segunda-feira, março 11, 2019

A alegria da natureza segundo Hockney e Van Gogh
-- E uma ou outra insignificância que nem sei se vêm a propósito --




Acredito que para muitas pessoas o domingo seja um dia de descanso e, até, um dia de tédio e abatimento.

Quando penso nisso, lembro-me de, há mil anos, teria eu uns treze, catorze, quinze anos quando passava o fim de semana com os meus pais. Eles organizavam o seu tempo e eu tinha que me encaixar nele. Um tédio. Ou ficávamos em casa e calhava haver algum programa de televisão razoável ou, então, eram horas intermináveis que pouco tinham para me oferecer.

Quando os meus filhos andavam por estas idades e iam connosco para o campo também começaram a achar uma 'seca'. Os amigos e os seus programas estavam longe e a natureza era motivo pouco interessante para o seu gosto. Primeiro ela, que é mais velha, depois também ele, até que, quando já mais crescidos, acabámos por deixar que ficassem sozinhos na cidade, de sábado para domingo. Era para mim uma aflição, com vontade de saber deles a toda a hora e numa inquietação enquanto não ligavam a dizer que estavam em casa. 


Mas eu, moi-même, tédio por usar o tempo de forma fastidiosa só tenho ideia nesses meus anos de entrada na adolescência. Antes, em criança, entretinha-me com qualquer coisa e depois, quando arranjei namorado e um grupo de amigos inseparáveis, comecei a ser eu a determinar como ocupar o tempo.

Mas isso sou eu e eu, espero que já toda a gente saiba, não sou exemplo para ninguém.

E isto para dizer que acredito que, para quem passe o domingo sossegado, com pouco que fazer, se calhar a desejar que acabe depressa, pode ser cansativo ler que eu, como sempre, andei numa roda-viva. Mas é a verdade. E é a história da minha vida: desde o desrame das árvores, até a concertar a vedação, às limpezas no campo e na cidade, a cozinhar, a arrumar, de manhã até às quinhentas, foi sem parança.


Durante o dia, descansámos um pouco a seguir ao almoço, para aí durante uma hora, enquanto dava o 007. Não sei se consegui manter-me acordada durante esse tempo.
O Daniel Craig é um belo homem, disso não há dúvida, a história é sempre aquela ebulição -- sedução, perseguições, maluqueira da grossa -- mas acho sempre que falta aquela componente de credibilidade mínima que me impede de ficar presa ao desfecho.  
Conheço um inglês que se veste assim, que fisicamente até é parecido com o Craig, que todo ele é ironia e até fisicalidade. Hoje, ao ver o 007, pensei que não percebia como é que antes nunca tinha reparado que esse meu conhecido tem tudo a ver com o Bond, James Bond. Mas tem. Tudo. Até nos disfarces em que é exímio.
Além disso, há uma coisa que eu aqui não deveria confessar mas que confesso: a actividade de espionagem atrai-me. E também não deveria aqui dizer mas digo: conheço um ou outro e os portugueses não têm nada a ver com as incursões espaventosas do Graig. Mas, na volta, é porque, por cá, somos dados ao comedimento. 

Adiante.

É que isto é o intróito para me penitenciar por, uma vez mais, deixar passar ao largo o jogo branco do Marques Mendes (conversa fiada, esfiapada), os excessos da Catarina Martins (um destempero), as candidatas a mulher do agricultor (umas desmioladas a ver se casam com outros que tais) ou outros temas candentes da nossa joyeuse actualidade. E não é só porque os temas são velhos e relhos ou meras bolas de sabão. Não. É que chego aqui já tarde, o sono a abater-se fatalmente sobre mim. Já micro-adormeci várias vezes. Penso que não vou conseguir chegar acordada ao fim deste post a ponto de conseguir responder aos comentários, coisa que me custa sempre. Isto hoje não está nada fácil. 


Mas, antes de me deixar cair nos braços do tal tipo, o Morfeu, I mean, gostava de vos dizer que a primavera avança galopante, as árvores rebentam, dos ramos nus despontam pequenas folhas, outras estão floridas, lindas. Uma alegria. A ameixeira, o pessegueiro, o abrunheiro -- lindos, gloriosos, um hino à vida.

E, agora que as árvores estão tão desbastadas, a luz do sol passa melhor por elas e, por isso, parece que, in heaven, a luminosidade é outra, uma claridade mais festiva. E, não sei se é por isso, os pássaros cantam, cantam, numa felicidade inocente que parece ainda mais efusiva que antes.


