quinta-feira, fevereiro 08, 2024

O Montenegro quer baldar-se, os polícias metem baixa e a Joana Amaral Dias comenta --
e eu, perante este malsão panorama, acho mais saudável virar-me para as coisinhas domésticas

 

O meu marido diz sempre que temos coisas a mais cá em casa. E, no entanto, a casa está longe de paracer 'atafulhada'. Há muito espaço livre. 

Mas não consigo arranjar espaço para cá ter mais nada sem que pareça despropositado. 

A minha filha diz que, por exemplo, devíamos mesmo arranjar maneira de aproveitar a grande escrivaninha que está na sala maior da casa dos meus pais. É um móvel grande, largo e alto. Tem grandes gavetas e depois tem um alçado considerável que se fecha com a porta que, aberta, assenta em dois suportes, tornando-se zona de trabalho. Sempre me lembro daquele grande móvel e os meus filhos também. Para eles, era uma arca do tesouro. Há lá de tudo. Os meus netos também tinham o hábito de, mal lá chegados, quererem que o 'tampo' fosse aberto para descobrirem canetas, lápis, carimbos, molas, plasticinas, moldes, clips, papéis, autocolantes. Nem sei o que para ali há. 

Mas nem a minha filha tem onde colocar móvel com aquele arcaboiço nem o meu filho nem eu. E não vou pô-la na garagem. Seria um fim pouco digno para um móvel tão icónico.

Eu, que gosto tanto de decoração, sinto-me completamente limitada pois não apenas o meu marido, por ele, teria a casa quase vazia como eu própria me sinto mal em casas com coisas a monte.

Uma das noites em que quase não dormi, incomodadíssima, foi quando fomos visitar um familiar cuja casa pós-divórcio ainda não conhecíamos. Aquilo transtornou-me de uma maneira difícil de descrever. Uma grande moradia numa quinta. Mora ele e a actual mulher. Só os dois e os cães. A casa é enorme, tenho ideia que térrea mas, sinceramente, não tenho a certeza que não tenha um piso superior. Sei é que tem uma cave com a mesma área que o piso térreo. E tudo cheio que nem um ovo. Sempre lhe tínhamos conhecido gosto por algumas coisas. Por exemplo, relógios. Pois tem salas pejadas de relógios, relógios de toda a espécie e feitio, em prateleiras, de chão, vitrinas com relógios mais pequenos e delicados, até as paredes todas cobertas com relógios de parede incluindo um de uma estação de comboios. Depois tem miniaturas de comboios, linhas de comboio montadas, carruagens, máquinas, cidades e montanhas para servirem de cenário aos comboios. Salas pejadas de comboios. E por onde passávamos havia muito de tudo. Mesmo a casa, no piso térreo, tinha móveis, sofás, cadeiras, cadeirões, mesas, cadeiras, aparadores, escrivaninhas, estantes, tapetes, quadros, relógios, tudo, tudo em excesso. Uma pessoa sente-se esmagada. E, no entanto, ele estava orgulhoso. 

Eu andava por entre aquela avalancha e só pensava que uma casa assim é impossível de limpar. É que nem consigo imaginar como se mantém uma casa tão grande, tão, tão, tão cheia de tudo. 

Por aqui, por estas bandas, as pessoas de vez em quando devem redecorar as casas, desfazendo-se do que têm. Nas noites em que o carro da Câmara passa a recolher monos, por vezes, quando ando a caminhar, vejo coisas que me deixam cheia de vontade de as levar, eu, para casa. No outro dia vi um cadeirão largo e baixo, em veludo, num tom de azul alfazema escuro, em perfeito estado. Tinha uma forma elegante, pouco usual, o género de peça que pode ser o focal point a nível decorativo de uma divisão. Nem ousei dizer que gostava de ficar com ele senão o meu marido rifava-me. Mas, também, não teria onde pô-lo. No entanto, que pena uma coisa assim estar no passeio, desprezado. Numa outra vez vi uma estante alta, de boa qualidade, bonita. Quem é que se desfaz de uma estante assim? Com a falta que as estantes sempre fazem... E houve uma vez que nem queríamos acreditar. O passeio cheio de mobílias boas, móveis de excelente design e madeiras, sofás em perfeito estado, muitos. Nem percebíamos se teriam posto ali para serem transportados para outra casa. Depois compreendemos que não, pois, no dia seguinte, ainda lá estavam. Eram 'monos'. Provavelmente alguém quis vender a casa sem móveis e não se deu ao trabalho de lhes arranjar melhor destino. 

