. 1 .
A leitura é uma espécie de celebração mágica. É a maneira de paradoxalmente descobrirmos que a realidade é aquilo que sonhamos e não aquilo que temos entre as mãos. É essa espécie de travessia de continentes. Que não existem. E nos quais reconhecemos aquilo que é mais profundo em nós e que não pode ser dito.
. 2 .
O problema é que os poderes do entretenimentos, sedutores e a exigirem uma entrega cega e sem reservas, são destrutivos. É uma das modalidades da irracionalidade do nosso mundo que não convivem bem com o pensamento, com uma certa distância, uma certa afirmação da autonomia individual, que são aspectos críticos para a literatura. Quando se liga a televisão, um dos emblemas maiores do entretenimento, há três coisas maravilhosas que acabam: o escuro, o silêncio e a solidão. Decisivas substâncias de que se faz a literatura, de que se faz a poesia. Onde está a música do pensamento no meio desse som e fúria sem contemplações a que se chama entretenimento?
. 3 .
A poesia e o romance não exprimem factos ou verdades, mas a possibilidade da verdade. Poesia e romance são o tempo interrogativo, o céu da possibilidade.
Senhor, permite que algo permaneça,
alguma palavra ou alguma lembrança,
que alguma coisa possa ter sido
de outra maneira,
não digo a morte, nem a vida,
mas alguma coisa mais insubstancial.
Se não para que me deste os substantivos e os verbos,
o medo e a esperança,
a urze e o salgueiro,
os meus heróis e os meus livros?
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Autores das palavras
1. Eduardo Lourenço
2. Luís Quintais
3. Paulo José Miranda
Título e poema no final - Manuel António Pina
[Tudo lido no livro 'Vale a pena?' - conversas com escritores de Inês Fonseca Santos]
Autor da música e das imagens do vídeo
Ketil Bjørnstad – Prelude 13
Fotógrafo – ©Hal Eastman
Fotografias
Minhas, in heaven
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