domingo, outubro 18, 2020

Nisto da Covid de que falamos quando falamos de atentado aos direitos e garantias...?

 

Suponhamos que o número de infectados cresce para níveis em que a percentagem de hospitalizados é incompatível com as camas hospitalares disponíveis. Suponhamos que os casos graves excedem o número de camas disponíveis nos Cuidados Intensivos. Suponhamos que o número de pessoas a necessitar de usar o ventilador é superior ao número de ventiladores. Suponhamos que o número de médicos ou enfermeiros infectados cresce, obrigando-os a estarem de quarentena, deixando os hospitais desguarnecidos. Suponhamos até que o número de mortos excede o número de lugares nas morgues.

E notem: cuidadosa que sou na interpretação das curvas matemáticas, neste momento estou apreensiva pois sei como a pressão económica é (compreensivelmente) muito forte, estando a retardar-se ao máximo a decisão que, em Março, foi tomada no início do crescimento da curva, achatando-a quase de imediato. Portanto, o cenário que referi acima não estará muito longe do que, infelizmente, poderá vir a acontecer se um travão às quatro rodas não for usado antes que a coisa derrape perigosamente.

O que pergunto, num cenário de aflitos como os que referi, é o que será menos intrusivo para tentar controlar minimamente o crescimento exponencial dos contágios:

1 - Obrigar a usar máscara em todos os locais públicos interiores ou em todos os locais públicos em que seja impossível manter o distanciamento de 2 metros?

2 - Recomendar veementemente (creio que obrigar será materialmente impossível) a utilização da App StayAway Covid, uma aplicação que garante anonimato e privacidade?

3 - Obrigar a não mudar de concelho e/ou a ficar em casa durante um período ou a totalidade do dia a menos que para fazer o legalmente permitido?

4 - Não fazer nada? Assobiar para o lado? Invocar direitos e garantias a propósito das medidas de 1 a 3?

Pergunto.

NB: No entanto, acho que a discussão em torno de direitos e garantias está a ser mero ruído e poeira neste assunto tão grave. Penso que há mais, muito mais a fazer. Nomeadamente acho indispensável campanhas de divulgação assíduas, ubíquas, claras, sobre como usar máscara, sobre como guardar a máscara quando a retiramos, sobre como ter cuidado quando se está a almoçar ou a confraternizar com colegas, sobre como fazer quando se tosse ou espirra e se está sem máscara, sobre a necessidade de acabar com reuniões presenciais quando não indispensáveis, sobre como as empresas devem praticar o teletrabalho sempre que as funções o permitem, sobre como estar com a família em encontros familiares, sobre como o usar a app, sobre sim ou não higienizar produtos que se compram, etc. Creio que meio mundo ainda não sabe exactamente quais as melhores práticas a adoptar e o Governo deveria apostar fortemente nisto.


[Já agora não deixem de ver o comentário do Paulo B, aí mais abaixo, bem como todos os comentários, dele e não só, no post anterior]

7 comentários:

Paulo B disse...

Não acho que seja uma questão de direitos e garantias. Está a ser um erro de comunicação colossal do governo, numa medida simples e que, bem explicada, ajudaria no controlo das coisas (e já podiam ter sido implementadas antes desta movimentação brutal de alunos para as universidades... Que, em parte, me parece óbvio ser um dos elementos que anda a ajudar imenso à escalada...).

Não deixemos também de questionar a APP já que é para ser obrigatória: podia ter sido feita de outra maneira? O que dizer sobre a questão do anonimato face à aparente utilização de uma ferramenta de desenvolvimento disponibilizada pela Google / Apple que não é possível auditar... agravado pelo facto de o código não ser opensource... O que não ajuda à confiança...)?

Mas raios, tantas opções intermédias a tomar... Por exemplo, porque não obrigar à criação de um sistema de circuitos dual no acesso a serviços e equipamentos (sobretudo públicos): um para quem tem a APP e usa máscara e outro para quem não tem app? (Reservar / priorizar o atendimento por marcação para estes últimos por exemplo e permitir aos outros o atendimento presencial no novo normal (distanciamento e desinfecção, ...).

Tanta tanta coisa a fazer. Algumas não é só dinheiro (mas sim, também é preciso).

Abraço UJM. E desculpe o tom irritado.

Um Jeito Manso disse...

Paulo,

Ora essa, desculpar o quê? Agradeço-lhe. Aprendo sempre consigo: introduz novas visões sobre os assuntos, traz argumentos e experiências que ajudam a pensar melhor.

Tempos desafiantes para a Academia, certo? Para a sua área, então, deve ser um fervilhar de ideias, não?

