aos nossos meninos não costumamos dizer que não. E agora que já dormem os dois diabretes e que acho que já me deram outra vez cabo das costas (adormecer o bebé - de 14 kg... - que só quer brincar com o traquinas do mais crescidinho, e que faz birras de sono sem querer dormir, é trabalho pesado...).

Nem sei se hoje consigo escrever alguma coisa pois não sei se aqui tenho concentração, e quando sairmos daqui, ainda temos que ir para nossa casa, a lindas horas e com a bagagem...

Mas, se quer que lhe diga, estou aqui 'em pulgas' para ver o que acontece com aquele 'casalinho' que não era para ser casalinho e para saber que história é a do Tomás (porque há história, com certeza).

Quando leio as vossas hipóteses fico ainda mais danadinha para desatar a escrever.

Um beijinho, Sol Nascente.

Um Jeito Manso disse...

Olá Leanor, formosa e segura,

Já me fez rir com essa de não haver tabuletas, indicações nos cruzamentos (e o GPS que se baralhou...?).

De vez em quando, quando estávamos a ir por aquelas estradas estreitinhas, sem protecção, a subir, subir, subir,e sem sabermos se íamos da direcção certa, o meu marido lamentava-se (=barafustava: 'metes-me em cada uma, tu...!'

E agora vem a Leanor e diz-me que eu é que estou mal habituada... Mas diga-me lá como é que as pessoas de lá se orientam...?

Um dos dias, para darmos com um restaurante na Régua (e eu, organizadinha, tinha tirado as moradas de tudo) nem queira saber o cabo dos trabalhos. O GPS não tinha essa morada, a cidade tinha obras, as pessoas a quem perguntávamos não sabiam. Então o que é que duas pessoas da cidade ultrapassam uma dificuldade destas? Ligámos a um dos filhos, dissemos mais ou menos onde estávamos, ele colocou no Google satélite e foi-nos guiando, ('agora à direita passam um prédio alto, depois há uma rua com árvores à esquerda, depois uma bomba de gasolina, depois uma rotunda, viram na segunda....etc, etc, e agora já devem estar ao pé do restaurante' - e, milagre!, estávamos.

Ora não recorrendo a estas mordomias, como é que dávamos com o restaurante... não me diz, Leanor...?

Quanto ao poema que aqui nos deixa (lindo!) e quanto às suas sugestões... já sabe que fico com vontade de desatar a escrever para desfiar os nós que vocês me vão dando...

Mas se eu quero que eles fiquem amigos porque Ana tem uma outra vida à espera, como é que agora descalço esta...?

Quanto ao dono do restaurante é ficção ou é verdade? Vou aqui cometer uma inconfidência: vi lá um sujeito... enfim, que poderia personificar o Tomás... Não sei se seria o dono, tinha um chapéu, tinha cão enorme a quem fazia festas enquanto lia, enfim, não me alongo pois posso estar a falar de alguém que vocês, transmontanos, conheçam.

Bom, vou ver se tenho cabeça para escrever alguma coisa (porque braço quase não tenho, ou melhor, ombro, depois de ter andado não sei quanto tempo com um peso-pesado ao colo, a querer escapar-se para ir brincar com o irmão que não se calava...)

Um abraço Leanor e, uma vez mais, muito obrigada!

PS: Os restaurantes: cinco estrelas!

Anónimo disse...

Cara UJM:

Mas que grande confusão entre ficção e realidade.

Estava a ser ir irónica quando me referi à falta de tabuletas e indicações nos cruzamentos, porque também me irrito, e muito, pela falta de indicações sinaléticas, o que só mostra o atraso da região, que devia merecer mais atenção de autarcas e governantes.

Lamento imenso o contratempo.

Quanto ao dono do restaurante, que não conheço, é ficção.

Já os “comissários” (fazem parte da realidade) eram os homens que representavam as casas exportadoras de vinhos, sobretudo as casas inglesas, que eram nos anos 40, 50 os grandes exportadores.
Ser “comissário” era ser alguém que vivia muito bem porque não havia patrões melhores que os ingleses, como se dizia no Douro. E nada faltava a quem servia os ingleses. Eram, no entanto, vistos pelos outros com alguma reserva, às vezes acusados de se esquecerem das origens, outras vezes de servilismo.

Espero que esteja já refeita do percalço, o seu marido menos zangado, e a gozar um merecido descanso. Porque depois desta viagem, vir tratar de duas crianças só por muito amor, felizes meninos. super avó.

Tenha um bom domingo e dias muito felizes
Abraço amigo da
Leanor formosa e segura

Maria disse...

