Há uns quantos anos, íamos de carro a caminho de Lisboa quando nos aproximámos de um grupo que ia em sentido contrário, na direcção de Fátima, em peregrinação.
Nada de mais.
A questão é que o grupo, provavelmente auto-designado grupeta, tinha um ar super bem (leia-se, supébem). Todos vestidos de igual como é normal nestas andanças, tshirt colorida e boné igual, um com uma bandeira na mão, também igual. Iam a cantar, com ar empolgado. Nitidamente iam motivados e, provavelmente, sentiam-se orgulhosos pelo seu feito.
Quando nos cruzámos, vi -- sem grande surpresa -- que o líder do grupo era um bem conhecido meu, católico até dizer chega, daqueles que andam sempre metidos nestas cenas ou a organizar grupos de reflexão, retiros, ou coisas assim. Tenho quase a certeza que pertence à Opus Dei. E é daqueles que ocupam lugares de topo nas empresas sem serem nenhuns craques mas por serem uns fofos, sempre a espalhar o bem e sorrisos, com crucifixo em cima da secretária.
Fiz-lhe adeus e ele respondeu, todo santificado, mas sem ver quem eu era, estava naquela de cantar e de ir feliz a acenar a toda a gente, como se a sua fé e a alegria de a ter devesse ser disponibilizada a quem quisesse deixar-se contagiar.
Não é um dos nomes que figura na capa do livro, mas a mulher lá está. A ela não a conheço pessoalmente. Mas deve ser como todos os outros que conheço e lá estão e como outros que são assim mas que não foram respingados pelo Láparo.
As generalizações são perigosas e eu evito fazê-las. Há lá um, pelo menos um, que é culto, inteligente, espírito aberto. Destoa ali. Não devia ali estar. Mas, tirando esse, do que conheço, de forma geral, os betos beatos são gente pouco culta, gente que não faz ideia do que é a vida, do que é o mundo, gente que não lê. Gente que, para dizer a verdade, em contexto profissional ou mesmo social, não apenas são um bocado limitados como até não são muito de fiar. Mas, com os fracos recursos intelectuais de que dispõem, acham que sabem muito e que são superiores aos outros, em especial aos incréus. Por isso, organizam coisas com forte componente católica para a qual convidam todos, convencidos que vão catequizar os outros mesmo que seja quase à força, olhando de lado para quem não adere, como se nem percebessem o que passa pela cabeça dos que pensam de maneira diferente.
Por isso, se tiverem poder, são até um bocado perigosos.
Pela parte que me toca, sempre me mantive a milhas. Digamos que sempre consegui ter estatuto de excêntrica, de marginal. Não fui convidada nem frequentei alguns inner circles em que estaria inevitavelmente metida caso fosse na cantiga. Mas como esses inner circles sempre me cansaram até à exaustão e, no balanço do deve e haver, sempre achei que o que perdia era muito inferior ao saudável sentimento de liberdade e limpeza de espírito, a minha opção sempre foi a de guardar distância.
Por mim, prefiro ver a peregrinação aqui abaixo. Uma coisa que parodia bem o que são estes betinhos beatinhos.
2 comentários:
Pouca cultura? Uns sim outros não. Já quanto a não fiar neles...é mais seguro. Aos que conheci - e andei por lá - não faltava a velhacaria. Têm uma cara na frente e outra nas costas.
Já que estamos aqui, beato com o nome de Maria sempre na ponta da língua, é forte candidato a gay, encapotado ou não.
Quando quero comédia vou a youtube ver o exorcista Padre Duarte Sousa Lara, filho do outro que proibiu Saramago. O fulano já expulsou 400 e tais demónios de pessoas possessas. É obra. E recomenda que defumemos as nossas casas: o diabo é alérgico, vai logo embora. Mas informa que são precisos muitos anos para expulsar o demónio do corpo de um possesso. É penoso, é uma luta dos diabos! Tem cerca de 20 exorcismos por semana, ou seja, não dá descanso ao diabo. E que dizer de um tal Padre Paulo Ricardo, fanático amicíssimo de Bolsonaro, que pergunta com grande prosápia: «que seria da humanidade se não houvesse padres?» Porra!! Sim, porque sem eles o rebanho está perdido! No inferno, de que fala amiúde, há um sem número de almas a arder eternamente!. Atente-se nesta pérola de Padre P. Ricardo: «Pilotos de caças americanos, ingleses, canadianos, durante a 2ª Guerra Mundial, tentaram bombardear a cidade de San Giovanni Rotondo, e não conseguiam bombardear a cidade porque durante o voo lhes aparecia um monge [Padre Pio] voando que impedia os aviões, e fazia com que as bombas caíssem no meio da floresta. Centenas de milagres atestados por médicos. O padre Pio antes de receber as chagas [estigmas] tinha febre de 48 e 58 graus. Colocavam um termómetro nele e ele estourava os termómetros» (está no youtube). Pura comédia. Prefiro, de longe, Bertrand Russell: «Quem fez Deus? Essa frase extremamente simples me mostrou, como ainda penso, que o argumento da Causa Primordial é uma falácia. Se tudo precisa ter uma causa, então também Deus deve ter uma causa. Se é possível que exista qualquer coisa sem causa, isso tanto pode ser o mundo quanto Deus». Quanto a esses beatos que acompanharam P. Coelho e Ventura, os tais de Deus, Pátria e Família, pergunto: mas nós temos algum conflito com Deus?; por mim podem ficar com ele todo, não quero nem um pedacinho. Patriota sou, gosto do meu país, sem fazer disso um cavalo de batalha! Quanto à Família, temos algum problema com a noção de família? E depois esta gentinha é pró vida, sendo que votam pela prisão perpétua (morte em vida) e gostariam de referendar pena de morte e castração química. Para eles um óvulo, um embrião já são seres humanos! E querem criar o estatuto de dona de casa porque «Há coisas que só as mulheres podem fazer»!Esta gente é docente universitária?! Deixem-nos passar!!
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