Se falo verdade, há quem ache que ficciono. Tem graça isso -- e digo que tem graça porque, na realidade, não segue qualquer lógica. Se digo que fui boa aluna, desacreditam. Se dissesse que tinha sido má aluna acreditavam. Não percebo o racional dessas pessoas. Uma vez, numa história toda ficcionada que se bem me lembro incluía príncipes marroquinos a dizerem poesias, inventei uma cena que metia um jantar num palacete numa das mais belas vilas do país. Descrevi a casa, a decoração, o requintadíssimo repasto que lá tinha tido dias antes. Pois foi nisso, que era a única coisa verdadeira da história, que algumas pessoas não acreditaram. Acharam que estava a armar-me ao pingarelho.
Licenciei-me num estabelecimento de ensino do mais clássico que há, fiz um curso que só não foi uma tareia das valentes porque sou dada a pôr os pesadelos para trás das costas. E, não sei com base em quê, há quem aqui chegue para dizer que devo ter feito daqueles cursos à Relvas, equivalências e diplomas ao domingo. Uma vez mais, não consigo compreender a linha de raciocínio de quem assim pensa.
E dizem-me que gosto que me massagem o ego. Nada mais errado. Se há coisa que detesto -- mas que detesto mesmo -- é de ser bajulada. No meu dia a dia, se alguém ensaia puxar-me o saco nem chega ao primeiro acto, vai logo de asa. E se há coisa que me diverte e me dá pica é que tentem arreliar-me. Tal como na 'vida real' gosto de uma boa disputa, gosto de discutir política, gosto de debater ideias sob visões antagónicas, aqui acontece o mesmo. Mas isso é diferente do insulto gratuito. Mas, mesmo assim, fico com vontade de dar troco. Se aqui calha aparecer um daqueles comentários que destilam fel ou parvoíce, é com entusiasmo que me atiro a dizer das minhas.
Também há quem se queixe que falo muito de mim. Presumo que sejam pessoas que não gostem do registo autobiográfico. Mas essas pessoas devem perceber que o que se passa aqui é coisa marginal na minha vida. Ponho-me a escrever porque gosto de escrever. À hora a que escrevo não tenho discernimento para ter muito assunto. Tal como os pintores que, à falta de modelo, se põem ao espelho e fazem auto-retratos, também eu, à falta de melhor assunto, falo de mim. Não frequento redes sociais, mal vejo televisão e, se não me ocorrem umas bocas sobre a actualidade, não tendo do que falar mas fervilhando-me os dedos para escrever, falo do que fiz ou do que me lembro. Se falo de mim, não invento. A menos que escreva uma história na primeira pessoa, mas aí é óbvio que se trata de ficção, no resto o que digo é tal e qual. E acho que se percebe quando é e quando não é história.
Por exemplo, se escrever assim:
Também há quem se queixe que falo muito de mim. Presumo que sejam pessoas que não gostem do registo autobiográfico. Mas essas pessoas devem perceber que o que se passa aqui é coisa marginal na minha vida. Ponho-me a escrever porque gosto de escrever. À hora a que escrevo não tenho discernimento para ter muito assunto. Tal como os pintores que, à falta de modelo, se põem ao espelho e fazem auto-retratos, também eu, à falta de melhor assunto, falo de mim. Não frequento redes sociais, mal vejo televisão e, se não me ocorrem umas bocas sobre a actualidade, não tendo do que falar mas fervilhando-me os dedos para escrever, falo do que fiz ou do que me lembro. Se falo de mim, não invento. A menos que escreva uma história na primeira pessoa, mas aí é óbvio que se trata de ficção, no resto o que digo é tal e qual. E acho que se percebe quando é e quando não é história.
Por exemplo, se escrever assim:
Estava a conduzir numa das mais movimentadas avenidas da cidade. À minha frente, um carro branco, que reparei que tinha muitos anos, abrandou. E, para minha estupefacção, uma porta abriu-se e de lá saltou um pequeno gato preto. Travei, assustada, o coração acelerado, temendo matar o gatinho e, ao mesmo tempo, temendo que um carro me batesse. Sem ver o gatinho, sem saber em que direcção tinha ido, fiquei sem saber se podia andar. Os carros atrás de mim travaram. Avancei devagar, aflita. Mas não senti nada. Olhei para todos os lados. Nem sinal do gato. O carro branco acelerou, mudou de faixa e saíu por uma rua à direita. Ainda atordoada, pensei na maldade extrema de quem tinha feito aquilo de propósito para matar o bichinho.
ou
Estava a conduzir. Num semáforo, ao parar, reparei que no carro ao lado estava um advogado que costumo ver frequentemente na televisão. Via-se que falava em alta voz. Ria, falava. A vantagem do bluetooth. Depois, como o sol lhe batesse nos olhos, pôs uns óculos escuros. Homem com muito charme. O sinal abriu, arrancámos. Encostei para virar e ele também, na faixa ao lado da minha. Estava calor, abri o meu vidro. Do carro dele vinha agora o som de uma ária. Pensei: Tosca. Mais à frente, pouco antes de passar por uma rua onde se encontra um dos grandes escritórios de advogados, o carro dele abrandou para virar. Reparei que ao seu lado estava agora uma mulher. Não estava antes e, no entanto, nenhuma mulher tinha entrado. Quando olhei, reparei como sorriam, ela ajeitando o cabelo.
penso que é claro que uma das narrativa é cem por cento verdadeira e que outra tem uma pitada de ficção (embora não mais que uns cinco por cento de ficção), pitada essa que, só por si e em conjugação com o lado deliciosamente verdadeiro, me deu vontade de desenvolver um suculento folhetim.