E, no verão, num pinhal aqui perto, apareceu um conjunto completo de sofás de veludo, sofá de três lugares, sofá de dois e dois individuais. Impecáveis. Até parecia que alguém, como elemento provocador, mais do que decorativo, tinha resolvido ver o que as pessoas faziam ao darem com uma espécie de sala a meio do pinhal. Ali estiveram talvez uma semana. Depois desapareceram.

E, se estou com isto, é porque ando cansada demais e sem grande pachorra para falar do Montotónegro que agora teve a peregrina ideia de se fazer representar pelo Baldasmelo* nos debates com aqueles que, pelos vistos, eles acham que é malta da equipa B.

Muito menos tenho pachorra para a tropa fandanga das polícias e afins que, entre baixas a pontapé e ameaças de toda a espécie e feitio, resolveram fazer o papelão que, antes, os professores -- a toque de caixa do baderneiro do Stop e do social-baderneiro Nogueira -- faziam. Com a diferença que, enquanto os professores se limitavam a prejudicar os alunos e as famílias e a fazer cartazes em que o Primeiro-Ministro aparecia com cara de porco e lápis espetados nos olhos, as chamadas Forças da Ordem têm a particularidade de andar armadas e de chegarem ao ponto de ameaçar com a não realização das próximas eleições. Gente fina.

Muito menos tenho inspiração para comentar o surrealismo que vi de passagem, estando a Joana Barbie-Kitada Dias a comentar os debates ou lá o que é que ela estava a comentar. Há coisas do além que a gente ainda consegue aguentar. Mas esta não.

Portanto, desculpem-me mas só me apetece dizer o mesmo que a mãe de um amigo meu, prima de umas conhecidas manas benzocas de sangue azul e já aqui algumas vezes referidas: 'Não tenho idade nem condição social para aturar isto'.

Portanto, penso que conseguirão compreender e desculpar-me: aos costumes digo nada e viro-me mas é para a arquitectura, para a decoração e coisas afins.

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Simplicity and Sophistication: TJ Residence by Lucas Takaoka 
| ARCHITECTURE HUNTER

TJ Residence, situated in Barueri, Brazil, was designed by architect Lucas Takaoka, especially for his parents. Takaoka's thoughtful choices and intricate details weave a narrative of responsibility and personal expression into the very fabric of the house, serving as a testament to the architect's profound connection to home. Dive into The Panorama of Residence TJ!


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Um dia bom
Saúde. Paciência. Paz

4 comentários:

Anónimo disse...

👍🏻👍🏻👍🏻👍🏻

Anónimo disse...

👍🏻👍🏻👍🏻

Anónimo disse...

Tentando apenas alçar-se a candidato acima de outros. É um clássico.
Mais interessante é o papel do CESOP Católica como instrumento da campanha eleitoral do PSD. O director, Homem Cristo António, talvez devesse explicar o que anda a fazer. Basta ler o que escreveu na revista Punkto em comentário a Levi Bismarck sobre as eleições autárquicas em Lisboa.

É que ter uma universidade que diz que não é privada (concordatária) a fazer política partidária não me parece que vá muito ao encontro do espírito da Concordata.

Um Jeito Manso disse...

Concordo.

(Porque é que as televisões não comentam a falta de isenção do CESOP Católica?)