Tenho que explicar. No domingo à noite, quando me despachei das minhas lides domésticas e aqui acostei, já era tarde. Como tinha passado o fim de semana a dormir ou a caminho disso, cheguei à noite e estava sem sono. Contudo, tinha que me levantar cedo pelo que acabei o post e forcei-me a ir para a cama. Claro: disparate. Sem sono, a cama para mim é horrível. Gosto de chegar à cama e, ao fim de dois minutos, estar a dormir. Mas, ali, ontem, só ao fim de mais de duas horas fiz aquilo que sei que se deve fazer ao fim de vinte minutos: levantei-me e vim para a sala ler. Ao fim de algum tempo, percebi que o sono estava a vir e apaguei a luz. Mas pensei que não faltariam já nem umas três horas até receber a mensagem que espero nestes dias em que há voo para outro país. Só que antes disso, bem antes, eu a dormir na sala, ouço o telemóvel. Assusto-me imenso com telefonemas a meio da noite. Não era meio da noite mas madrugada. Tinha sido engano: sem querer, sem dar por isso, o viajante tinha feito a chamada.
Sobressaltada, custei a pegar no sono. Mas, pronto, lá voltei a adormecer. Estava a dormir quando a mensagem chegou: tinha aterrado. Por mil voos, sempre me inquieto se não souber que chegou bem. Respirei fundo, de alívio. E adormeci profundamente sabendo que tinha que me levantar logo a seguir. Quando o despertador tocou, escassos instantes depois, quase nem me consegui mexer tão profundo era o sono.
Entretanto, hoje calhou chegar aqui ao sofá um bocado mais tarde do que o habitual. E foi directo, tiro e queda. A dormir.
Tinha pensado que a primeira coisa que ia fazer quando aqui chegasse era responder a quatro mails que carecem de resposta rápida por serem tão simpáticos, tão generosos, e, a seguir, responder aos comentários. E foi o que se viu. É quase meia noite, estou a tentar acordar mas, claramente, meio a dormir. E não apenas não tenho energia para cumprir os meus bons propósitos como vinha a pensar escrever sobre o bem que faz estar perto da água (seja mar, rio, cascata, fonte) ou divagar sobre um tema que ao longo do dia me acompanhou e agora estou para aqui a bocejar, a tentar não cabecear.
Posso apenas contar que, por impedimento dos pais, fomos buscar os três manos à escola e trouxemo-los aqui para casa. Foi por pouco tempo mas o suficiente para, a seguir a um lanche que nem deveria ter existido (mas, enfim, eles gostam do interdito e eu gosto de dar de comer), ela, num abrir e fechar de olhos, pintar as unhas de encarnado. Quando vi, disse-lhe que não podia ser. Teimou que era encarnado claro e que encarnado claro pode ser. Nem pensar. Rouge, qual encarnado claro...? Depois, contrariada, lá as limpou. Mas nestes processos negociais caio sempre que nem uma pata. Acabei eu feita manicure a pintar-lhas de nude brilhante.
Entretanto, o mano do meio, em menos de um foguete, tinha revirado várias pilhas de livros e, quando me insurgi, mas que bagunça vem a ser esta?, os livros todos espalhados..., disfarçou, que estava a contá-los, que estava a ver que livros eu e o avô gostamos de ler. Acreditei. Duas vezes pata. Só quando o vi, com ar suspeito, a espiolhar a estante grande, é que se me fez luz: ah malandro, andas à procura do outro livro...! Fez um sorriso confessional, quis saber onde o escondi. Para quem não leu o que aqui escrevi, há algum tempo viu um livro de fotografias no qual vários fotógrafos captam mulheres, fotografias muito bonitas mas em que algumas estão nuas ou em poses mais eróticas. Como sai ao pai que, na idade dele, se pelava por ver maminhas, aquilo deu-lhe volta ao miolo e... não se esqueceu.
Entretanto, o bebé herdou uma outra faceta do seu papá: pela-se por fazer ligações, tomadas, fichas, etc. Um terror. Mas, então, andou com um computador velho e uns fios a ver se conseguia fazer um match.
E esta do match está-se bem a ver que é influência daquele fantástico programa dos casamentos à primeira vista onde uns especialistas escolhem pessoas para fazer match mas que, para desabono da sabedoria dos ditos experts, os ditos ou não querem mais do que uma sã amizade ou, ao fim de uma semana, já se odeiam visceralmente.Adiante. Claro que tive logo que desactivar algumas tomadas. Olhando a alegria do menino a fazer ligações, ocorreu-me dizer-lhe aquilo que dizia ao pai dele: vais ser engenhocas. E parece que o tempo mal passou entre um e outro.
Ainda no outro dia andaram os três à descoberta no quarto que era do pai. Não há vez em que não descubram coisas engraçadas. E o mais curioso é que são coisas que eu desconhecia. Quando foi viver com a então namorada não quis levar quase nada. E eu não quis ser eu a deitar fora coisas dele. Por isso, a secretária e as estantes estão como ele as deixou. Nunca fui de andar a remexer nas coisas deles, a bisbilhotar gavetas e coisas assim, pelo que não faço ideia do que por ali anda. Agora, aos poucos, os miúdos vão descobrindo coisas fantásticas. E ele gosta de rever aquelas coisas. E, uma vez mais, parece que o tempo não passou, que é um contínuo.
