Estive ocupada até há pouco. À hora de almoço fomos ao supermercado. O meu marido vem de lá sempre irritado, diz que não percebe como é que é preciso trazer sempre tantas coisas. Fruta, legumes, pão, kefir, iogurtes líquidos para os miúdos, sumos para os dias de festa, cervejas, peixe, alguns dos ingredientes para domingo. Desta vez não vieram detergentes, gel ou shampoo. Desta vez, que me lembre, apenas comestíveis. E, no entanto, viemos carregados.
Quando estamos a arrumar as coisas desejo sempre não ter que lá voltar tão cedo. Mas já sei que qualquer dia estamos, de novo, lá caídos.
Depois do trabalho, fomos à Decathlon. O meu marido precisava de uns ténis. Andava também com uma dor no pé e, por vezes, na perna. Podia ser para me imitar ao retardador mas não é coisa que faça bem o seu género. Como começou a doer a seguir à vacina e como as vacinas têm as costas largas, ainda se pensou que se calhar era dela. Mas não. Foi, então, ao médico. Se bem entendi, o médico ter-lhe-á dito que é uma de três: ou o facto de já não ir para novo ou incursões matinais puxadas de mais ou ténis já gastos. Optou pelos ténis.
Se fosse noutros tempos, ele teria vindo de lá sem nenhuns e eu com uns. É que ele é esquisito, pouca coisa lhe agrada e, sobretudo, não tem paciência nem para olhar para os expositores e, muito menos, para os provar. Enquanto isso, eu olharia para os de mulher e como não sou esquisita e tenho paciência para tudo e mais alguma coisa, rapidamente encontraria uns mesmo lindos e úteis. Hoje não. Mal lá cheguei, pensei: não preciso de nada. Então, empenhei-me em descobrir uns bons para ele. E trouxe: giros à brava e, aparentemente, super-confortáveis.
De caminho, aproveitámos para aprovisionarmos vestimentas para o primeiro leão da série e, já agora, a seguir, aproveitámos para ir comprar sardinhas assadas. Magras, sem graça. Mas, pronto, não tive que fazer o jantar e sardinhas são sardinhas são sardinhas. Ou seja, não sendo rosas, são um peixe igualmente cheio de carisma. Comeram-se e ainda pingaram o pão.
A seguir liguei ao meu filho não fosse ele ligar-me muito tarde. Apareceu-me o menino do meio a dizer qualquer coisa que não percebi e logo o mais novo apareceu a falar numa espada. Disse que não percebia. Que espada? Disse-me: uma espada para o super-herói. Perguntei: mas porque estás a dizer isso? Resposta: épara comprares a farda. O irmão neutralizou-o: não é nada. E passaram-me, então, o telefone ao meu filho. Acabei por não perceber o tema do super-herói.
Depois fui aperaltar-me. Depois fui sentar-me frente ao computador para ver como ficava. Até me perfumei. O meu marido disse: quem é que se perfuma para uma coisa em zoom? Respondi: para o que é, sinto-me mais completa se estiver perfumada. Não me disse nada. Sei que não percebe e que já desistiu de perceber. Eu também não saberia explicar. O mundo está cheio de coisas inexplicáveis.
Das dez à meia-noite estive no zoom e foi muito interessante. Une première. Cenas de que naturalmente não posso falar.
A seguir despi-me e vim para aqui: vi o House e só depois agarrei no computador.
Hoje ouvi, enquanto vínhamos no carro, que há vendavais e enxurradas na Alemanha e que já morreram 59 pessoas. Em Liège a confusão está também armada com a população a ser aconselhada a sair da cidade devido à expectável subida do rio. O clima está desesperado e o tempo avança entre os sobressaltos que o planeta está a sofrer. Ouço que não sei onde, creio que algures no Canadá, a temperatura rasou os 50ºC. Não sei como vai ser. Será talvez o inferno a subir das profundezas da terra para devorar os homens que, á superfície, tão mal têm feito à natureza. Nem quero pensar no planeta que vou deixar aos meus descendentes. Uma vergonha.
Devia ser a maior de entre as grandes prioridades do mundo nos próximos dez anos: voltar a pôr o planeta no trilho da sustentabilidade. Melhor: da sobrevivência.
Bem.
Hoje não vou responder a comentários nem vou conseguir escrever mais. Estou com muito sono.
É que, ainda por cima, acordei com as galinhas. Barulho na rua, o meu marido já a pé. Espertei. Depois ainda tentei dormir um pouco mais mas já não consegui. Portanto, a overdose que foi o dia de hoje em cima de cerca de quatro horas e tal de sono da noite passada, estão a puxar-me daqui para a fora: Ala moça, ide para a caminha.
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