sexta-feira, dezembro 22, 2017

Conversa vadia em noite pré-natalícia





Depois de jantar e depois de ter cosido uma meia do meu marido, atirei-me à empreitada das fotografias. Não se imagina. Um susto. Tantas, tantas. Um disparate (não digo em voz alta, digo apenas baixinho, aqui que ninguém nos ouve). Para agravar, o meu marido, deitado no sofá, a observar. Eu sentada no chão a fazer montinhos. Antes, quando eu me preparava para me queixar, já me tinha lido a cartilha : 'Tu faz-me um favor: não digas nada sobre as fotografias' (tendo-lhe eu afiançado que, para o ano, é tarefa dele e ele ter dito que sim, em menos de meia hora escolhe e que, não duvidasse eu, não vão passar de uma dúzia). Contudo, às tantas começou a pedir que eu lhe mostrasse algumas. Não quis para não perder tempo. Aí fez-se de vítima: que quando é para eu lhe pedir qualquer coisa não me faço rogada, quando é ele que pede, está quieto. Então mostrei-lhe uma em que o bebé está ao colo dele a rir. Gostou. Depois mostrei-lhe uma da menina mais linda e pediu para continuar a mostrar. Felizmente, aquilo funcionou como um sedativo, coisa na base do 'boa noite, cinderela', e, portanto, a partir daí voltei a distribuir as fotos mais a abrir. Horas, ainda assim.

Acontece que, no fim, sobraram algumas e fiquei sem saber em quais dos montes é que elas faltaram. Não sei se vou ter que ver todos os montes ou se esqueça e fique com elas para mim.

Depois, já devia estar com a cabeça confundida de tanta fotografia me passar pelas mãos, meti o envelope com o nome da minha filha no saco da minha mãe e agora estou na dúvida se troquei os envelopes ou simplesmente o coloquei ali indevidamente. Como são mais ou menos o mesmo número também não chego lá pelo volume. Vou ter que inspeccionar o imenso conteúdo dos dois envelopes para me certificar qual é de qual delas.

Também já emoldurei umas quantas, também para oferecer. Falta agora colocá-las dentro das respectivas embalagens e colocar nos saquinhos. Fica para amanhã que hoje já não dá.


Era para ter ido à fisioterapia. São duas dias por semana, quando posso. Antes fazia umas ondas, laser e stents, mais mobilização e, no fim, gelo. Como contei, no último dia, em vez de gelo, calor. Acho que fiquei melhor. Hoje, toda lampeira, ia pedir mais quentinhos na nuca e ombros. Mas isto a gente nunca deve antecipar prazeres. Não arranjei lugar para estacionar. Dei três voltas ao quarteirão e isto com um trânsito absurdo em cada volta. Já perto da hora em que era suposto estar a terminar, percebi que não valia a pena continuar a tentar e liguei à fisioterapeuta. Contei-lhe que não conseguia largar a porcaria do carro em lado nenhum e que, pronto, bom natal. E dei-lhe a notícia do calor parecer ser melhor que o gelo ao que ela respondeu que era pena que estivesse a faltar ao tratamento de hoje mas que, paciência, boa natal.

Aproveitei para ir ao supermercado mas não comprei ainda tudo. O meu marido diz que depois vai ficar um caos ou que pode não haver o que é necessário. Por vontade dele, até tinha trazido já as cenouras e a couve para o bacalhau do dia de natal. Recusei-me. Era o que faltava ir fazer couves velhas. 

Queria ir buscar a minha mãe para almoçar connosco no dia de natal e pedíamos à senhora que trata do meu pai que ficasse lá com ele durante esse bocado mas a minha mãe recusa-se a deixar o meu pai. Sugeri então a consoada, que a essa hora já ele está a dormir. Ainda mais se recusa. Pronto. Percebo. Custa-me mas percebo. Vamos lá todos num dos dias seguintes, menos mal, sempre festejamos o pós-natal todos juntos mas custa-me que viva como uma prisioneira. Diz que não insista. Foi ao almoço com a turma da ginástica porque é rápido e a senhora pôde lá ficar com o meu pai. E diz que está bem assim.