Querida Amiga:
Só hoje, li os muitos testemunhos de compreensão e solidariedade que recebi, no dia em que contei o que se passou com o meu amiguinho.
Estou ainda tão amargurada, que nem sei a quem respondi. A todos agradeço, com muita ternura, a vossa amizade. Foi muito bom para mim. Ter amigos como vós, é muito bom.
Ainda dói muito. Mas quando se chega à minha idade, já estamos habituados a perder seres queridos.
Eu já perdi tantos! Custa-me sempre a reagir, mas acabo por o fazer.
Amiga, desculpe usar mais uma vez o seu espaço.
Vou tentar ler "Ana e os homens".
Continuação de bons dias de descanso, por terras de Torga.
Beijinhos
Mary

Anónimo disse...

Estimada UJM,
Permita-me só acrescentar ainda: de S. Salvador do Mundo (que nome curioso!) avista-se na verdade uma paisagem absolutamente extraordinária. Fico contente de saber que por lá passaram. Sem querer estar a “defender a minha causa” (o Douro), quem tem a oportunidade de ver aquilo dali (de S. Salvador), viu concerteza uma pequena maravilha.
A uma sobrinha minha, que vai casar, dizia-lhe: passa por lá um dia com o teu futuro marido. E fiquem por ali, em silêncio, os dois. A olhar aquela serena e belíssima paisagem.
Ah, e a estação do Pinhão, que bonita fotografia!
A este propósito, gostava de voltar um dia a Barca de Alva. Outro local magnífico e ver como se encontra a sua velha estação, hoje desactivada, ao que julgo.
Tenha uma boa semana!
P.Rufino

Um Jeito Manso disse...

Olá Leanor,

Qual contratempo... o que eu lhe disse de cada vez que ele protestou foi que ainda bem que andávamos 'perdidos' para podermos andar ali, no meio das fragas, sem gente, no meio da mais pura natureza, no meio da paz mais absoluta.

Estamos habituados a autoestradas, a ter que chegar a horas e a andar em stress e, mesmo quando não há pressas, nem compromissos, temos aquela tendência de achar que estamos a 'perder' muito tempo nos trajectos.

Adorei e ele também, isso é que é verdade e em breve voltaremos pois há lugares que requerem tempo.

Gostei dessa informação sobre os comissários, não sabia. A Quinta das Vargelas tinha lá escrito Taylor's, pensámos que seria a quinta dos vinhos do mesmo nome.

E aquele solitário do grande cão que eu, quando o olhei, me parecia estar a ver o 'meu' Tomás, podia muito bem ser o filho do comissário.

Quanto aos babies, é a ternura maior e agora mesmo que me tinha aqui sentado a ver e responder aos comentários, recebi um telefonema a dizerem-me que a terceira, a princesinha linda, vem agora para cá, que os pais vão aproveitar para irem sossegados às compras.

(O que me vale é que com pomadas e com um ben-u-ron ontem à noite, o meu ombro e as minhas costas melhoraram...)

Fui mãe muito nova e os meus filhos, embora não tão precoces como eu, também estão a ter filhos relativamente cedo, pelo que eu, para gozo dos meus amigos que adoram chamar-me 'avozinha' ou 'trisavó', já vou no terceiro e a caminho do quarto.

É uma felicidade que não tem tamanho - eles gostam muito de estar comigo e eu, ainda mais, de estar com eles.

Um abraço Leanor!

Anónimo disse...

Já agora...também, eu e minha Mulher, fomos pais cedo e para nossa satisfação, vamos ter a visita do neto (que ainda não conhecemos – apenas pelo Skype)), com 6 meses (vindos da Costa Rica!), dentro de 2 semanas!
E quem sabe se um dia, mais crescidinho, não o levamos a conhecer S.Salvador do Mundo e o Douro!
P.Rufino

Maria disse...

Amiga:
A Gaivota começa a querer abrir as asas. Já tenta voar um pouco, mas as mágoas tiram-lhe as forças.
Este mês de Maio, que já foi o meu mês amado, o mês das flores, de aniversários de pessoas queridas, do cheirinho a Primavera, tornou-se um mês triste. Faziam anos, a minha mãe, a minha sogra, o meu cunhado, o Vasco, um sobrinho e uma sobrinha. Só restam os 3 últimos. Os outros partiram, eu estive a morrer, agora perdi o meu amigo.
Voltando ao Douro: São Salvador do Mundo, para mim, é mais o acabamento ideal dele, assim como a cereja em cima do bolo. A vista que temos lá de cima, é maravilhosa. Sentimos-nos acima do mundo, das querelas, das coisas ínfimas, a que damos tanta importância, noutros locais. Aquela mistura de trabalho de Deus e dos homens, é outro mundo. Terra regada de suor, lágrimas e sangue, só poderia ser assim. Amo o Douro. Encontro lá a Paz. Espero que o mesmo aconteça consigo e com a Ana.
Como eu precisava de um pouquinho de Paz!
Dentro de dias, vou ao Algarve.
Talvez acorde da letargia em que me encontro.
Beijinhos
Mary

Um Jeito Manso disse...