E eu gostava que vissem o vídeo abaixo no qual David Hockney fala da sua afinidade com Van Gogh a propósito da exposição Hockney - Van Gogh: The Joy of Nature que estará no Museu Van Gogh até 26 de Maio. As imagens que aqui partilhei convosco mostram pinturas de ambos. É muito interessante. É certo que gosto sempre de ouvir, ver e ler os pintores mas, a sério, este vídeo é mesmo interessante.
From 1 March, the colossal works of David Hockney will be on display in the Netherlands. For the first time, this spectacular exhibition offers an extensive and colourful exploration of the common ground between the work of Vincent van Gogh and David Hockney.
‘The world is colourful. It is beautiful, I think. Nature is great. Van Gogh worshipped nature. He might have been miserable, but that doesn’t show in his work. There are always things that will try to pull you down. But we should be joyful in looking at the world’. - David Hockney
[A menos que os comichosos do Museu mudem de opinião, serão remetidos para verem o vídeo directamente no YouTube mas não faz mal, não é caso para desistirem. Ok?]


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E uma boa semana a todos a começar já por esta segunda-feira. 

[E que me desculpem por não conseguir responder e agradecer os comentários do post anterior.]

7 comentários:

Anónimo disse...

What a beautiful video.
What a marvellous old (young) guy.
What a wonderful and unexpected gift.
Thank you, Madam, thank you very much.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Movimentado ou sossegado adoro o fim-de-semana no seu todo.

Uma bela semana.

Anónimo disse...

Esta coisa de não se gostar do campo é muito da malta que vive na cidade e nem tem a menor ideia, na maioria das vezes no que consiste o campo. É preciso gostar-se, ter-se empatia, etc. Nós somos 4 irmãos, e só dois, eu e outro, gostamos do campo. Os outros só querem o confortozinho burguês de Lisboa e Cascais. Embora eu viva em Cascais, mas trabalhe em Lisboa, sempre que posso pisgo-me para o campo, em viagem, pois tendo casa de praia/campo fora de Lisboa não sinto a necessidade alfacinha de ir para fora para fugir à cidade. Vou até ao campo porque gosto do campo, da sua serenidade. E jamais o trocaria por Lisboa, quando um dia me reformar, visto ser uma cidade, e depois porque perdeu muita qualidade de vida, com o seu trânsito infernal, barulho insuportável, sobretudo de dia (a malta que lá vive nem se apercebe!) Bem sei que há uns bairros onde à noite é possível ter-se algum sossego, mas um tipo abrir uma janela e ver um prédio é coisa que não tolero! Já tenho dito a alguns amigos e familiares que chegará o dia em que poderei dizer: “Ena, já não vou a Lisboa há anos!” Como sou optimista, um dia vai acontecer. Sigo para Norte, onde tenho raízes e onde sempre gostei de estar! Mas, mesmo para ir para o Alentejo, outra região do país de que gosto (refiro-me ao interior alentejano, não ao litoral, que não me interessa para nada), não é preciso passar por Lisboa.
Aliás, uma boa parte da malta da cidade não usa mapa para viajar (o ACP tem os melhores). Para quê, “temos o GPS”!!! Dos que conheço, de todos os grupos etários, já não usam mapas para organizar uma viagem, independentemente de depois se procurar o apoio informativo da Net. Mas, GPS!! Só para um tipo não se perder, não para programar viagens. Mas, é assim, acho que estou em minoria…pelo menos neste eixo Lisboa-Estoril-Cascais. Mas, estou-me nas tintas!
Quanto à Catarina Martins, não sei se tem a ver com o que ela comentou sobre a Banca (que muito incomodou a SG-adjunta do PS, coitada!), quando ela (CM) afirmou, “sobre o sistema financeiro o PS estar a fazer o mesmo que fez Passos Coelho”. Se é isso, subscrevo – inteiramente – a dirigente do BE. É que é exactamente o que o anterior governo fez, no que respeita à Banca (ainda ontem o RAP no seu divertido programa mencionou isso). O Centeno “maravilhas” e o rapaz Costa acham bem que se “enterrem” milhões nesses buracos financeiros, sempre com o “pornográfico” argumento de que “não se pode deixar cair o sistema financeiro”. Discordo! Primeiro, porque não é produtivo (mas parasitário), ao contrário de uma indústria (que é produtiva), depois porque quando se salvam bancos, O Estado tem a obrigação e o dever, perante os contribuintes de ficar com eles, pelo menos na proporção em que lá colocou dinheiro público. Não é nacionalizar, mas ficar com o que lhe pertence…a exemplo do que fazem os trastes dos banqueiros quando alguém deixa de poder pagar a casa, por ter ficado sem emprego (o que é diferente de se ir à falência, quando uns banqueiros praticaram gestão danoso!). Ora bem, o Estado nesse caso deveria ficar igualmente com o Banco. Ponto. Como muito bem defendeu, numa excelente entrevista ao Observador (que sugiro UJM que leia), aqui há umas semanas, a tal Catarina Martins de que não gosta (está no seu direito). Prefiro-a ao Costa da caçarola.
Uma boa semana!
P.Rufino

Um Jeito Manso disse...

