quarta-feira, novembro 08, 2017

Caneco, quem me dera o extraordinário mundo de Manu Topic...




Não posso continuar a maçar-vos com as minhas tretas. Já cansa. Até a mim me cansa. 

Depois, toda a gente passa por maçadas e o mundo não é perfeito para ninguém. Professores, médicos, juristas, lojistas, trabalhadores em casa, enfermeiros, cabeleireiras, investigadores, canalizadores, etc, -- não me parece que alguma profissão, seja ela qual for, seja isenta de momentos insuportáveis.

Por isso os meus problemas não são nem mais nem menos do que os de toda a gente. O que se calhar já difere um bocadinho prende-se com a minha impaciência que acredito que, grande parte das outras pessoas, aguente estoicamente e com devoto sentido de dever. A mim acontece-me, por vezes, estar a viver uma valente seca e dar por mim a pensar aquilo que a mãe do meu amigo dizia: 'Já não tenho idade nem posição social para aturar isto'. Mas a verdade é que continuo a aturar. Que remédio. Mas com que sacrifício. E, acredito, com que má cara...

Uma coisa que detecto agora mais do que há uns anos é a existência de malucos. Dantes eram uma raridade. Quando comecei a trabalhar, toda a gente falava de um certo doutor que, de tão perturbado, se apresentava nu. Só com meias e sapatos. Por duas vezes foi pôr-se no telhado, naqueles preparos, a ameaçar que se ia atirar. Durante anos ouvi falar desse exemplar. Era o único maluco. Agora não. Não há sítio onde não haja um maluco. E há lugares em que se concentram vários. Lidar com um maluco não é fácil. Imagine-se agora se os há aos magotes. Para onde a gente se vire dá com um. Ou, se não é maluco, é perturbado. Ou excitado ou instável ou agressivo ou estúpido. Ou simplesmente burro. Uma coisa inimaginável.


É que, às tantas, nem apetece rebater, ensinar, convencer, pois, cá para mim, enquanto outros se envolvem em longas e inúteis conversas, eu penso que é escusado, devia era pirar-me dali, ir passear, apanhar sol ou, mesmo, marimbar-me para a minha dieta, ir para alguma esplanada e pedir um pastel de nata quentinho e um café. 
Caneco. Há quanto tempo não faço uma destas. Só como alguma coisa doce para aí uma vez por semana -- ou uma sobremesa num restaurante ou um gelado da Avenida de Roma. De resto, nada de doces. 
Mas, caraças, quando estou pelos cabelos só me apetece apanhar ar e ir comer uma guloseima à maneira.

Agora por isso: hoje, quando estava a chegar, disse que ia a casa pôr comida no forno e que íamos caminhar enquanto aquilo ficava a cozinhar. O meu marido disse que não, que não subisse, que nos encontrávamos na rua e, na volta, comprávamos um frango assado. E assim foi. Quando estava à espera que o franguinho ficasse bom, pus-me a cirandar pela churrascaria e vi uma espécie de pão escuro, espalmado, húmido. Redondo, baixinho, para aí com 10 cm de diâmetro. Estava embalado, como se embalado em vácuo. Tinha uma legenda em francês e vi que tinha nozes e que dizia que era bom com queijo. Carente de coisas deste género, pensei: como um niquinho de nada por dia. E, assim sendo, peguei naquilo e disse à dona que ia levar. Nem perguntei o preço. Pensei que era coisa tipo broa. Quando a senhora disse o preço, 3,70€, engoli em seco. Só por estar ao lado do meu marido é que não o deixei lá ficar, dizendo que era muito caro, um balúrdio sem explicação, uma bolacha espalmada quase quatro euros?! Mas como inconscientemente pensei que ele me iria fuzilar se fizesse um número desses, fiquei calada. Mas vim na rua a pregar, furiosa comigo mesma. Pensei que agora tinha que fazer render a bolacha, uma trinca ínfima por dia. O meu marido ria-se, que deixasse eu de ser parva.


Pois bem. Depois da minha sopinha de beterraba, abóbora, courgette, cebola, chuchu e outros legumes, depois do franguinho assado acompanhado com uma salada de maçã bravo de esmolfe, alface e tomate cherry, e depois de um suculentíssimo dióspiro, lá tirei um bocadinho da coisa. Húmida. Deliciosa. Mas nem broa nem bolacha. Um compacto de tâmara com bocadinhos de nozes. Vale cada cêntimo. Tão bom, tão bom. Nem vi as calorias para não me toldar o prazer. 

Bem.

A que propósito vinha esta bavardage toda?

Ah, sim, bem sei. A minha vontade de, volta e meia, bater a porta e procurar a natureza, adentrar-me por uma qualquer montanha, maravilhar-me pela margem dos rios, construir ma casinha numa árvore, levar tesouros para a minha gruta... coisas assim.


Olhem, por exemplo, tentar as proezas de Manu Topic, que esse, sim, a sabe levar direitinha (refiro-me à vida, claro).

Que encantamento.... Vejam bem. Um despropósito de maravilha.
Watch stone artist Manu Topic's balancing act in the French Pyrenees’ L’Arros river. Gathering rocks from the stream, he stacks them carefully to create remarkable gravity-defying sculptures.  Filmmaker Patrick Foch documents this artistic process as it unfolds in his aptly titled short film, Equilibrium.
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As fotografias que usei são algumas das melhores fotografias britânicas sobre vida selvagem  e vi-as no The Guardian.

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E a ver se ainda consigo manter-me acordada (que isto hoje, para variar, está mesmo mal) para escrever mais um capítulo do meu folhetim.

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