Mary, olá!

Já estou cá, e, desde que cheguei ainda não parei: entre novos, novíssimos e séniores, tenho andado numa roda viva. Mas entre afectos estou como peixe na água e o cansaço não pesa.

Foram umas micro-mini-férias mas muito bem aproveitadas. A sua nora deve ter muitas saudades de Trás os Montes, é uma zona linda. A mim não me dá para fazer poemas como à Mary ou às pessoas que têm mesmo a poesia na alma, dá-me para fotografar e para ficar em silêncio. De depois para, agora que escrevo aqui, para vos contar as minhas impressões.

Fico muito contente que já esteja a recomeçar a animar-se. Custa muito, custa mesmo mas o tempo vai ajudando a atenuar o peso da saudade.

Um beijinho, Mary!

Um Jeito Manso disse...

Olá P. Rufino,

Acho muito bem que a sua sobrinha lá vá com o namorado pois é um baptismo de natureza pura e locais assim unem as pessoas. No entanto, penso que apenas se apreciam mesmo as paisagens assim quando já se viu muito, quando já se consegue perceber que, por muito que se viaje, por muito que se viva, é nas coisas genuínas, na natureza de beleza imensa, no trabalho dedicado dos homens, que está o melhor que o nosso olhar pode contemplar.

Apreciar um local assim requer silêncio, reverência, respeito. Mas se eles lá forem e já tiverem a maturidade para desfrutar aquela maravilha, de certeza ficarão mais unidos. É um bom conselho o seu.

Falou-me em Barca de Alva e eu pensei que conhecia, que há algum tempo tinha estado a passar férias por lá e depois lembrei-me, 'lá e em Ponte de Lima' e só, então, percebi que estava a confundir com Ponte da Barca.

Barca de Alva acho que não conheço. Já fui espreitar ao Google e parece ser bem bonita.

Nas próximas férias acho que vou voltar a Trás os Montes pois vejo que há sítios maravilhosos e que eu, incrivelmente, não conheço.

Aprendo imenso convosco e, por isso, por todos os motivos estou-vos sempre muito agradecida.

Uma boa semana também para si, P. Rufino!

Um Jeito Manso disse...

Mary, gaivota já quase a voar,

A minha resposta cruzou-se no ar com o seu último comentário.

Mas volto aqui para lhe recordar que Maio é também o Maio maduro Maio, a primavera madura a caminho do verão, e é um mês em que os campos estão em flor, em que a natureza mostra que sempre se renova. Assim acontece com a sua família, com todas as famílias, desaparecem uns, que nos são queridos, mas aparecem outros, novos, que vão nascendo e nos vão renovando.

Espero que o Algarve a anime, a faça sentir uma turista descontraída, que passeie, que esteja sol e que esses dias sejam de festa e alegria.

Um beijinho, Mary!

Um Jeito Manso disse...

Caro P. Rufino,

Aconteceu consigo o mesmo que com a Mary, os nossos comentários cruzaram-se.

Que alegria ir conhecer um netinho que ainda não se conhece ao vivo, que alegria poder ir tê-lo ao colo, e já numa idade em que são tão engraçados. Que bom! É uma alegria superior a de vermos os nossos filhos realizados e felizes, já na qualidade de pais (ou mães, consoante o caso).

(Mas Costa Rica...? Tão longe....? Deve custar-vos imenso ter um filho tão longe...; mas, enfim, o Skype ajuda a encurtar distâncias).

Os meus filhos têm tido filhos de carreirinha. Este bebé que vai nascer nem 2 anos de diferença vai fazer da irmãzinha e os outros dois (terroristas!) têm 2 e picos de diferença.

Mas, felizmente (e agora, noc-noc-noc, vou bater três vezes na madeira para não atrair más sortes...), até aqui tenho a sorte de os ter perto de mim, todas as semanas estou com eles pelo menos uma vez.

Mas a gente habitua-se a tudo. Não tem outro remédio, não é? Se algum dos meus (noc-noc-noc outra vez...) tivesse que ir trabalhar para longe, que remédio teria eu senão habituar-me como tanta gente se habitua, não é?

Ainda quanto ao seu netinho: tenho a certeza que um dia o vai levar a conhecer a S. Salvador do Mundo. Mas só quando ele for crescidinho, é melhor...

Eu também só lá quero ir com os meus quando forem ajuizados e não andarem a correr por todo o lado porque aquilo mete medo se tivermos crianças pequenas e irrequietas connosco.