quarta-feira, julho 14, 2021

Agarrada

 



Isto está bonito... Arranjam-me cada uma. Andava eu tão indiferente aos streamings desta vida e fui cair nesta armadilha. 

Há bocado, convenci o meu marido a ver mais um episódio do Virgin River. Não estava afim. Coisa a atirar para o melodramático não faz o seu género. Disse-lhe que não, que aquilo deve ter para ali algum twist, que às tantas aquilo é capaz de não ser o que parece, uma cena tipo Twin Peaks, os mistérios a estalarem de debaixo das pedras. Não liga a argumentos mas, às tantas, também não tem paciência para os meus argumentos. Encolheu os ombros naquela base pronto, se queres. põe lá isso. Contudo, foi convencimento de pouca dura. Vimos até ao fim do episódio e desistiu.

Achei que deveríamos, então, render-nos às evidências. Vamos ver The Crown? Hesitou. Aproveitei o momento de hesitação, e cliquei. 

Gostámos. Papámos o primeiro episódio e fomo-nos para o segundo. Ele ainda olhou para o relógio. Em condições normais, já estaria a dormir. Mas aguentou firme e fomos até ao fim do segundo. E são longos, caraças.

Parámos agora, já passa da meia-noite. E ainda tenho o House para ver. A minha vida vai-se complicando. Deveria fazer opções: ou a netflix ou o house ou o blog. Como sou dada a exageros, fico com tudo e, portanto, dá para tarde o que, convenhamos, vai contra todas as recomendações clínicas. Só tenho coisas que me ralem... (e ponham lols e ehehehe nestas ralações)

A malta do baldinho de água fria bem pode vir para aqui despejar-mos na cabeça dizendo-me que o que está a dar são séries coreanas e que Emily in Paris, quiçá The Crown e quejandos é tudo tralha do passado. Que seja. Cheguei atrasada, so what? De vez em quando apetece-me duvidar do caminho da estrada por onde segue a multidão e deixo-me ficar por caminhos laterais, perdida em deambulações, ouvindo a conversa das árvores e o canto dos pássaros, contemplando a arte das flores pintadas por deuses invisíveis.

Até que, depois de mil vezes desafiada, decido espreitar e... claro... verifico o óbvio: é casa de mil tentações. E, se bem intuo, durante os próximos tempos irei banquetear-me com a fartura que por aqui há até que as coreanas estejam fora de moda, quiçá até as vietnamitas que se lhe seguirão ou mesmo as mexicanas que virão a seguir.

Na volta, sou avant garde coisa nenhuma, sou é antiquada, old school. E é isto que este mundo e esta vida têm de extraordinário: não há idade para a gente descobrir coisas, para se apaixonar por novas ideias (ou por novas pessoas). Agora que, na volta, deveria era já estar a fazer palavras cruzadas e sudokus para manter a cabecinha em ordem, estou numa é de experimentar o que por aí estiver a dar. E ainda vos ei-de contar de mais outra que me ofereceram, por sinal também o meu filho. Tão despassarada e ignorante que sou, quando vi fui cheirar, parecia-me um sabonete. Afinal... está bem, está, uma coisa toda high tech. Mas conto outro dia pois é outro mundo novo que se me está a abrir. Novo para mim. Bem sei que, quando contar, aparecerá a malta do baldinho a rir e a dizer que já não estou é com nada, que o que agora está a dar é um implante auricular. Mas eu não quero saber. 

Bem, adiante.

Agora mesmo resolvi ir à secção de Astro da Madame le Figaro. Confirma-se: a energia é muita, a motivação feroz, a vontade de fazer coisas é inabalável. E, para quem sente, de vez em quando, algum cansaço, nada que uma pequena sesta não resolva.

Confere. A manhã foi em sucessivas reuniões. O meu marido assomou à minha porta antes de sair e disse: estás a voltar ao mesmo...

Acabei já bastante tarde. Fui ver a caixa de correio e estava cheia, alguns mails a carecerem de resposta ainda hoje. Fui à pressa ligar à minha mãe (ligo sempre à hora de almoço), depois fui para a cozinha, aqueci sopa que tinha no frigorífico e um resto de bacalhau e legumes. Quando acabei, fui a correr lavar os dentes. Faltava meia hora para a reunião seguinte que ia durar duas horas, a seguir à qual se seguiria outra. Pensei: tanta coisa que tenho aqui para fazer, meia hora não dá nem para meia gaita.

