segunda-feira, outubro 22, 2018

Cenas da vida, a minha e a de toda a gente, casamentos à primeira vista e à vista de todos e, com vossa licença, um novo passeio in heaven com direito a reportagem vídeo.




Ora bem. O dia foi talvez um pouco atípico e com uma componente inicial de tristeza. Vão partindo aqueles que amamos e que, de alguma forma e, pelo menos em alguns momentos, foram uma presença importante na sua vida. Mas vão chegando novos seres e a nossa família é cada vez mais os que viverão muito para além de nós do que os que chegaram antes de nós. E isto significa que estamos a aproximar-nos da linha da frente. Quando a última das minhas avós morreu, uma amiga da minha mãe abraçou-a e disse isso: 'Agora já somos nós que estamos na linha da frente'. Fez-me impressão isso. No outro dia a minha mãe contou-me que essa sua amiga tinha morrido. Diz-se nestas circunstâncias: é a lei da vida. E é. As gerações vão dando a vez às gerações mais novas.

E eu, talvez porque essa consciência está sempre presente, dou, cada vez mais, mais valor à vida.

Enfim.

Mas a tarde foi descansada. Até dormi um pouco. (Era bom que todos os dias pudesse dormir um bocadinho à tarde. Penso que seria o regime mais adequado ao meu biorritmo).


Agora, depois de afazeres diversos, arrumações, montagem de uma mini-estante para arrumação de brinquedos dos meninos e outras coisas, elas sim, muito típicas na vida doméstica, eis que estou aqui na sala enquanto na televisão passa o primeiro programa do Casados à Primeira Vista.

A minha mãe tinha-me já falado deste programa que se passa noutro país qualquer e que ela costuma ver não sei em que canal, talvez na Sic Mulher. Como não costuma ser de gostos fáceis mas acha graça a este, deixou-me, a mim, curiosa. E, de facto, o programa tem graça. Comecei a pensar que era uma parvoíce e que tinha tudo para ser uma foleirada, cheia de gente esquisita para, ao fim de algum tempo, estar a achar que é preciso coragem para uma pessoa se meter nisto, assumindo publicamente que precisa de ajuda para encontrar um parceiro (que precisa ou que, vá, não rejeita). Faz-me um bocado impressão as pessoas exporem a sua vida a ponto de se casarem perante as câmaras de televisão (e, do que vi no final -- porque, entretanto, já acabou -- também a lua de mel) mas, do que percebi por esta amostra, a coisa passa-se com decoro e sem grandes apelos ao choradinho, pelo que vou dar um bocadinho de benefício da dúvida. Acho que isto já é fruto de tantos anos de reality shows: mesmo que a gente não veja e rejeite liminarmente este tipo de exposição, acaba por já não se escandalizar perante um programa destes.

Mas achei graça à forma como as famílias e os amigos aceitam tão bem uma decisão tão arrojada como esta de alguém se atirar nos braços de um perfeito/a desconhecido/a. E achei graça à forma como aparentemente os pares deste primeiro programa parecem acasalar tão bem. Assim como acho que é preciso nem sei bem o quê -- também coragem? -- para uma pessoa acreditar assim na presciência alheia a ponto de deixar que decidam o seu destino. 


O casal de cinquentões do Porto, então, pareceu-me, a todos os títulos, perfeito. De tal maneira que até os respectivos amigos parecem também feitos uns para os outros. E as famílias também. Tudo parece feito de propósito para se completar -- ou seja, tudo muito inteligentemente escolhido.

Mas os outros casais, do que se viu, também. O surfista e a sua noiva sonhadora e emotiva, o camionista e a sua poderosa instrutora de ginástica. Tudo ali parece encaixar às mil maravilhas. Tem graça, isso.

Até comuniquei ao meu marido que se calhar vou também candidatar-me a ver se arranjo algum melhor que ele. Parece-me uma boa ideia, na volta com resultados inacreditáveis. Não reagiu. 

Mas vou aqui cometer uma indiscrição: ele odeia este género de programas, não condescende, não facilita, aborrece-o até que eu tenha curiosidade. Pois bem, esteve aqui calmamente, sem tentar mudar de canal e, em especial quando o antiquário do Porto chegou à sala e se submeteu ao divertido exame das extraordinárias amigas da noiva, até se riu (em particular quando uma delas, entusiasmada com o charme do noivo, se esqueceu da situação e lhe perguntou se era casado).

Bem.

Neste momento estou a ver na RTP 2 uma bela pianada. Distraí-me e não vi que peça está Elisabeth Leonskaja a tocar. Tão bom. Vou pô-la aqui a tocar para nós.