E vejo que transforma a sua irritação em vontade de ajudar a resolver melhor os problemas e isso é bom. Se eu estivesse no Governo, contratava-o para ajudar a tomar melhores decisões.

Abraço, Paulo!

Paulo B disse...

Bem, mas o tom podia ser mais afável. Já não comentava faz um longo tempo! :) Eu tento trazer um contributo positivo, mas às vezes a irritação é até de algo tão simples como este mecanismo de digitação (no telemóvel).

Quanto à academia... No geral (e fora dos centros de poder), anda enredada / perdida no meio do turbilhão... O foco é demasiadas vezes a sobrevivência, as burocracias e (des) organização (falta de estruturas de gestão.... De ciência), reuniões e mais reuniões, prioridades questionáveis, falta gritante de recursos humanos (e de até de mobilização dos existentes)... Enfim. Se não fosse a pandemia tentava mudar de.vida. Assim, mais um ano. Também tenho algo que comecei / assumi a terminar só em Junho do próximo ano. Quiçá consigamos passar as tormentas.
Abraço UJM. Bom domingo para si e para os seus.
Obrigado pelas palavras amáveis.

Um Jeito Manso disse...

Paulo,

A pandemia anda a trocar as voltas a meio mundo. Não é só um coroninha, é mesmo um agitador. Revolucionou o mundo. Pode ser que, daqui por um ou dois anos, tenhamos voltado ao quase normal e nos esqueçamos de tudo. Mas não sei. Muitos hábitos se terão perdido. E quando muita gente ao mesmo tempo muda de hábitos é a economia que muda de figurino. É a sociedade que vacila e que precisa de tempo para voltar a encontrar um novo equilíbrio.

Não é só a Academia que estrebucha, perdida em actividades improdutivas. Penso que, por todo o lado, há uma tentativa de sobreviver no meio de regras que forçosamente têm que se adaptar. E há muitas actividades que não aguentam o embate. É um cabo das tormentas, mesmo. Tudo isto é um bocado terrível.

Boa sorte consigo, no seu trabalho principal, na outra tal coisa... e com o azeite que espero que este ano seja bom.

Abraço, Paulo, e fale e irrite-se à vontade. Tem razões para isso e, sobretudo, tem sempre uma abordagem construtiva e pedagógica e só posso agradecer-lhe isso.

Paulo B disse...

Concordo em.absoluto. infelizmente muitos problemas já vinham de antes e agora vão agravar-se. Mas estamos aqui para arranjar soluções. Apesar de sempre a mandar vir, lá no fundo sou otimista (disfarçado).

Quanto ao azeite, no ano passado pouco tivemos e este ano nada. Ainda temos reservas para mais.um.ano. De qualquer forma não temos tratado as oliveiras e limitamo-nos a recolher o que dá quando dá. Eu também estou com menos tempo disponível e os meus avós também já não estão capazes para a esmagadora maioria das tarefas - é duro, mas é o ciclo da vida.

Abraço e bom domingo!

Pôr do Sol disse...

Bom dia UJM,

Estou a ficar sem paciencia para tudo o que se passa à nossa volta. Já so vejo noticias uma vez por dia.

Os numeros relativos à pandemia são assustadores. A preocupação instala-se, principalmente nos mais velhos.

O sentimento de impunidade vivido pelos jovens faz crescer o desrespeito pela autoridade. As consequências do contagio enfraquecem o SNS e as sanções ficam-se por multas que ninguem paga. No vocabulario desta gente só existe a palavra direitos. Dever e reponsabilidade são coisas do "tempo da outra senhora" no qual não viveram e nem se informam de como era.

Sem querer veio-me à lembrança a tinta azul da pide que identificava os manifestantes.

E que tal a PSP chegar a uma destas festas com mais de cem irresponsáveis e ao ser atacada com pedras e armas lhes dar um duche azul que no caso de contagio quando recorrerem ao hospital, os fazerem pagar todas as despesas?

Claro, eu sei que isto não se quer num pais democratico. Mas que de outro modo se pode pôr cobro a esta anarquia?

Desculpe o desabafo, mas vejo cada vez mais a justiça fechar os olhos, assobiar para o lado e ditar sentenças absurdas.

Vivi no tempo de ditaduras e não quero que se volte a elas mas com esta ineficácia, os direitolas que já proliferam por aí vão ganhando terreno.

Um beijinho. Desejo-lhe um bom domingo na companhia dos que mais ama.








Anónimo disse...

Observando o pôr do sol ...
Viver em ditaduras ou... morto com liberdades !