domingo, maio 28, 2017

Penso coisas tão profundas e sinto-me tão mal
que penso que sou um Intelectual.
E penso coisas tão mal e sinto-me tão profundo
que devo ser o Maior Intelectual do Mundo!





.  1  .

A leitura é uma espécie de celebração mágica. É a maneira de paradoxalmente descobrirmos que a realidade é aquilo que sonhamos e não aquilo que temos entre as mãos. É essa espécie de travessia de continentes. Que não existem. E nos quais reconhecemos aquilo que é mais profundo em nós e que não pode ser dito.


.  2  .

O problema é que os poderes do entretenimentos, sedutores e a exigirem uma entrega cega e sem reservas, são destrutivos. É uma das modalidades da irracionalidade do nosso mundo que não convivem bem com o pensamento, com uma certa distância, uma certa afirmação da autonomia individual, que são aspectos críticos para a literatura. Quando se liga a televisão, um dos emblemas maiores do entretenimento, há três coisas maravilhosas que acabam: o escuro, o silêncio e a solidão. Decisivas substâncias de que se faz a literatura, de que se faz a poesia. Onde está a música do pensamento no meio desse som e fúria sem contemplações a que se chama entretenimento?


.  3  .

A poesia e o romance não exprimem factos ou verdades, mas a possibilidade da verdade. Poesia e romance são o tempo interrogativo, o céu da possibilidade.


Senhor, permite que algo permaneça, 
alguma palavra ou alguma lembrança, 
que alguma coisa possa ter sido 
de outra maneira, 
não digo a morte, nem a vida, 
mas alguma coisa mais insubstancial. 
Se não para que me deste os substantivos e os verbos, 
o medo e a esperança, 
a urze e o salgueiro, 
os meus heróis e os meus livros? 

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Autores das palavras

1. Eduardo Lourenço

2. Luís Quintais

3. Paulo José Miranda

Título e poema no final - Manuel António Pina

[Tudo lido no livro 'Vale a pena?' - conversas com escritores de Inês Fonseca Santos]

Autor da música e das imagens do vídeo

Ketil Bjørnstad – Prelude 13
Fotógrafo – ©Hal Eastman

Fotografias

Minhas, in heaven

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