terça-feira, dezembro 19, 2023

O efeito deste comprimido

Depois de outro grande susto, o dia acabou menos mal. Só que, ao ser confrontada com um telefonema que me pareceu trazer uma má notícia e que me fez decidir ir logo para lá, fiquei de tal maneira que não apenas o meu marido me recomendou como eu própria senti que tinha que ser, tomei um comprimido. Mais propriamente metade. Não mais do que metade tomada por volta das três da tarde.

É certo que passado um bocado estava mais calma e que, lá, aguentei com razoável serenidade as coisas que, afinal, não estavam no ponto dramaticíssimo em que, por telefone, me foi dado a perceber.

Mas depois, no regresso, senti que a coisa estava a começar a bater a sério. Ou porque era a ressaca do mega susto ou porque o verdadeiro efeito do comprimido só se faz sentir umas horas depois, o certo é que só depois de jantar caí naquele estado de torpor quase comatoso do qual não consigo cair.

Lembro-me de ouvir o meu marido dizer que eu devia ir para a cama, lembro-me que o disse indo ele para a cama. Mas não consegui mexer-me ou reagir. Só agora, passa das duas da manhã, consegui abrir os olhos e escrever isto. 

Ainda por cima, tenho que me levantar cedo. Ou seja, não vou consegui dormir até tarde pois mais uma outra dura provação me espera. Aliás, na realidade mais dura, muito mais, para ela que para mim. Mas assistir e acompanhar o sofrimento dela, dá cabo de mim. Salva-me e muito o grande apoio da minha filha que nasceu com a coragem e o savoir faire que a mim me falta para estas coisas. 

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Alice, mil vezes obrigada. Pensava que ia consegui agradecer o mail tão amigo, explicar um pouco do que se passa, e desejar-lhe boa sorte na sua nova vida, mas não consigo, estou anestesiada.

Pode ser que lá mais para o fim da tarde esteja mais calma e com capacidade e vontade para escrever aqui. 

Lamento que continue assim, incapaz de escrever sobre temas interessantes ou animados. Não sei da actualidade nem tenho inspiração para puxar assunto.

Estes comprimidos são do caraças, lá isso, são. O Nuno bem me avisou, dizendo-me, por mail, que fuja das benzodiazepinas. Se meio comprimido me deixa assim, faria se eu passasse dessa conta... Ficaria de cama, sem me mexer de todo. Bolas. 

2 comentários:

Anónimo disse...

É a vida a acontecer e seguir o seu rumo...
Por mais que se tente, não há distancionamento emocional para não sofrer com a deterioração da saúde fisica ou mental dos pais. Neste caso de sua mãe.
Além da medicaçáo (se necessária) há que aprender a fazer esse desligar de vez em quando.
Sem culpa.
Se necessário com ajuda.
Não é justo estar a sofrer tanto por algo que não pode mudar.
Consciência tranquila de que fez e estão a fazer tudo o que é possivel.
Que isso não a impeça de viver o melhor poSsível esta fase da sua vida de reformada.
A vida passa rápido e não se repete.
Mena

Anónimo disse...

Passei 10 anos, dos 54 aos 64 anos, a tratar dos meus pais. Os primeiros dois, a cuidar do meu pai que fracturou o colo do fémur e acabou por falecer antes de completar 91 anos.
Logo de seguida, foram 8 anos a tratar da minha mãe, que entretanto devido a problemas ósseos deixou de andar. Faleceu com 92 anos. Felizmente, ambos não sofreram de demência. Férias? Nem um dia. Estive 10 ANOS sem ver o MAR...e o mesmo fica a uma distância de 40 Km. Perdi alguma coisa? Não, dei e recebi muito carinho. Já passaram sete anos e ainda caminho com eles ao meu lado.