Em situações normais, atirava-me aos mails, estaria numa lufa-lufa, stressada por mal ter tempo para pensar no que estava a fazer e sem tempo para reler o que estava a escrever, a ver as horas e a perceber que, não tardava, estava a reunião a começar e eu ainda com imensa coisa para fazer e sem tempo para passar o pente pelo cabelo ou um brilhozinho nos lábios. Então, neste meu novo comprimento de onda, tomei uma decisão única na minha vida. Pus o despertador para cinco minutos antes da reunião e deitei-me em cima da cama. Fechei os olhos e pensei em coisas boas. Infelizmente não consegui adormecer pois esqueci-me de tirar o som às notificações e, portanto, a porcaria do telemóvel só a chiar não me deixou fazer aquilo que me apetecia e de que o meu corpo estava a precisar.

Mas ficou a lição para a próxima: tirar o pio às notificações.

Ainda assim, fiquei na cama a sentir o fresco que vinha do vidro aberto e à espera que tocasse o despertador. Levantei-me, então, e num ápice, penteei-me, passei o brilhozinho, encho o copo de água, sentei-me em frente do computador, vi-me no ecrã e, à hora certa, iniciei a reunião.

Portanto, mais uma boa descoberta: uma pequena sesta a seguir ao almoço. Hoje não dormi mas o repouso fez-me bem. Senti que estava em forma, pronta para saltar à jugular se necessário fosse.

E agora, antes que soem as duas badaladas, vou pregar para outra freguesia.

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Pinturas de Abdullah Murad enquanto ouço One safe place por Marc Cohn

Oh, life is trial by fire
And love's the sweetest taste
And I pray it lifts us higher
To one safe place
One safe place
One safe place

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Desejo-vos um dia feliz

Enjoy

8 comentários:

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

A sestinha, nem que seja de 15 min, pode ser tão revigorante. lHoje se tiver tempo para a dita, não se esqueça de ativar o "Não incomodar" ou análogo.

Calculo que o seu filho a presenteou com uns auscultadores sem fio, realmente, a caixinha/carregador de alguns parece mesmo um sabonetinho. Eu cá continuo a preferir essas coisas com fios 😁

Um rico dia!

Anónimo disse...

Fui eu responder ao seu repto, fazendo tão bela "review" de tantas e tão boas séries, para depois me deparar com este seu outro post! Quanta intransigência! :)

Mas a sério: não espere que passem de moda, só porque eu vim aqui parar, qual Anunciador Malvado, de balde gelado na mão. Em vez de andar a deambular por coisas estranhas tipo Virgin River (Credo!), vá por mim. Até vai ficar a gostar de hienas.

Anónimo de Balde Gelado

Anónimo disse...

Outra coisa? House? House?? Quem quer ver, no ano da Graça de 2021, um suposto médico genial a insultar a patroa 20 vezes por dia só porque ela é gaja e leva decotes grandes para o trabalho?? A sério??

Anónimo do Baldinho

Anónimo disse...

Mas olhe (e peço, desde já, desculpa por um mão-cheia de baldinhos como eu vir aqui ocupar tanto espaço): se seguir o meu conselho, digo-lhe as melhores séries não-coreanas para ver na Netflix. Eu já papei tudo. Desde Peeky Blinders (boa, boa), a The Crown (tem episódios...). Escusa de perder tempo por Virgin Rivers (a sério que foi ver o 2º episódio??) E conhecço a minha cara amiga há anos. Deu-me agora para me vir meter consigo. Com boas intenções! Até lhe dou já um treat: O Gambito da Rainha. A melhor do ano de 2020. (Das não-coreanas, claro!!)

Anónimo Gelado

Um Jeito Manso disse...

Olá Francisco,

Uma coluna fantástica. Pequenina, bluetooth, com um sonzão.

E, sim, quero ver se passo a arranjar uns minutos para passar pelas brasas. É bom. Embora em dias de trabalho seja uma première.

Dias bons de calor e, se possível, bons mergulhos!

Um Jeito Manso disse...