É como eu, lá in heaven, no fim de semana, que vesti um casaco de malha que era da minha filha. Também não o quis, ficou. E eu, como aproveito tudo, ando com o casaco que parece que não há muito era dela. E digo não há muito mas, se tentar fazer as contas, acho que já deve ter sido para aí há uns doze ou mais anos. E, uma vez mais, não dei pelo passar do tempo pois sempre por ali e por aqui andaram, circularam, e vieram crianças, umas atrás de outras e, portanto, parece que não houve interregno entre nada.
E agora já é a minha menininha, qualquer dia uma mulherzinha, que mal me distraio já está de roda dos meus anéis, pulseiras, colares, travessões. Ainda hoje. Enquanto o bebé andava naquela faena com fios e cabos e eu a tentar que não fizesse nada de mal, saíu da sala. Vi logo para onde é que tinha ido. Uma tentação para ela. E como eu a percebo. Tomara eu, quando tinha a idade dela, ter tido tanto por onde escolher como tenho agora e que, para ela, é uma arca dos mil tesouros. E, de novo, era eu a enfeitar-me com o que encontrava e agora é ela a fazer o mesmo. Mas, pelo meio, tanta vida que já passou.
Estou para aqui a escrever sem pensar e nem sei bem de que é que estou a falar. Vou parar. Deve ser difícil de ler uma coisa assim, desconexa.
Mostro apenas dois vídeos que Leitor a quem muito agradeço me enviou por mail. Nada têm a ver um com o outro mas são ambos interessantes, um na base da dramatização face à vida que temos vindo a levar e um outro que, enfim, mais vale eu não dizer nada até porque.
Até porque, no outro dia, não foi isto mas voltou a ser uma que já não é a primeira vez que me acontece. Fui almoçar a um sítio e pus o carro no estacionamento público. Quando estava a estacionar, reparei que havia muito mais lugares livres que o habitual. Pensei: fugiram todos. Estacionei-o sem necessidade de manobras, de frente, nas calmas.
Quando, no regresso, vinha a entrar no parque, reparei no Sérgio Godinho que vinha um pouco atrás de mim. Vinha com uma senhora talvez da idade dele. Eu já a descer a escada, ouvi a voz dela: '... a sua vida. A sua vida profissional, bem entendido...'. Pensei, não é companhia, é admiradora.
Continuei a descer até chegar ao meu piso, o -2. Mas... e o carro? Entretanto, estava eu especada a olhar para o sítio onde o tinha deixado, chega o Sérgio. Vai direito ao carro, que estava no lugar do meu. Entra. Vinha sozinho. A senhora sempre era uma admiradora. E eu ali: 'será possível que me tenham levado o carro?'. Dei o benefício: 'será que saí por outra porta e o carro ficou do outro lado?' Dei a volta ao parque. Nada. Pensei: calma, vou ser sistemática. Nova volta a olhar, um a um, cada carro. Entretanto, já o Sérgio se tinha ido embora. Pensei: só pode ser coisa de paralaxe, deve estar mesmo à minha frente e não o vejo. Então, nova volta, mente aberta, e a carregar no botão do comando a ver se algum carro dava sinal. Nada. Pensei: vou ligar ao meu marido a dizer que o carro se evaporou. Nessa altura, lembrei-me de uma outra vez, no Ikea. Ele ao telefone: 'Não terás deixado noutro piso?'. Pensei. Caneco. Será possível que o tenha deixado outra vez noutro piso sem dar por isso? E aí fez-se luz. Estava quase vazio, não era? Uma ova, se calhar desci, sem dar por isso, mais um piso. Incrédula, fui até ao -3. Ao contrário do -1 e do -2, à pinha, o -3 quase vazio. E lá estava ele. À larga. O filho da mãe do carro.
Portanto, tudo o que meta carros, comigo, não é para rir. Podia bem fazer igual. Conheço as minhas limitações. Não são pequenas, não são poucas.
Mas, então, o primeiro vídeo é sobre o homem. O segundo é sobre a mulher. E claro que estou a confundir o género humano com o Manuel Germano. Ou, caso prefiram, a estrada da Beira com a beira da Estrada. Deveria dizer: uma mulher. Whatever. Estar a escrever a dormir já é, em si, a modos que um feito. Acho eu. De que.
Man
A loura e o Tesla
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E lá em cima, com o meu agradecimento a Mestre Plúvio por me ter dado a conhecer o talentoso Jacob Collier, uma música que é um bálsamo.
E como gosto de misturadas, de cores e de barafundas, como se o post, em si, já não estivesse uma confusão, deu-me para pôr aqui mais algumas das fotografias que fiz no fim-de-semana in heaven. Não vêm a propósito mas soube-me bem voltar a ver as belas cores de outono e dispô-las aqui por entre o meu texto ensonado.
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E uma boa terça-feira a todos
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