segunda-feira, janeiro 27, 2025

Constatações e perplexidades num dia assim

 

Num domingo sombrio, ventoso, chuvoso, até para secar a roupa esteve incerto. Quando me pareceu que, de certeza, não ia chover e pendurei a roupa, passado um bocado estava a chuviscar. 

Fomos caminhar e não me apeteceu levar o chapéu de chuva pois o vento levá-lo-ia pelos ares e, de resto, não chovia que se justificasse, mas cheguei a casa com o cabelo todo húmido, à frente quase que a querer encaracolar.

O tempo assim, molhado, é bom para a terra mas é um bocado pesado para a alma.

Os meus dois familiares continuam internados e uma pessoa de quem esperava um mail escreveu-me hoje a dizer que tem estado doente. Alguns amigos continuam com mazelas mas não posso vir para aqui armada em pessimista pois a maioria está bem e recomenda-se e encontro neles mais planos de se divertirem e gozarem a vida à grande e à francesa do que antes.

Portanto, ponho para trás das costas uma conversa cinzenta e falo de coisas boas.

O limoeiro está carregadinho de limões. As laranjeiras também estiveram carregadas mas tem sido um desatino. Muitas caíram antes de tempo, outras apodrecem nas árvores e, finalmente, os ratos devem andar a comer as mais doces pois temos encontrado laranjas como encontrávamos as romãs: a casca lá mas vazias por dentro.

No outro dia o meu marido viu um ratinho enfiado numa taça de vidro, mais copo que taça, que tem lá dentro vela citronela, daquelas usadas para espantar as moscas e abelhas no verão. Pois o ratinho, com o rabo de fora, estava a comer a vela.

O meu marido tem vontade de se desfazer do rato -- ou dos ratos. Mas eu não sei se não seria mais inteligente arranjar-lhes uma casinha e darmos-lhes de comer para ver se os tornamos mais civilizados. 

Tirando isso e o resto, gostava de perceber qual o racional do irracional ex-chegano ao vender roupa a preço da uva mijona. Mas, à medida que vou sabendo mais pormenores desta fabulosa história, mais vou pensando que não há racionalidade possível em nada do que envolve esta criatura que o partido Chega acolheu e tanto palco lhe deu.

A perplexidade invade-me sempre que alguém se revela extraordinariamente destituído de inteligência (ia usar uma palavra mas não quero cometer nenhuma injustiça para com o animal em que estava a pensar). Só que, neste caso, a total ausência de inteligência do 'bicho' alia-se a um descaramento totalmente desavergonhado. E isso torna tudo ainda mais desconcertante. Podia ser cómico, e é muito, mas deixa de sê-lo quando se pensa que é deputado da Nação, que se prepara para continuar a ser -- e que vive à conta do erário público.

Que a criatura esteja agora de férias, a receber o ordenado, pago pela Segurança Social ainda mais me revolve as entranhas. 

A democracia deixa-se devorar por dentro ao fechar os olhos e admitir aberrações destas.

Mas, pronto, adiante.

E venha daí uma nova semana.

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