Olá Anónimo do Baldinho,

Se ler o post que acabei de escrever, verá que fui espreitar. Mas o que vi era tudo em tons de cinzento, todos coreanos e, pior, todos a falarem coreano. Gosto de cores quentes e de ver gente que viva em terras parecidas com as que que conheço ou gostava de conhecer ou de ter conhecido, e, sobretudo, que fale o que eu possa entender. Como vou superar estas barreiras? Será que, se eu me forçar a uma open mind, vou conseguir abertura de espírito para conseguir ver o lado agradável do que me recomenda?

Guerra dos Tronos nunca vi, zombies muito menos.

Ah, e fui também espreitar a Gambita. Uma menina esquisita, um ambiente estranho, um clima meio sinistro. Devia ser quando era pequena. Em grande tem os olhos um bocado incomodativos. Não sei se vou gostar. O que vi, de raspão, saltando a ver se me agradava, acho que não me agradou. tem a certeza que a coisa vai animar?

Intriga política, advogados, isso, sim, gosto. Mas gosto também de romance, de love. Alguma dessas que recomendou tem atracções fatais, literatura, ambientes sedutores?

E, olhe lá, com certeza que há bocado vi o House. Há lá coisa mais divertida? Gosto de bad boys, sabe disso. E se são inteligentes e insuportavelmente insolentes ainda melhor.

Portanto, veja lá, se consegue ser mais convincente porque, so far, dá-me ideia que frio, frio....

Uma bela quinta-feira, Mister Baldinho da Cold Water.

Anónimo disse...

Minha cara, então não vai confiar?

Há umas séries mais "cinzentas", como diz, como também as há em todo o lado, mas normalmente não: tenho-me pasmado com as decorações dos interiores, seja séries históricas, seja da atualidade, com o clima e as cores de Seoul... É até mais parecido aqui connosco do que muitos outros lados. Boas roupas, boa luz, bom design, bom tudo. E os homens vestem bem, mas bem bem. Quem diria? As mulheres é conforme, é pena, mais para mim que para si, suponho. Enfim, acha que lhe ia recomendar coisas negrumentas tipo série alemã ou sueca??

E bem sei que gosta de um romance, de uma atração... Já lhe disse o que podia ser a seu jeito. Mas se não dá uma oportunidade a hienas... que hei de fazer?

Eu também nunca vi zombies: não lhe disse que Kingdom era a única série que se podia ver desse género? Acha que peguei mais de um minuto e meio em walking dead e afins? Olhe, também terá um fraquinho pelo protagonista de Kingdom, o melhor herói que já existiu no mundo da ficção, da realidade e arredores. Digo eu que sempre gostei mais dos anti-herois. Tinha de haver exceção à minha própria regra.

Eu gostei de House. Semanalmente, um caso médico raro de cada vez. Mas ver agora? Ver em binge? Raridade atrás de raridade médica até que o High Laurie esbugalha os olhos em momento "eureka" e descobre tudo sozinho para ir vangloriar-se à patroa chamando-lhe puta? Demodé, muito demodé. E já está tão visto o registo... Não faltam génios insolentes que sabem mais que todos e insultam, com mais ou menos graça, todos à sua volta. Achava que a Dona UJM não era tão dada a olhinhos azuis... Olhe, se quer ver dentro desse registo, do protagonista-génio, mas uma coisa à séria, uma coisa tragicamente credível, veja Stranger.

Game of Thrones, para mim, essa sim, sempre foi muito lenta e cinzenta. Sem romance nenhum de jeito. Certos episódios vi em velocidade 1x5. Mas Arthdal Chronicles tem pinta. Tem até romance do bom, coisa adulta, coisa entre anti-heroi e anti-heroina, cada um mais esperto e ambicioso que o outro.

O Gambito é uma série "com cor". Claro, tem trauma, tem história triste. Tem muito mais que isso. Eu particularmente também não gosto muito da atriz (confesso: da cara de veado ou chacal que ela tem), mas é absolutamente certo que irá gostar da série, se a vir.

Vá por mim. Mas se não tem interesse em conhecer os janotas coreanos, não posso fazer nada. Olhe, veja Alias Grace e não diga que não sou amigo.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Ah...uma coluna, boa, boa!


Dias bons também. Com mergulhos, sim 😉