domingo, agosto 20, 2023

A beleza do impermanente, do imperfeito, do rústico, do melancólico

 

Às vezes penso que, se um dia destes der de caras com um daqueles meus antigos colegas de trabalho que eram cheios de prosa, todos certezas e teorias, cheios de objectivos e medidas para aferir a sua prossecução, não sei se vou conseguir manter um daqueles diálogos que antes conseguia (embora com um certo esforço) sustentar.

Não é que eu, nessa altura, não incentivasse a ambição, o foco, a assertividade, o ímpeto em conseguir chegar à frente antes dos outros. Incentivava. O mundo das empresas em contexto de concorrência feroz assim o exige. Sobrevivem as empresas que se aguentam na luta da selva, feita para a sobrevivência dos mais ágeis, dos mais fortes, dos mais hábeis.

Mas nunca fui de colocar isso acima de tudo e, muito menos, de ter uma conversa quase exclusivamente moldada por isso. Pelo contrário, sempre tentei deixar espaço à alegria, ao improviso, ao diferente, ao erro e ao desafio.

Mas agora que estou fora desse mundo, estou em pleno processo de descompressão. Sempre me senti muito próxima da simplicidade, da natureza, sempre estive muito consciente da minha efemeridade, sempre me senti agradecida. Mas agora isso acentua-se de dia para dia. E toda eu me inclino para a aceitação da diferença, da beleza espontânea -- mesmo que pouco convencional --, da generosidade dos gestos de compreensão.

O algoritmo do Youtube, fino que nem um alho, esperto que só ele, adivinha-me o estado de espírito e alimenta-me as entranhas espirituais com vídeos que me agradam, inspiram, ensinam.

O meu dia foi um dia feliz, tal como o de ontem. Ter a casa cheia de risos, cantares, alegrias, poder estar na conversa com aqueles de que gosto, tudo isso me enche de felicidade.

No outro dia, alguém escreveu aqui um comentário (que não publiquei pois quem o escreveu esticou-se para além do razoável) em que, entre outras coisas, me criticava por eu ser como sou. Dizia que eu cultivo este estado de espírito 'feliz' e ignoro o que é mau e desagradável. Não é verdade pois frequentemente aqui falo do que me desagrada. Mas é verdade que a minha natureza é esta: valorizo as coisas boas, agradeço-as, cultivo-as com carinho. E tento não me deixar afogar na depressão das más notícias e das desgraças. Quem quiser viver delas, cultivá-las à exaustão, deve procurar o Correio da Manhã e não o Um Jeito Manso

Ao contrário das pessoas que passam a vida a dizer mal de colegas, chefes, vizinhos, familiares, etc, eu não tenho paciência para isso. E nem é uma questão de paciência, é mesmo que as ignoro. E ignoro-as até involuntariamente. Não quer dizer que seja completamente insensível à maldade. Não sou. Se alguém me faz alguma que é mesmo má, deliberadamente má, repetidamente má, aí eu afasto-me, viro costas, apago da minha existência. Não quer dizer que o assunto fique completamente morto e enterrado pois, se me fizerem reviver o assunto, lembrá-lo-ei com a mesma agastura e a mesma certeza de que não tem volta. Mas, mal a conversa acabe, ponho nova pedra sobre o assunto. E bola para a frente.

Quero é ter espaço na minha mente e na minha vida para descobrir coisas e pessoas boas, inesperadas, pacíficas, felizes.

Hoje apareceu-me isto. 

What is Wabi Sabi?

Gosto disto

_________________________________-_____

Desejo-vos um bom dia de domingo

Saúde. Bom coração. Simplicidade. Paz.

2 comentários:

Lena disse...

se sem pensar, há quem venha ao engano, enquanto o nome, já diz da essência o bastante, compreenda-se pelo menos, o magnetismo...o bem, o bom, o belo, são a justa e merecida medida dos que vivem, experimentam, criam, e vivem do que criam, não só disto ou daquilo, mas de tanto, felizes com o que são, com o que têm, com o que fazem. entenda-se: "o mundo está mesmo dentro de nós"!

Um Jeito Manso disse...

Olá Lena

Muito obrigada pelas suas palavras. São um abraço amigo.

Dias felizes para si.