quinta-feira, outubro 18, 2018

Benfica, Google, bloggers, emails -- tudo histórias mal contadas.
Pior, mesmo, foi ter andado perdida, de noite, o carro debaixo de chuva, sem GPS, sem telefone emparelhado.
[Das raivinhas e dos chiliques do Super-Judge-Alex, o mal-afamado "Saloio de Mação", acho que não vale a pena falar. Tudo muito déjà-vu.]




Saí de noite de um sítio onde só tinha ido antes umas duas ou três vezes. Chovia, estava trânsito e não conseguia ver bem. Procurei uma tabuleta a dizer Lisboa ou com o símbolo de autoestrada. Nada. Um desespero. As estradas neste país têm isto. A gente só sabe como dar com um sítio depois de ter dado com o sítio. Um atraso de vida.

Fui andando. Chegava a uma rotunda e numa saída dizia 'Farmácia', noutra 'Centro Desportivo', noutra 'Trânsito local'. De Lisboa nem sinal. E outra volta à mesma rotunda a ver se me estava a escapar alguma coisa. Nada. Às cegas, escolhi uma no que me pareceu ser a direcção certa. Sítio desconhecido. Luzes dos carros, chuva. Tabuleta elucidativa zero. 

Fui andando até poder parar o carro. Como o meu está na oficina, ando agora com um de substituição. Tentei o GPS. Não tinha. Pus 'Lisboa' no telemóvel e accionei o GPS. Procurei um sítio para pôr o telemóvel. Não tinha. Nem uma prateleirinha. Só em baixo, dentro do recipiente das moedas. Ficou de lado e tapado pelo manípulo das mudanças. Não se via, só se ouvia. Um stress.


Melhor que nada. Pus-me a caminho. Mandou-me sair na 4ª saída da rotunda seguinte. Só tinha 3 saídas. Nova volta a ver se me tinha escapado alguma estrada. Não. Entretanto, a jovem do gps mandou-me voltar para trás.

Entretanto, ligou-me o meu marido a saber a que horas contava eu chegar. Apanhou-me num mau momento: não sabia onde estava, não sabia como sair dali.

Voltei a tentar. Fui num sentido, a 'gaja' mandou-me ir em frente, fui andando até que me mandou sair na 2ª saída e eu obedeci apesar de lá dizer o nome de uma terra de que nunca tinha ouvido falar. Segui até que fui parar a uma estrada estreita que parecia de um só sentido mas de onde vinham carros em sentido contrário. Temi estar em sentido proibido. Depois começou a aparecer um muro alto, como se fosse alguma quinta. O muro nunca mais acabava, a estrada sem luzes, sem casas. Temi estar completamente perdida, enganada pelo gps, esse farsante.


Até que ela me disse que, numa rotunda saída do nada, devia sair na 3ª saída e aí vi uma tabuleta a indicar a autoestrada. Quando cheguei à rotunda, a maior trapalhada que já vi, tinha vários sinais de proibido e, dessas vias, vinham carros a entrar, entre elas a que me pareceu ter a tabuleta para Lisboa. Pensei: ná, para ir para Lisboa tenho que entrar numa via em sentido proibido...? A mim não me apanham. Dei duas ou três voltas à filha da mãe da rotunda, isto sem se ver quase nada com a chuva e com as luzes dos carros. A 'gaja' do gps não se calava. Pensei: há-de haver um sacana dum carro que também queira ir para a autoestrada para eu ir atrás. Nada. Mais uma volta. Às tantas, resolvi avançar pela que me parecia provável e, se estivesse a ir em sentido contrário, acácia da silvinha, fechava os olhos e entregava para deus.

Mas, afinal, fiz bem. Lá dei com a entrada na autoestrada.

Queria ligar para avisar que estava salva mas o telemóvel não estava emparelhado com o carro pelo que não deu. Com isto tudo, só cheguei a casa tarde e más horas. Estava a entrar, ligou o meu filho. Estava a despir-me, recebi uma sms da minha mãe: 'Estás ainda a trabalhar ou esqueceste-te?'. Telefonei-lhe. Expliquei-lhe. Depois telefonei também à minha filha. Contei-lhe tudo, a odisseia e o que a tinha precedido.

Quando me sentei para jantar era tarde e eu estava com a cabeça em água. Odeio dias tão preenchidos: parecem-me curtos demais, esvaem-se no meio de parvoíces. Um desperdício.