Agora com esta conversa e a verdade é que estou aqui a pensar que deveria era ir rever a apresentação que amanhã vou fazer e deveria também preparar-me para uma investida que pretendo fazer; mas estou sem disposição porque há situações que prefiro que aconteçam sem preparação, em que preciso da adrenalina da espontaneidade e do acaso. Tenho isto: no que é relevante para mim não deixo que a perfeição de uma performance bem ensaiada diminua o nervosismo de que preciso para sentir que estou a atirar-me às cegas para o meu destino. (Não sei se já vos tinha confessado que não sou boa da cabeça)

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Entretanto, no pouco tempo que ontem tive para estar descansada da vida, in heaven, andei por lá cirandando, respirando o ar cheiroso, ouvindo a música da aragem e dos pássaros e, imagine-se o dispautério, outra vez a filmar. Esforcei-me por, desta vez, não fazer o pino com a máquina para mostrar a altura das árvores, tentei não deslizar rapidamente demais as imagens para não causar tontura e tentei falar mais alto para não parecer que estou a dizer segredinhos ao vosso ouvido. Contudo, como poderão comprovar, não fui lá muito bem sucedida.

Fiz este que aqui partilho e fiz mais uns quantos mas só mais um é que tem um mínimo de préstimo pois em dois ouve-se a roçadora de um vizinho do lado de lá e que, apesar de relativamente longe, naquele silêncio, parece que é ao lado e noutros não sei como manejei a máquina que apareço reflectida nos azulejos, perfeitamente identificável. Portanto, a menos que amanhã ou depois consiga mesmo repescar o outro, a faena não foi famosa.

Bom, chega de desculpa. Bora lá a uma caminhadazinha.

Terceiro passeio in heaven com a Sta UJM


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Conselho: nada de descer até ao fake post que se segue, Rui Rio contrata Cristina Ferreira para Ministra da Cultura do seu Governo sombra. Aquilo ali é tudo mentira.

4 comentários:

Anónimo disse...

Ola, bom dia UJM

E a primeira vez que comento um post seu.

So para lhe dizer que existem pessoas que mesmo sem as conhecermos pessoalmente que nos parecem familiares na forma como comungamos da mesma atitude perante a vida.

Reconheco-lhe uma sensibilidade na analise do mundo que a rodeia que enche a alma logo pela manha.

Agradeco-lhe com muita simpatia o tempo que "perde" falando com seguidores que nao conhece. Pela parte que me toca, so espero, que continue a partilhar essa sua analise critica e nao formatada, que tanto apreciamos.

Boa semana

Jose

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Olá UJM,

Antes de mais lamento a perda de quem lhe é querido. Bem gostaríamos que as pessoas que amamos fossem eternas - quem sabe até serão, num espaço imaterial. De qualquer modo, permanecem na memória dos que continuam e a melhor medida da memória é o amor que se deu.
Como bem diz, todos os dias devemos dar um grande "gracias a la vida".

Quanto ao "Passeio In Heaven", que coisa maravilhosa, esses trilhos, essas obras da natureza que parecem ter sido feitas com um propósito, as construções idealizadas pela Arq. UJM (mesmo que a execução não tenha sido de acordo com o projeto ;) ), compõem um verdadeiro "País das Maravilhas"...E a sua locução completa o ramalhete, não lhe ponha defeitos.
Se tiver mais, que venham, ou então quando lhe der no gosto de novas produções.

Uma boníssima semana!

Um Jeito Manso disse...

Olá José,

Que palavras mais simpáticas. Li-as logo de manhã e, por isso, comecei o dia logo bem disposta. Tomara que eu consiga ter sempre a energia e a inspiração para aqui, à noite, descobrir em mim as palavras que soem bem no seu despertar.

Muito obrigada, José.

E uma boa semana!

Um Jeito Manso disse...

Muito obrigada, Francisco, pelas suas palavras amigas. Não sou de carpir nos momentos tristes mas, por vezes, há pessoas que, quando se vão, nos fazem sentir uma perda profunda, difícil de deixar passar em branco. Mas as recordações continuarão.

Fico contente que não ache os meus passeios uma seca. Sabe que no outro dia, quando os passei para o computador, estive a vê-los com um dos meninos ao meu lado e achei graça porque ficou a ver com atenção, como se tivesse algum interesse. Claro que estava a reconhecer os percursos mas poderia achar uma coisa totalmente desprovida de graça e não achou. Fiquei contente.

Uma boa terça-feira para si, Francisco.