quinta-feira, junho 06, 2019

O beijo conjugal
[Conselho contido no Manual de Etiqueta do Vilhena]


Embora de menor interesse e menos praticado do que o beijo entre o patrão e a criada, o ósculo entre a esposa e o marido tem ainda os seus cultivadores. Se é certo que esse hábito está fora de moda, a etiqueta ainda o prevê em certos casos, como nas gares de caminho de ferro e aeroportos, quando o esposo deixa a mulher, temporariamente, para ir fazer uma dessas viagens de negócios com que periodicamente interrompe a mesmice e a chatice conjugal. Nessas alturas o marido beijará a esposa com uma certa afectividade, direi mesmo algum entusiasmo, principalmente se estão pessoas ao pé, pois esse gesto cai muito bem nos circunstantes.

Já alguém escreveu em qualquer parte (creio que fui eu próprio) que o beijo conjugal é como um chewing.gum: quanto mais se mastiga menos sabor tem. Por isso convém fazer certa economia nessa matéria. Após dez anos de matrimónio, os maridos bem educados beijarão as suas mulheres (refiro-me às legítimas, claro) no Natal e na Noite de Ano Bom. Nessa noite, e possivelmente por efeito do álcool, alguns vão mesmo mais longe. Mas isso já é uma delicadeza extra.

1 comentário:

Paulo Batista disse...

Hahahaha. O safado do Vilhena.
Tenho o da Avelina, criada para todo o serviço. Divertido, mordaz e uma crítica social (especialmente das elites) de cariz bem mais realista do que as pessoas pensam (conheço casos).
Faz uns tempos arranjei uns exemplares da gaiola aberta numa feira de velharias. Divertidíssimo!