Não vejo como é que o PSD vai aceitar que quem irresponsavelmente atirou o País para eleições antecipadas, depois de andar a tentar esconder o que já estava à vista de toda a gente (e ando a ouvir dizer com alguma insistência que ainda mais está para vir a lume), seja o líder que vai conduzir a campanha eleitoral que aí vem.
Além disso, começam a ouvir-se outros nomes no seio do partido. Portanto, não sei se a instabilidade dentro do PSD não virá juntar-se à instabilidade em que Montenegro lançou o país.
Acresce que o tipo parece não ter noção. Faz coisas de uma leviandade que não lembram ao diabo. Baldou-se a uma cimeira da maior relevância e, ao mesmo tempo, é visto a transportar o carrinho dos tacos de golf enquanto, ao lado, o amigo da Solverde vai de mãozinhas. Podendo alojar-se na Residência Oficial de S. Bento, fica num hotel cujos custos não se percebe como paga com o ordenado que ganha, hotel esse onde se passam todos os grandes eventos do PSD, levando a que já haja quem tema que ainda venha a saber-se que está a ter um tratamento 'especial'. Dá ideia que é aquela mania que tem que quer, pode e manda e não tem que dar satisfações a ninguém. Aliás, na Assembleia da República, até deixou sair que 'tem mais que fazer do que estar ali a dar explicações'. Talvez por isso nem se tenha dado ao trabalho de informar o Presidente da República que ia fazer um anúncio no sábado à noite, rodeado pelo governo, que, mais que certamente, ia atirar o País para nova crise. Uma desconsideração um bocado surreal demais.
Portanto, sendo o menino do calibre que já se viu, o PSD vai aceitar ser conduzido para o desastre eleitoral sem tugir nem mugir?
Do CDS não falo. Não existe.
Do lado do PS, tenho algumas dúvidas. Numa lógica de que há que ter estabilidade, o Partido Socialista tem feito de tudo para que não haja crise: deixou passar tudo o que o PSD quis e agora queria tudo menos eleições. Pedro Nuno Santos queria fazer uns Estados Gerais ao longo de 1 ano para daí emergir um Programa de Iniciativas que desse origem a um programa de governo e uma equipa ministerial. Portanto, eleições agora é tudo o que o PS fez tudo para evitar.
Mas as coisas são o que são. Num mundo ideal fazem-se as coisas ponderadamente, com tempo, step by step. Mas o mundo real geralmente atropela o mundo ideal. Portanto, situemo-nos no âmbito em que estamos, ou seja, no meio da confusão.
Sempre achei o José Luís Carneiro mais sólido, mais estruturado, do que o Pedro Nuno Santos. Mas não foi isso que o PS quis. Portanto, é Pedro Nuno Santos que tem que ir à luta. E só espero que se saiba rodear dos melhores. Há nos quadros do PS gente muito capaz, há que saber contar com eles. E há que saber recrutar gente capaz na sociedade civil, não necessariamente dentro do partido. Os timings são apertados, a conjuntura internacional é do caraças -- ou seja, nada disto é para meninos. Portanto, há o PS tem que dar ao pedal e manter a cabeça no lugar.
Quanto ao PCP, tudo o que faz é ao lado, é cada vez mais uma nulidade, nem vale a pena pensar nisso.
O Bloco está esvaziado, não sei se ainda consegue tracção para ir à luta.
O Livre não consegue agarrar senão um eleitorado restrito, mais intelectual e purista. Uma base eleitoral exígua.
A Iniciativa Eleitoral tem sabido manter-se sóbria, com intervenções racionais, sem embandeirar em arco, sem ceder a facilitismos. Provavelmente continuará a aguentar-se e talvez até a subir junto do eleitorado mais jovem e mais escolado.
Sobra o Chega. Nesta perspetiva, isto é, nas próximas eleições, para mim uma incógnita. André Ventura tem uma agilidade e habilidade mental notáveis. Consegue sacudir de si todos os escândalos que têm recaído sobre os seus deputados. É aquilo que se diz: nestes partidos, escândalos que não ferem o líder, não abalam as opções de voto dos simpatizantes. E, neste caso concreto, André Ventura pode capitalizar dizendo que, ao apresentar a 1ª moção de censura, fê-lo cedo demais pois o tempo (e não foi preciso muito) veio a dar-lhe razão. André Ventura consegue ocupar a agenda mediática: é sempre o primeiro a falar para a opinião pública, é sempre o primeiro a pronunciar-se e sabe falar com clareza e eficácia. Compreende-se que uma parte significativa da população se sinta confortável a votar nele.
Mais do que termos medo de André Ventura ou mostrarmos nojo do Chega, penso que o mais inteligente é perceber como é que a forma de comunicação deste partido e desta pessoa são tão eficazes. Abstraiamo-nos da demagogia, do populismo, da falta de vergonha e fixemo-nos na eficácia, no sentido de oportunidade, na construção das frases e na escolha das palavras. Talvez haja ilações que possam ser úteis.
Uma coisa é certa: a política de amiguismo, de nomeações por filiações partidárias, os 'tachos', levadas a cabo por partidos que têm ocupado o poder merecem profundo repúdio por parte da população. Ventura cavalga em cima disso. Mas o PS deveria interiorizar também estes princípios pois são essas práticas que minam a confiança do eleitorado.
Tirando isso, o que se me oferece dizer sobre tudo isto é que, para já, coitado do Marques Mendes. Ganda nóia.
1 comentário:
Sempre achei este fulano um Chico esperto, espero não me desiludir
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