No post a seguir a este falo do Rangel dos Três Cabelos a chamar Senhor Bacalhau ao vice-Portas, coisa quase tão hilariante quanto o Secretário de Estado que quer exportar velhas e de quem também falo.
Esta campanha para as eleições europeias não tem sido instrutiva, nem esclarecedora, nem mobilizadora, nem sequer interessante. Mas não é apenas pindérica: é também cómica. Quase tão cómica quanto o Melhor do que Falecer do Ricardo Araújo Pereira na TVI.
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Mas, se esta cambada não percebe que as pessoas estão ávidas de política a sério e não de espalhafato abimbalhado, então eu, aqui na minha mal iluminada trincheira, faço por me esclarecer. Já no outro dia aqui falei de um teste e de umas estatísticas que poderão ajudar ou, pelo menos, levar-nos a pensar um pouco.
Hoje recebi um mail de um Leitor que muito prezo e que apenas não transcrevo na íntegra porque não consigo colar aqui grande parte do conteúdo (tabelas e gráficos) e, sem essas partes, o resto perde um pouco o sentido. Mas transcrevo algumas informações úteis que consigo aqui colar.
Para ver os resultados mais recentes (clicando em cada país do mapa obtêm-se as sondagens por Estado-membro), clique aqui:
Para Portugal, as previsões que lá aparecem agora são as seguintes (e não consigo encolher o quadro - que naba que sou nisto, senhores...):
Party | Group | Latest poll(s) % | Prediction | |
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17.05.2014 | % | Seats | ||
Partido Socialista | 38.9% | 38.9% | 10 | |
Partido Social Democrata-Centro Democrático Social | 31.1% | 31.1% | 8 | |
Coligação Democrática Unitária | 9.1% | 9.1% | 2 | |
Bloco de Esquerda | 6.5% | 6.5% | 1 |
Based on a EP 2014 poll conducted by Aximage 17/05/2014
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Para se perceber um pouco melhor quais os agrupamentos políticos
GRUPOS PARLAMENTARES NO P.E. (em 2009)
- GUE/NGL (Esquerda Unitária Europeia / Esquerda Nórdica Verde)
Formação que agrega forças de extrema-esquerda com ecologistas nórdicos de esquerda. Os partidos comunistas no P.E. integram-se geralmente aqui. É o único Grupo à esquerda dos socialistas. A sua força mais importante é a Esquerda alemã.
2009: Estão distribuídos pelos países do Ocidente e do Norte europeus. As excepções mais salientes são a Grécia e Chipre. Nos antigos Estados comunistas só têm eleitos pela Rep. Checa, Letónia e Croácia. Entre os 5 países mais populosos só não têm eleitos por Itália.
PORTUGAL: PCP; BE.
- S&D (Socialistas e Democratas)
Aliança entre todos os socialistas europeus e os democratas italianos. É um Grupo de centro-esquerda, muito influenciado pela social-democracia e pela democracia-cristã. Foi o maior Grupo do P.E. desde o início até 1999. O P.S. francês, o S.P.D. alemão, o espanhol P.S.O.E. e o britânico Labour são as forças mais importantes.
2009: Têm representantes em todos os Estados-membros.
PORTUGAL: PS
- GREEN / EFA (Grupo dos Verdes / Aliança Livre Europeia)
Grupo de centro-esquerda e centro resultante da aliança entre partidos ecologistas e partidos regionalistas (Escócia, P.Gales, Galiza, Catalunha, Córsega, Flandres). Os Verdes franceses e os Verdes alemães são as duas forças principais.
2009: Estão distribuídos pelo Centro, o Norte e o Ocidente da Europa. A Grécia é a única excepção. Nos antigos Estados comunistas só têm representantes na Estónia e Letónia. Entre os 5 países mais populosos não têm eleitos por Itália.
PORTUGAL: Rui Tavares (indep.).
- ALDE (Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa)
O Grupo Liberal é um grupo centrista por excelência e, muitas vezes, o fiel da balança. O Partido Democrático Livre alemão é a força mais importante do Grupo.
2009: Sendo o terceiro Grupo do P.E. tem eleitos em quase todos os países. As excepções são Áustria, Chipre, Croácia, Eslovénia, Hungria, Polónia, Portugal e Rep. Checa.
PORTUGAL: não tem.
- EPP (Partido Popular Europeu)
O PPE agrupa democratas-cristãos e conservadores formando uma família de centro e de centro-direita. Desde 1999 que é o maior Grupo do P.E. As forças mais importantes são a C.D.U. alemã, a francesa Union Pour Un Mouvement Populaire, a Plataforma Cívica polaca, o P.P. espanhol e a Forza Italia.
2009: Têm representantes em todos os Estados-membros, com a notável excepção do Reino Unido (onde o Partido Conservador integra o ECR e o Partido Liberal o ALDE).
PORTUGAL: PSD; CDS.
- ECR (Reformistas e Conservadores Europeus)
Grupo de direita que congrega ideologias conservadoras, eurocépticas e anti-federais. As principais forças são o Partido Conservador Britânico, o Lei e Justiça polaco e o Partido Democrata e Cívico checo.
2009: Depois do Reino Unido, sobressaiem os eleitos pelos países que foram antigos Estados comunistas. Têm ainda representantes na Bélgica, Holanda e Dinamarca. Dos 5 Estados mais populosos não têm representantes na Alemanha, França e Espanha.
PORTUGAL: não tem.