No meio disto, durante o dia, com reuniões e telefonemas e tretas, só me apetece dizer que me deslarguem que não estou com cabeça para maçadas, que já só tenho cabeça para organizar as cenas natalícias. Mas pronto, mantenho-me no meu papel de responsável à prova de bala.

Ando meia esquerda com uma pessoa que queria fazer uma reunião comigo e com outros e eu disse que não estou disponível para fazer reuniões com os outros porque acho que não vale a pena já que considero que eles deveriam era ir borda fora (diz-se 'borda fora' ou 'porta fora'? agora estou baralhada) e, com esta minha posição irredutível, acho que criei um problema a essa pessoa. Não quero saber. Também já lhe fiz saber que também posso saltar eu da equação. Fretes é que não faço. 

E estou a escrever isto e a pensar que há não sei quanto tempo que dá para perceber, a partir daquilo que escrevo, que ando sem ver televisão, ouvir notícias (mesmo no carro, tenho consumido o tempo em telefonemas de trabalho ou outros) e praticamente não tenho tido tempo para trocar uns leros com quem quer que seja. Por isso, não consigo falar nem da actualidade nem de temas que possam interessar a alguém. Ando, basicamente, a milhas.

Os mails dos meus Leitores acumulam-se. Revejo nomes antigos, Leitores de há anos e sorrio de alegria e saudades. Mas, se me ponho a responder não consigo escrever nada no blog. Por isso, a ver se no fim de semana tenho tempo para agradecer e enviar um abraço a cada um. Não gosto de enviar respostas de circunstância só para despachar. Gosto de estar com cada um o tempo que me apetece.


Sei que foram as eleições na Catalunha e pelo que espreitei nos blogs da galeria lateral, os resultados são desafiantes. Mas é tema que não me mobiliza. O Rajoy pode ser um pamonha armado em carapau de corrida e estar mesmo a pedir festa mas o outro totó do cabelinho à palerma não me desperta o mínimo interesse. Parece-me um saco de vento. A deriva independentista a mim não me diz nada. Portanto, tudo o que se passa na Catalunha parece-me um carnaval sem ponta por onde se pegue. Ou seja, é tema no qual obviamente hoje não vou pegar tanto mais que estou perdida de sono. 

Gostava de poder dormir até ao meio-dia. Gostava de poder ficar em casa a tirar os presentes dos sacos, separá-los pelos destinatários, levar tudo para o pé da lareira da sala, organizar minimamente as coisas, arrumar esta sala onde agora estou. Gostava de ter tempo. Gostava de conseguir tempo para ir à janela durante o dia, olhar o rio. Mas qual quê. Parece eu que quero o impossível. Credo. Vida mais parva esta, nestes dias de azáfama e trabalheiras.

Custa-me um bocado isto, de chegar a esta hora sem cabeça para mais do que esta conversa mole. Penso que devo maçar quem aqui vem. Fui agora espreitar. É uma e tal da manhã e neste espaço de tempo (ou seja, desde as doze badaladas) já 132 pessoas me visitaram. E sinto até vergonha. É como a gente receber visitas e não ter a casa em condições nem nada para oferecer.

A ver se volto a entrar num regime mais tranquilo para tentar escrever coisa que se veja; mas isto até ao natal não deve abrandar.

E pronto. Uma vez mais a escrever quase de olhos fechados e incapaz de reler o que para aqui tenho estado a balbuciar. Relevem, pois, por caridade, as calinadas e os despenteamentos da pontuação.

E agora, finalmente, calo-me já para não continuar por aqui como chuva que cai e não molha que é como quem diz a fazer o mesmo que aqueles que não dançam nem saem na pista. E mais analogias não arranjo.


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Fotografias da autoria de Sasha Gusov que mostram imagens relativas ao Bolshoi Ballet em London

De Ennio Morricone, The Ecstasy of Gold para teremim e voz

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