Hi, Dear Reader,

Glad you liked it. Thanks for your nice words.

Have a nice day!

Um Jeito Manso disse...

Olá Francisco,

Para se gostar tem que se gostar de gostar. E a gente gostando de gostar do fim-de-semana, venha ele como vier, há-de ser sempre bem recebido. Certo, Doutor?

Abraço e dias felizes!

Um Jeito Manso disse...

Olá P. Rufino,

Eu acho que aquilo que nos une é bem mais do que o que nos separa. No gosto elo nosso país, pelo campo, pelo humor, pela nossa gastronomia, pelo nosso vinho, etc, somos bem parecidos. Mas já na desconfiança com que olha para o Costa e para o Centeno não me convence. Nem na forma como facilmente o apanho com a Catarina Martins ao colo... :)

Mas, enfim, não nos vamos zangar por causa disso. Cada um com os seus gostos.

Um belo dia para si, P. Rufino.

Anónimo disse...

Estimada UJM!
Concordo consigo na apreciação que faz, pois, de facto, são mais as coisas que temos em comum do que as que nos dividem. Tenho um enorme respeito por si e admiro a sua postura perante a vida, quer, quando comenta politicamente, quer culturalmente, quer outro tipo de assuntos, onde, por vezes, não falta uma pitada de humor, que muito prezo! Esta vida sem humor seria uma chatice! A UJM tem garra, é muito feminina, tem uma personalidade forte, uma auto-confiança q.b, entre outras (muitas) qualidades!
Mas, sabe eu levo a sério as “facadas” políticas (como, por exemplo, qualquer Dama no seu relacionamento como seu “Romeu”). Acreditei, embora com alguma “relatividade” que o rapaz Costa nos viesse trazer algo de novo. Assim parecia. E ainda me lembro do que Mário Centeno disse na sua intervenção na A.R, quando criticava e com razão o governo Passista, que iria cair a seguir, na A.R, invocando Zeca Afonso. Entretanto, os anos de governação foram passando e depois é o que sabemos. Privilegiou-se o tal (danado) Deficit, embora com uma Dívida Pública face ao PIB enorme e seguiram-se os descalabros na Saúde, Educação, Justiça, etc, como, por exemplo, a Ferrovia, tudo porcarias que já vinham da cambada da dupla Passos/Portas e veio apoiar-se a Banca (imunda) da mesma forma - e com os mesmos argumentos que os tratantes Passos/Portas. E até, o que é triste, o contínuo abandono do Interior (ainda hoje ouvi uma reportagem na Antena 1 sobre isso, e fiquei desanimado e revoltado. Estes políticos, vivendo na Capital, não fazem a mais pequena ideia do que se passa na Província, ao nível da Saúde, Justiça, Educação, Cultura, apoios sociais, Emprego, Investimento Privado, etc. Nada!)
No plano pessoal, eu até gosto do rapaz Costa, foi um vizinho impecável, quando ambos convivíamos em Birre/Cascais (antes de me “transferir” para esta encantadora Biscaia, onde me refugio e encontro alguma Paz, depois de algumas “atribulações” do dia a dia – um tipo por vezes assiste a cada uma, você nem imagina!) e nunca, enquanto Ministro, abusou dessa sua situação para chegar a casa de carro do Estado, o que nunca fez. E sempre foi e continua a ser um tipo afável. Não é isso que está em causa. Mas, não o suporto politicamente! Enganou-me. E detesto ser enganado. E a politica – económico/social - que pratica desilude-me!
Quanto à rapariga Martins, do BE, embora a ache articulada e inteligente, detesto a defesa daquelas “causas estruturantes”, desde o casamento Gay, à possibilidade de se mudar de sexo aos 16 anos (um disparate!) e outras tantas “defesas” desse tipo (como foi o caso Jamaica – embora o nosso PR lá fosse a correr a dar um abraço a um indivíduo que pouca consideração nos deveria merecer), ou até no que respeita aos tais Refugiados, já que penso que primeiro se deve resolver o problema da pobreza e precariedade no nosso País e só depois se pensar em receber e apoiar (economicamente) quem vem de fora. Quanto a mim, o BE é hoje um pequeno Partido de…Centro-Equerda, virado para umas causas estruturantes, o que é pena. Deixou de ser de Esquerda, que já não existe no nosso País. But, such is life!
*UJM, já que gosta de viajar neste encantador País, ao que vou vendo, um dia destes – se me permitir a ousadia – vou enviar-lhe duas sugestões de encantar (ou até 3, esta última por uma zona costeira, já que gosta do Mar – eu também, mas só entre Outubro e inícios de Maio, detesto os veraneantes das épocas entre Julho-Agosto).
Com consideração e cordialidade,
P.Rufino
(p.rufino2009@gmail.com)