- EFD (Europa da Liberdade e da Democracia)
Grupo mais à direita no P.E. abraçando as ideologias do conservadorismo nacionalista e do populismo de extrema-direita. É considerado o Grupo mais euro-céptico cujos antecessores são o Grupo Independência/Democracia e a União para uma Europa das Nações. Os partidos mais significativos do EFD são o UK Independence Party e a Lega Nord italiana.
2009: A sua distribuição geográfica é semelhante à do ECR, com a adição da Grécia, França e Roménia e a subtração da Rep. Checa e da Letónia. Dos 5 Estados mais popu-losos não têm representantes em França nem em Espanha.
PORTUGAL: não tem.
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Uma vez que não estou a conseguir colar aqui o gráfico com as últimas sondagens globais para o Parlamento Europeu, transcrevo parte da análise:
We forecast that the European People’s Party will hold on as the largest party in the European Parliament. The final set of EP election polls from across Europe over this last weekend suggest that the EPP will emerge as the largest group with 217 seats (29 per cent), 16 seats ahead of the Socialists and Democrats with 201 seats (27 per cent).
While we expect the EPP to lose over 40 seats compared to 2009, over the course of this election campaign the EPP member parties have consolidated their position in many countries, in particular in Poland, Hungary, and Germany. In contrast, while we expect S&D to make some gains since 2009, over the course of the campaign many of its parties have slipped back. This has particularly been the case in France, the UK, Poland, and Hungary. Meanwhile, support for anti-European parties on the populist right has risen in northern Europe, especially in the UK, France and Denmark, while support for radical left parties has risen in countries that have suffered economic downturn, particularly in Greece, Spain and Ireland.
But, this outcome is not a foregone conclusion. Taking into account the margins of error in the latest polls, and on the basis of 1000 simulations of what might happen, there still remains a 15% probability that S&D will be larger than the EPP.
Whether looking at our final forecast based on current group membership or the potential shifts in group membership, the main trend overall will be a dramatic polarisation of the Parliament. There will be a significant increase in the proportion of MEPs on the right of the EPP, from approximately 16% in the current Parliament to 22% in the new one, as well as a slight increase in the proportion of MEPs on the left of S&D, from 12% to 13%.
Put another way, there will be a “squeezed middle”, with the three largest groups (EPP, S&D, ALDE) down from 72% of MEPs to only 65%. This will force EPP and S&D to work together to get anything done, since neither an EPP-led coalition without S&D nor an S&D-led coalition without EPP is likely to command a majority.
So, expect a “grand coalition” on most big issues, starting with the choice of the Commission President. On this front, Jean-Claude Juncker is now in poll position heading into the election.
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Relembro: Para o Sr. Bacalhau, para os Três-cabelos e para o Secretário de Estado que quer exportar velhas, desçam, por favor, até ao post já a seguir.
1 comentário:
Olhando à distribuição nacional dos deputados destes sete Grupos no atual P.E., constata-se que:
(1) Nos Estados ex-comunistas predomina o voto à direita: é lá que os partidos dos grupos EPP, ECR e EFD recolhem as preferências dos eleitorados nacionais. É compreensível: nestes países permanece muito viva a memória das ditaduras comunistas. A única força à esquerda com capacidade de implantação aí são os Socialistas.
(2) O eleitorado em Itália posiciona-se também muito à direita. Todos os Grupos de direita no P.E., e também os Liberais, têm deputados italianos; à esquerda apenas os Socialistas&Democratas, pela mão do Partito Democratico (hoje no poder).
(3) Os Liberais, centristas por excelência, acolhem deputados de toda a U.E. anterior ao alargamento a Leste (as excepções são Portugal e Áustria).
(4) Os Conservadores do grupo ECR estão bem representados na Polónia e Itália (os grandes bastiões do catolicismo) e no Reino Unido (onde os Populares não têm sequer partido).
(5) Os radicais de direita do grupo EFD têm uma implantação nacional muito semelhante à do ECR.
(6) O arco atlântico, que vai de Portugal à P.Escandinava (Estados democráticos anteriores a 1975) é o bastião dos partidos de esquerda, dos Liberais e dos Populares. É aqui que os Verdes e a extrema-esquerda (aliada à esquerda ecológica nórdica) têm os seus eleitorados.
(7) Uma diferença assinalável entre o eleitorado francês e o alemão: o francês está muito mais à direita. Nem o ECR nem a EFD têm representantes alemães, mas a EFD tem um deputado francês. E é possível que a Front National (atualmente nos Não-Inscritos, portanto, sem grupo), venha a constituir, com outros partidos da direita radical e xenófoba, um terceiro Grupo à direita do EPP.
Finalmente, que P.E. sairá previsivelmente destas eleições?
(1) Um Parlamento onde a direita continuará em maioria. A descida significativa dos Populares (em 2009 elegeu 275 deputados, agora rondará os 215) e dos Conservadores (elegeram 56 em 2009, agora descerão para perto de 40) será contrabalançada pela subida da EFD (que passará de 31 para 40 eleitos) e pelas forças de direita dos Não-Inscritos (conjunto heterogéneo que registará a maior subida: dos atuais 32 para mais de 90).
(2) Um Parlamento onde a esquerda e o centro-esquerda registarão uma ligeira subida: dos atuais 287 deputados passarão para perto de 300 (com GUE/NGL e Socialistas a subir e os Verdes a descer). Os Liberais centristas devem ter uma descida acentuada: de 85 para menos de 60. Ou seja: um P.E. mais polarizado, com um centro mais emagrecido, mas onde:
(3) continuará a reinar a Grande Coalisão entre Populares, Socialistas e Liberais. Para quem espera Grandes Mudanças destas eleições… aconselha-se prudência.
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