E, uma vez mais, estou com isto não porque seja importante para mim que saibam tão relevantes frioleiras mas porque me apetece escrever e não me ocorre outro assunto. Há assuntos fantásticos, fracturantes ou sensíveis sobre os quais deveria, a esta hora, dissertar em vez de estar com esta conversa de nada? Pois, acredito que sim. Por exemplo, poderia falar sobre a beleza monástica dos lírios ou sobre a lucidez sensata dos substantivos que não carecem de adjectivos ou ainda da delicadeza angelical dos olhares que caem, oblíquos, sobre o meu decote. Ou poderia falar da tristeza dos ramos nus dos plátanos ou da alegria saltitante dos passarinhos que cantam nos beirais dos blogs. Poderia, claro, mas não seria a mesma coisa.
É que aqui não há regras, não há agenda, não há propósito. Aqui não há altares, muito menos santinhas. Aqui, quem vem, vem para jogar. Mesmo que seja ao jogo da verdade ou consequência. Ou apenas para jogar às verdades. Ou para esconder o jogo. Ou para piscar o olho. Ou para mostrar as cuecas.
E espera-se que quem cá vem alinhe. E dance. E escute. E olhe. Ou seja respeitador e desvie o olhar.
E para os que não acham graça a estas desconversas, tenho aqui dois vídeos muito bons que espero que compensem a falta de substância das minhas desnutridas palavras.
Arte é vida - A colecção de Marianne e Pierre Nahon
E, uma vez mais, estou com isto não porque seja importante para mim que saibam tão relevantes frioleiras mas porque me apetece escrever e não me ocorre outro assunto. Há assuntos fantásticos, fracturantes ou sensíveis sobre os quais deveria, a esta hora, dissertar em vez de estar com esta conversa de nada? Pois, acredito que sim. Por exemplo, poderia falar sobre a beleza monástica dos lírios ou sobre a lucidez sensata dos substantivos que não carecem de adjectivos ou ainda da delicadeza angelical dos olhares que caem, oblíquos, sobre o meu decote. Ou poderia falar da tristeza dos ramos nus dos plátanos ou da alegria saltitante dos passarinhos que cantam nos beirais dos blogs. Poderia, claro, mas não seria a mesma coisa.
É que aqui não há regras, não há agenda, não há propósito. Aqui não há altares, muito menos santinhas. Aqui, quem vem, vem para jogar. Mesmo que seja ao jogo da verdade ou consequência. Ou apenas para jogar às verdades. Ou para esconder o jogo. Ou para piscar o olho. Ou para mostrar as cuecas.
E espera-se que quem cá vem alinhe. E dance. E escute. E olhe. Ou seja respeitador e desvie o olhar.
Ou não.
_____________________
Na casa de Maggie Gyllenhaal e Peter Sarsgaard em Brooklyn
Arte é vida - A colecção de Marianne e Pierre Nahon
E tenham um belo sábado, está bem?
6 comentários:
Ah, ah....há sempre quem goste e quem não goste mas há que encontrar modos correctos de dizer quando não se gosta e é isso que se está a perder nas redes sociais. Quando nos contestam ou nos questionam até pode ser interessante mas o modo como isso se faz frequentemente se traduz num insulto gratuito e é isso que é lamentável.
~CC~
A Melanie Klein falava tão bem dessa coisa chamada inveja, a necessidade de destruir porque sim. É terrível quando não se alcança o amor e se vê as relações como um jogo de poder que se cobiça ilimitadamente e que não se admite aos demais.
Fale muito de si e do que a rodeia, porque é uma riqueza e um gosto contar com a sua enorme generosidade.
Um rico fim-de-semana.
AH!Ah!Ah!
O que me surpreende é que as pessoas que não gostam, continuem a perder tempo e a ler aquilo que não gostam e a comentar. Se não gostam para que voltam? Ou são masoquistas ou querem protagonismo.
Nem sempre gosto de tudo (em qualquer dos blogues que visito), mas se não gosto sigo em frente. Se começo a visitar um blogue e não me identifico com nada, então nem volto. Perder tempo com coisas que não nos interessam, quando há tanta coisa boa para ver, é inútil.
Gosto muito da Maria Callas.
Gostei mais do segundo video.
Beijinhos e bom fim-de-semana:))
Olá UJM, um dia até pensei "blogar", gosto de escrever, tenho quilos e Gigas de fotos mas do que se queixa, isso eu não suporto. Aqui na coisa percebe-se que há quem -acorde, trabalhe, vá a uns jantares a umas festas, durma, acorde outra vez...e adoram, de coração, dar uma opinião.
Assim sendo, falo com as minhas árvores. Olhe mande.os cagar.Aproveitam e meditam um pouco sobre isto de andarmos aqui ao de cima.
Um beijinho
Lucília
Ou seja, a acompanhante do dito advogado, acabava, com todo o respeito, de lhe fazer "bico"? Possivelmente? Só pode!
Olá a Todos,
Olá e mil desculpas. Sinto-me sempre pessimamente quando acontece isto, não conseguir responder e agradecer os comentários.
Mas já passa das 2 da manhã e já não consigo.
Obrigada pela vossa simpatia e generosidade por virem aqui deixar as vossas palavras.
Dias felizes para todos.
Enviar um comentário