Sabia que o dia não ia ser fácil. Mas como agora sempre acontece, foi ainda pior.
Eu sei que tenho que relativizar e encarar as coisas -- seja qual for a forma com que se apresentam -- com a naturalidade de que elas, em boa verdade, se revestem. Eu sei. Eu sei e esforço-me a não esquecê-lo.
Sei que deve ser difícil para quem me conhece, quer por aqui, quer até ao vivo, compreender como, sendo como sou, me tenho ido tão abaixo. No caso da minha família mais próxima, ao acompanharem todo o percurso, percebem um pouco mas não estão habituados a verem-me tão longe do lado racional que, em mim, costuma ser o prevalecente.
Esse meu lado, o que ainda existe dele, atribui o meu estado ao facto de estar a acontecer em cima de um período prolongado e difícil, desde o declínio lento e difícil do meu pai que culminou na sua morte até, a seguir, o que tem vindo a acontecer com a minha mãe.
Neste último caso, no que se refere aos tempos mais recentes (último ano e meio, talvez), um dia explicarei e talvez compreendam como, depois de um tão longo período de angústia e impotência por não conseguir perceber o rumo incompreensível e descendente, se têm vindo a suceder, agora, em catadupa, muitas surpresas (e todas tão complexas) que têm trazido consigo uma inesperada e rápida evolução --- e como isso mal me deixa respirar.
No outro dia a minha filha recebeu um relatório e disse que achava que eu não deveria lê-lo, que não valia a pena, que só ia atormentar-me mais. Concordei. Já sabia mais ou menos o que continha pelo que pensei que saber pormenores só iria preocupar-me ainda mais. É que eu tenho uma característica inata, involuntária, genética, a que dei largas ao longo de toda a minha vida: de cada vez que sei de um problema, eu investigo, estudo à minúcia, tento saber tudo o que há para saber e, com os dados na mão, de imediato parto para a solução. E, desta vez, não tenho soluções para nada. E, de cada vez que penso que já estou a ver o 'filme' todo, logo aparecem mais novidades. Por isso, achei bem não ler aquele relatório. Não ia servir de nada, só preocupar-me ainda mais.
Pois, imaginem que agora, ao ligar o computador, vou ver o meu mail e vejo um relatório emitido por aquele hospital. Não estava à espera de receber nenhum relatório. Fui ver, julgando que era engano. Não era. Em tempos devo ter deixado o meu mail para receber por correio os exames dela. E cá está, na minha caixa de correio, o dito relatório. E, na realidade, mais novidades. Eram os dados adicionais a que a minha filha tinha querido poupar-me. Sendo leiga, muitas coisas não percebo. Pensei que deveria ficar apenas na intuição em relação ao que não percebia. Mas é mais forte que eu. Já estive a investigar. Não devia tê-lo feito. Já fui tomar mais metade de um ansiolítico pois sei que se não o fizesse não iria dormir, iria ter horríveis pesadelos.
Sei que é aborrecido falar sem ser explícita. Para quem me lê deve ser uma chatice, devem pensar que se não quero ser clara mais vale que fique calada. Mas não é fácil. Parece que tenho necessidade de falar mas o sentimento e a reserva impedem-me de ser explícita. Há coisas que não se explicam e esta deve ser uma delas. Mais tarde, talvez o faça. Há sempre, da minha parte, a preocupação de que o que escrevo sirva para alguma coisa: seja louvando as boas práticas alheias seja chamando a atenção para os malefícios das más práticas. Podem ser alertas, conselhos úteis.
Mas agora estou a viver o momento, não consigo nem quero ser mais clara.
Agradeço do fundo do coração os comentários e os mails amigos. A vossa simpatia tem sido importante para mim.
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