E agora estou aqui e a pensar que ainda tenho que ir ver mails do trabalho porque, durante a tarde, como estive noutra, não lhes peguei. O meu marido, perante perspectivas destas, costuma dizer: 'Isso é pior que um clister de açorda'. E é. Já passa da meia-noite e, depois do dia que tive e da odisseia que foi para dar com o caminho para casa, ainda ter que ir ler e responder a mails de trabalho é sorte que não se deseja a ninguém. Cruzes canhoto.


De resto, não sei se o mundo já se pôs a andar de gatas, se de patas para o ar ou se por aí anda aos pinotes. Só sei que, quando me sentei aqui, ouvi na televisão uns cavalheiros de aspecto vagamente suspeito a dissertar sobre um acordo que o Benfica terá feito com a Google e que se terá traduzido em receber a identidade de bloggers que, ao que percebo, costumam dizer mal do Benfica. Não acredito em nada disto. Se a Google tivesse feito uma coisa destas, era caso para todos os clientes da Google saltarem a pés juntos sobre ela. E, que eu saiba, de burra a Google pouco tem. Portanto, não sei que história mal contada é esta mas não deve interessar para nada.

Também dei com o Super-Judge-Alex com olhos que me pareceram lacrimejantes. Pensei: Querem lá ver que isto é a Alta Definição? Terei chegado no ponto em que o Daniel Oliveira lhes pergunta "o que dizem os seus olhos?" e a malta fraqueja e desata a chorar? Depois percebi que afinal não. O so-called saloio estava sem óculos e, às tantas, a vista cansada dá-lhe lacrimejices. Bolsava veneno enquanto sorria, verdadeiro saloio safado, disfarçando a dor de corno ou de cotovelo ou lá o que fosse que lhe estava a doer. Qual cavaco, destilou ressabiamentos, lançou insinuações, suspeições. Não quererá a múmia fechá-lo também no sótão, ao lado do Lima*? Não se perdia nada.

Enfim.


O que isto é, meus Caros, é que estamos a tender à força toda para a cena dos porcos a governarem o mundo. Já aí estão com comportamentos sinistros, a fazerem coisas obnóxias num mundo onde, volta e meia, nada parece fazer sentido. A única coisa que me anima é que já não é a primeira vez que há disto, o mundo a desandar. Portanto, acredito que um dia destes a coisa vai voltar a entrar nos eixos. Ou seja, acho que ainda não é caso para nos deprimirmos.

Salvé.


Vou aqui ficar um bocadinho a sonhar enquanto olho a noite boa, ali fora. 
Isto, com vossa licença, antes do clister.

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[Fotografias da wildlife no The Guardian]

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PS: É verdade, que é feito do Lima*? Escreveu mais algum livro ou é só o chefe que continua a publicar? Será que não ficou esquecido no sótão de Belém? Na volta, uma noite destas ainda aparece a assombrar os corredores do palácio. O que vale é que o Marcelo não está para pernoitar no meio daqueles fantasmas senão apanhava um tal susto que ainda lhe saltava outra hérnia.

2 comentários:

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Que odisseia! Por acaso sempre gostei muito de caminhos e estradas, comecei bem cedo a fazer de GPS de carne e osso, mas há sítios que mais parecem um labirinto.
Outro dia, nas barbas do destino, o GPS só mandava ir para o sítio errado, uma simpática senhora fez as vezes...

Quanto ao resto, está tudo dito, não há paciência para tanto protagonismo à "vã cobiça" consequente à mediocridade existencial.

Um belo dia.

Janita disse...

Mas que grande aflição essa, UJM! Bolas!!

Já passei por um caso semelhante, mas não tão aflitivo. Também foi numa noite de chuva, mas era já inverno e a visibilidade quase nula. Estava a ver que não chegava a casa.
Não tenho GPS, faz-me muita confusão aquela voz a aturdir-me os sentidos. Acabo por me desconcentrar do caminho a seguir. Se puder, e encontrar alguém que me pareça confiável, ainda uso o velho costume de 'quem tem boca vai a Roma'. :)

Quanto ao resto, o mundo já passou por muitos altos e baixos, e acabou por encontrar forma de sair das 'crises'. Haja confiança!!

Ora, UJM, deixe lá o PR. Ninguém merece outra hérnia, coitado do senhor e se a companheira não vai a Belém, vai-lhe Belém a ela, salvo seja!

Gostei dos seus móveis. Tenho uma escrivaninha muito semelhante à sua, mas sem portas envidraçadas. Achei muito queridas as bonecas tipo espanta-espíritos, que tem no tecto da sua sala.

Um abraço e noite boa!